quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Ventos de mudança para os professores da UM

Tal como há 30 anos atrás, 1978, a Universidade do Minho está em mudança. Na altura, os Estatutos da Carreira Docente estavam a ser elaborados e a orgânica da UM estava a ser delineada e implementada. Lembro-me de integrar um conjunto de colegas que foram a Aveiro discutir os Estatutos. Lembro-me também de liderar juntamente com o colega Manuel Pereira dos Santos um movimento de Assistentes que exigiam a sua integração no então Conselho Pedagógico da UM. Cheguei a levar 50 assinaturas dos Assistentes (na altura eram quase todos) em mão ao então Reitor da UM, Lloyd Braga. Não serviu de muito, uma vez que a petição "perdeu-se" e tudo continuou na mesma.
Talvez alguns desses colegas que integraram a lista na altura, agora já Professores Associados e Catedráticos na maioria, se lembrem desses tempos e se revejam na luta que se segue: por um modelo de Universidade mais justo e por uma hierarquia mais consciente dos problemas com que se deparam os membros da Universidade mais novos e das justas aspirações de muitos desses colegas. Nem todos aspiram a participar na gestão da "coisa pública", mas é necessário dar-lhes essa possibilidade. A governação não pode ser só de alguns como tem sido nos últimos anos, mas deve ser participada pelo maior número possível de membros da Academia: docentes, estudantes e funcionários.
Infelizmente os Estatutos da UM já foram feitos para tentar perpetuar a oligarquia que tem gerido a UM nos últimos anos. Já me pronunciei noutra ocasião sobre o facto dos funcionários terem sido reduzidos ao mínimo nos vários órgãos da UM. Este facto não deve ser alheio aos resultados de eleições ocorridas para a Assembleia e para o Senado, em que a lista dos funcionários não alinhados com a reitoria teve uma vitória esmagadora sobre os outros claramente alinhados com a reitoria. Por outro lado, os estudantes são representados nos vários órgãos pela Associação dos Estudantes e não por eleição directa o que se presta a várias interpretações, uma vez que esta forma de representação não foi explicada.
Porque não a eleição directa tal como acontece para os professores e investigadores? É óbvio que a Associação é corporativista e pensa mais nas vantagens que pode tirar de uma hierarquia já implantada nos vários serviços que lhes interessam, nomeadamente os SASUM e outros com quem lidam directamente, do que propriamente em propostas de elementos recém-chegados ao Conselho Geral, por exemplo, que não dão garantias de servir os seus interesses ainda na vigência do seu mandato.
Infelizmente temos que ser realistas e admitir que não há garantias dos estudantes pensarem em valores que são talvez os mesmos de membros de outras listas, embora haja sempre excepções, mas em quem está melhor situado para os apoiar nos próximos tempos. Não será um problema da actual Associação mas de todas ou quase todas, as que lhe antecederam também. A Associação quer mostrar serviço aos seus associados, e não estará muito preocupada em questões mais relacionadas com o ensino e a investigação e muito menos com a ligação da Universidade à "sociedade civil" e ao meio industrial. Será isto menosprezar a actuação da Associação? Infelizmente, muitos anos de constatação do que foi a sua actuação na UM levam muitos de nós professores a pensar desta forma.
Assim, conclui-se que só podemos contar connosco: os professores e investigadores, uma vez que a reduzida representação dos funcionários e o corporativismo dos estudantes pode mais uma vez garantir a maioria à lista afecta ao reitor nos novos órgão da UM, nomeadamente no Conselho Geral, tal como garantiu na Assembleia Estatutária, mesmo tendo perdido para a lista de professores que se lhe opôs. Por isso é importante que todos aqueles que não concordem com o estado actual das coisas votem, uma vez que do outro lado estarão todos instruídos para o fazer.

