Colegas
O poder centralizado coexiste
mal com a existência de um senado livre, ecléctico e
interventivo. Lembro que os senados procuram, em teoria,
replicar a reunião de competências numa assembleia de pares,
livres de tutela, experientes, isentos, que na Roma Antiga se reuniam
para tratar da Res Publica, constituindo em certo período
histórico o mais alto fórum da magistratura romana. Diversos
estados modernos (e instituições) têm criado os seus senados à
imagem do senatus
original, por considerarem que a grandeza de Roma muito ficou a dever
aos pergaminhos dos senadores e à sua participação no tratamento
dos assuntos públicos.
A pressão do poder imperial
exercida sobre os senadores resultou no exílio ou na eliminação
dos seus elementos menos conformados. O senado foi perdendo
importância à medida que os interesses do poder imperial e o
parecer dos senadores chocavam entre si. Docilizado, sobreviveu (no
império romano do oriente) pelo menos até ao século XIII, mas
tornou-se irrelevante para a condução da política bizantina.
Bizantinices!
Em função do eco que não
tenho ouvido dos conselhos dos senadores, atrevo-me a considerar que,
apesar dos eventuais esforços de alguns, o actual Senado
Universitário tem, para a academia, uma importância mais próxima
do da que ostentava, no seu fim, o senado bizantino.
Colegas, o poder sem
contestação pode parecer eficaz, quando acerta. Quando erra
não deixa margem de reparação, e erra com frequência porque
rapidamente fica sem os sensores de realidade que as opiniões
livremente expendidas constituem, embora eventualmente divergentes e
incómodas!
A
autonomia não se pede, conquista-se. Deriva da decisão pessoal, da
expressão da vontade, da assunção de objectivos próprios e da
aceitação consciente dos incómodos e sacrifícios que
frequentemente acarreta. Escolher senadores não-alinhados com o
poder em funções é a atitude consequente, correcta, imperativa
mesmo. É a forma possível de temperar a visão das estruturas
executivas, enviesadas pelo exercício do poder, e crescentemente
afastadas da realidade envolvente.
Senão vejamos:
Portugal
tem falta de quadros superiores em número e qualidade suficiente
para ter uma sociedade civil independente dos poderes fácticos, quer
locais, quer nacionais ou mesmo comunitários: muitas vezes ouve
calada o que não gosta porque teme decisões adversas dos diversos
poderes a que responde.
É
mais gritante ainda a falta de quadros capazes de preencher, com
competências adequadas, os escalões subalternos das empresas e
organizações que constituem a força produtiva. Sem soldados resta
aos oficiais exercer funções dos escalões inferiores, ou procurar
outro exército para exercitar as suas competências. Não cabe
também à universidade dissecar esta realidade e propor soluções?
E o Senado debruça-se sobre estas minudências de que depende a
qualidade do emprego da parte de leão dos quadros formados na
UMinho? E o desempenho de funções subalternas não é uma forma de
subocupação, um desperdício de recursos que que deve merecer uma
análise dos académicos?
Como é possível demorar uma
semana obter autorização para adquirir um componente, que depois o
fornecedor, sedeado muitas vezes no estrangeiro, consegue colocar no
Laboratório da UM no dia seguinte à chegada da autorização? Qual
é o custo da perda de oportunidade de realizar a
experiência/demonstração em tempo oportuno? A quem beneficia o
estado a que isto chegou?
Como pode a hierarquia conviver,
sem um estremeção de consciência, com um sistema que dificulta em
extremo, impedindo na prática corrente, aquisições entre Novembro
e Março? Há algo de profundamente errado com um sistema em que a
competência dos serviços de apoio é entravar! Manter a instituição
a funcionar significa mesmo, muitas vezes, agir apesar
da burocracia.
Qual é a posição da
Universidade do Minho? O que tem a dizer o Senado? Que Senado
desejamos ter?
Por mim,
que sempre procurei exprimir opiniões com frontalidade, com
veemência mesmo, com a lealdade e sem buscar outro reconhecimento
que a consciência de cumprir o meu dever, aceitei participar como
candidato suplente ao Senado Académico nas próximas eleições, dia
26 de Maio, pela
LISTA C.
António Caetano Monteiro
Sem comentários:
Enviar um comentário