Jaime Rocha Gomes

5 nomes em 24 de uma lista para o Conselho Geral

Enunciam-se de seguida, por ordem alfabética, 5 dos 24 nomes que vão integrar a lista a candidar ao Conselho Geral sob a sigla que dá nome a este blogue e dos princípios programáticos que se deduzem dos textos constantes do fórum a que aqui se dá corpo:
- António Cândido Oliveira
- Jaime Isidoro Naylor Rocha Gomes
- José António Cadima Ribeiro
- José Manuel Pereira Vieira
- Maria Eduarda Ferreira Coquet
Os demais nomes ficarão disponíveis dentro de muito poucos dias, que o tempo urge.

UM-novos desafios

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Espaços e Lugares para Aprendizagem, Inovação e Transferência de Conhecimento: um comentário

Caro Professor José Vieira
o seu texto agradou-me muito, nomeadamente por sentir muito a falta de espaços versáteis que me permitam criar um ambiente menos formal nos workshops que promovo abertos à comunidade, e onde tenho tido público muito variável; para algumas pessoas é a primeira vez que estão na universidade e o espaço formal amedronta-as.
É claro que a dimensão ecológica está na ordem do dia e é pena que não a tenha desenvolvido mais. Eis algumas coisas que me preocupam, embora seja uma ignorante quanto ao assunto: a escola do IE recebe imensa luz mas nem assim se exigiu uns painéis solares.
No que respeita à ECS, nem é bom falar: os gabinetes só tem um interruptor a funcionar, ainda que os gabinetes sejam todos não individuais e haja pelo menos dois interruptores em cada gabinete. Um amigo meu de saúde pública explicou que os empreiteiros poupam muito fio com este sistema. Ainda quanto à luz, não é possível iluminar apenas uma sala, dado que a instalação actua sobre blocos inteiros. A ECS é bonita mas não funciona, gelada e com umas cores impossíveis de manter limpa e quente, simultaneamente: chão preto e paredes brancas. Embora exposta ao sol no cimo do monte, não se instalou energia solar. Por detrás da escola costuma haver um monte enorme de lixo.
Penso que seria também muito importante fazer-se uma avaliação EXTERNA aos laboratórios de investigação de tipo laboratoriais em toda a UM pois não me admirava que houvesse problemas sérios ambientais.
Abraço.

Clara Costa Oliveira

Universidade do Futuro: Espaços e Lugares para Aprendizagem, Inovação e Transferência de Conhecimento

As complexas mudanças e desafios que se colocam à sociedade actual com impactos visíveis mas ainda não totalmente absorvidos, como, por exemplo, o ritmo exponencial da evolução da ciência e da tecnologia, as tecnologias da informação e comunicação, a internacionalização e a globalização implicam novas exigências na arquitectura de espaços e lugares e na configuração dos ambientes de trabalho no campus universitário. Cada vez mais, a sustentabilidade e o respeito pelos ecossistemas se impõem como factores determinantes para o sucesso do ensino e da investigação pois contribuem decisivamente para que as pessoas se sintam mais motivadas, mais realizadas e mais felizes.

Antecipam-se para a Universidade do futuro mudanças fundamentais para as quais devem ser dadas respostas adequadas e em tempo útil, sob o risco de se comprometer o seu próprio desenvolvimento, nomeadamente: (i) demográficas (declínio demográfico; mais alunos em tempo parcial; maior pressão sobre a formação pós-graduada; aumento do número de estudantes estrangeiros; aumento do número de mulheres estudantes); (ii) tecnológicas (renovação da importância das bibliotecas, jornais e revistas na investigação; a importância crescente do e-learning; a aprendizagem em pequenos grupos e em espaços informais); (iii) internacionalização (a implementação do processo de Bolonha constitui um desafio à formação, cria exigências novas de competitividade e incentiva a cooperação inter-universitária). Neste contexto, a questão dos espaços e das instalações universitárias assume relevância especial.

A necessidade de implementar formas diferentes de ensino, com a crescente importância do ensino tutorial, o acolhimento de novos públicos e novos projectos de ensino implica a disponibilidade de espaços lectivos versáteis, polivalentes e flexíveis, o que requer abertura para a alteração, transformação e adaptação de espaços existentes. A existência de espaços que motivem prestígio internacional e a disponibilidade de infra-estruturas de acolhimento de estudantes estrangeiros pode constituir, neste contexto, aspecto diferenciador de atractividade.

A comunidade académica distingue-se por conter, dentro de si própria, a essência da abertura ao conhecimento e a criatividade. Um campus inovador deve proporcionar os melhores serviços, grande satisfação social e espaços de lazer, de forma a potenciar um trabalho interactivo de equipas de estudantes e investigadores e banalizar a formação de equipas mistas com a comunidade e as empresas. Esta visão pode ser também determinante para o sucesso na grande competição que começa a verificar-se na atracção de financiamentos, investigadores e novos talentos.

Com o aproveitamento dos meios tecnológicos disponíveis é possível desenhar um campus ambientalmente sustentável baseado em princípios modernos de racionalização de custos, onde os espaços simples e combinados, criados em ambientes naturais com a presença de água, permitam usufruir do convívio com a natureza.

O nível ecológico de um campus deve ser um elemento fundamental de análise ao desempenho dos seus espaços e lugares. As suas ligações à cidade, a criação de praças e a sustentabilidade dos edifícios (consumo de energia para aquecimento e iluminação, nível de CO2, uso de energia solar, nível de reciclagem e reutilização de água, aplicação de soluções bioclimáticas em telhados e fachadas) constituem peças fundamentais para garantir um modelo de harmonia espacial e de sensibilidade relativamente à natureza.

Desta forma, para além do papel na formação, investigação e transferência de conhecimento, a Universidade comporta-se, também, como agente de desenvolvimento sustentável, contribuindo para o aumento da competitividade global da sociedade.

José M. P. Vieira

sábado, 20 de dezembro de 2008

Desafio superior: a Responsabilidade Social

Este texto assenta em dois pressuspostos: o mais importante capital de um país é a formação científica, técnica e moral dos seus cidadãos; o sucesso de um país decide-se nas suas organizações formadoras. Com base nestes pressupostos, se lança a pergunta: o que faz a universidade pela competitividade do nosso país? A sua resposta, acredito, inspira e inspirará os líderes deste movimento.

As definições de Responsabilidade Social (RS) são tendencialmente muito vagas e ambíguas, dificultando a operacionalização do conceito e a classificação da realidade em categorias pela teoria viabilizadas. Proponho esta definição como aceitável: actuação orientada e comprometida para valorização do que é directamente importante para a sociedade. A actuação orientada implica politicas e objectivos. O comprometimento implica inclusão na missão e na axiologia organizacional. Ou seja, a RS implica politicas e valores para disponibilizar à sociedade o que ela necessita. Nestes termos, qual pode ser a RS de uma universidade? Proponho resposta organizada em três campos - a formação de cidadãos excelentes, o desenvolvimento da excelência organizacional e a libertação da criatividade pessoal e organizacional.

a) Criação de cidadãos para sociedade de excelência
A formação, incluindo ensino-aprendizagem-avaliação, favorece este ideal social e imperativo nacional? Quais são os valores adoptados e partilhados que orientam a conduta formativa? De que modo os agentes educacionais os actualizam na sua conduta diária? Os processos formativos e avaliativos exploram as sinergias da educação, científica e moral? Qual o ideal de cidadão a construir na universidade através dos seus diferentes projectos educativos? Onde se vislumbra, em que documentos e práticas estruturadas, a relação entre esse ideal e a identidade da universidade?

b) Valorização da excelência das organizações
A competitividade de um país depende da competividade das organizações, bem o sabemos desde que Porter formulou esta relação. E que a competitividade das organizações depende da competitvidade dos seus cidadãos organizacionais, também parece claro. Mas, qual é a função da universidade na estimulação do desenvolvimento das organizações? Tem a universidade uma politica estimuladora de intervenção no ambiente organizacional e de desenvolvimento das organizações que nele operam? Existe alguma relação entre essa politica e os requisitos da progressão na carreira docente, de modo a estimular desejável intercâmbio?

c) Libertação da capacidade criativa
A universidade beneficia da elevada especialização do seu corpo docente e da progressiva melhoria do seu pessoal de apoio adminsitrativo e técnico, cada vez mais valorizado em processos de formação contínua e acreditação de competências. Contudo, por que parece tão pouco capaz de ajustar os seus processos formativos e administrativos às exigências sociais e económicas actuais, à conformidade da gestão excelente? Por que parece tão rara a melhoria contínua das suas práticas, traduzidas em não conformidades e defeitos impressos em tantos procedimentos que diariamente vivenciamos? Por que ocorre adiamento quase generalizado e não anunciado da aplicação dos promissores princípios de Bolonha à formação?

É preciso adoptar politica de Responsabilidade Social e fazer dela promessa que a todos compromete na realização da universidade e do país. Porque o futuro sempre chega, silencioso e implacável.

Ivo Domingues

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Implementação dos Estatutos - processos eleitorais

«À Comunidade Académica,
Foram hoje incluídos na página da Universidade do Minho os documentos abaixo listados, relativos aos processos eleitorais para implementação dos Estatutos, para os quais se solicita a maior divulgação.
O período de afixação dos Cadernos Eleitorais Provisórios para o Conselho Geral e para as Assembleias Estatutárias decorre até 7 de Janeiro de 2009, tendo os mesmos sido disponibilizados a 18 de Dezembro de 2008. O prazo formal de reclamação sobre os Cadernos Eleitorais Provisórios decorre a partir de 7 de Janeiro.
1- Edital – Despacho RT-136/2008

2- Conselho Geral
a. Comissão Eleitoral – Despacho RT-134/2008
b. Regulamento Eleitoral
c. Calendário Eleitoral
d. Cadernos Eleitorais (Provisórios)
- Docentes e Investigadores
- Trabalhadores não docentes e não investigadores
- Estudantes

3- Assembleias Estatutárias
a. Regulamento Eleitoral
b. Calendário Eleitoral
c. Escolas
[...]

4- Senado Académico
a. Regulamento Eleitoral
b. Calendário Eleitoral


O Reitor,
A. Guimarães Rodrigues
___________________
Gabinete do Reitor
Universidade do Minho
Telef. 253 601106
Telef2: 253 601150
Fax: 253612248
sec-agr@reitoria.uminho.pt
carolina@reitoria.uminho.pt»
*
(reprodução parcial de mensagem distribuida hoje na rede de correio electrónico da UMinho, publicitando os processos eleitorais identificados; proveniência identificada)

domingo, 14 de dezembro de 2008

As Eleições para o Conselho Geral da UM: em defesa de um processo eleitoral justo

No passado dia 5 de Dezembro foram publicados em Diário da República os novos Estatutos da UM, conforme a informação do Gabinete do Reitor, nesse mesmo dia, a toda a Academia. A partir daí desencadeiam-se os processos conducentes à eleição dos novos órgãos da UM, designadamente do Conselho Geral.

Este novo órgão colegial reveste-se de uma importância fundamental no futuro, sendo dotado das competências, entre outras, de eleger o Reitor, de apreciar a acção do Reitor, bem como do Conselho de Gestão e tomar iniciativas com vista ao bom funcionamento da Universidade. Impõe-se pois que as eleições para o Conselho Geral decorram de forma absolutamente transparente e em conformidade com os princípios da participação democrática e do pluralismo de opiniões e de orientações, nos termos do artigo 3.º dos Estatutos da Universidade do Minho.

Ora, o Projecto de Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, divulgado pela Reitoria da Universidade do Minho no passado dia 5/12/08, a ser apreciado em reunião do Senado no dia 15/12/08, suscita-nos sérias reservas quanto à garantia dos princípios enunciados.

1. O artigo 7.º, n.º 1, do Projecto de Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral determina que as listas respeitantes aos professores e investigadores devem conter “a identificação de doze candidatos efectivos e de doze suplentes, subscritas [propostas] por um mínimo de 40 [50/60] membros do respectivo corpo eleitoral”. Significa isto que a viabilização de uma candidatura pressupõe a necessidade de 64 professores.

1.1. Afigura-se-nos manifestamente desproporcionado o requisito de que o número de candidatos suplentes seja igual ao número de candidatos efectivos (doze). Atente-se no facto de que nas eleições para um órgão de soberania - a Assembleia da República -, prevê-se que o número de candidatos suplentes em cada círculo eleitoral não seja inferior a dois nem superior a cinco (cfr. artigo 15.º da Lei Eleitoral da Assembleia da República). Note-se ainda que, nas eleições para os órgãos das autarquias locais, se prevê que o número de candidatos suplentes seja igual a um terço do número de candidatos efectivos (cfr. artigo 23.º da Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais).

Perante o exposto, os signatários entendem que não há nenhuma razão plausível que sustente a necessidade de 12 candidatos suplentes, sendo doze os candidatos efectivos. É nossa convicção de que o Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, para ser um regulamento eleitoral justo, deve determinar que o número de candidatos suplentes requeridos para a apresentação de uma lista seja de um terço ou – quando muito – de metade do número de candidatos efectivos.

1.2. É também manifestamente desproporcionado o requisito de que o número de subscritores ou de proponentes de cada lista seja de quarenta – deixando-se em aberto a possibilidade de que seja de cinquenta ou de sessenta (!). A este propósito lembramos que na mais recente eleição para a Assembleia Estatutária da UM, as duas listas candidatas apresentaram-se a eleições sem quaisquer proponentes, o que torna mais incompreensível que se pretenda agora regulamentar um número de proponentes tão elevado.

Os signatários exprimem a sua convicção de que o Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral, não deve fixar um número mínimo de proponentes ou de subscritores para cada lista, de forma a salvaguardar o princípio do pluralismo de opiniões e de orientações.

2. O artigo 17.º, n.º 3, do Projecto de Regulamento Eleitoral dispõe que “[h] havendo divergência entre o número de votantes e o número dos boletins de voto, prevalecerá, para efeitos de apuramento, o segundo”. Os signatários consideram estranho que se admita um cenário em que o número de votantes não seja igual ao número de boletins de voto entrados nas urnas.

Independentemente de quais sejam as suas opiniões ou orientações, todos concordarão que um Regulamento Eleitoral não pode conter uma regra de teor semelhante ao do art. 17.º, n.º 3. Os signatários propõem que a regra em causa seja, pura e simplesmente, suprimida.

3. As reservas dos signatários quanto à justiça do Regulamento Eleitoral para o Conselho Geral são extensíveis aos Regulamentos Eleitorais para as Assembleias Estatutárias das Escolas, devendo sublinhar-se que, a aplicarem-se as regras propostas, haverá Escolas em que será de todo inviável a constituição de duas listas.

Braga e Guimarães, Universidade do Minho, 11 de Dezembro de 2008

Subscrevem os professores:

Fernando António Portela Sousa Castro
José António Cadima Ribeiro
José Manuel Pereira Vieira
Maria Eduarda Ferreira Coquet
Nuno Manuel Pinto Oliveira
*

A Responsabilização dos Órgãos de Gestão Intermédios

A maior parte de nós, docentes da Universidade do Minho, interroga-se sobre a razão pela qual o órgão de gestão máxima da universidade permite determinadas situações que consideramos menos dignificadoras do bom nome, ou do funcionamento, da instituição.
Muitos de nós exerce, ou já exerceu, cargos de gestão intermédios (por exemplo, direcções de departamentos, direcções de cursos, presidências de escolas e de conselhos de cursos, direcções de centros de investigação, conselhos científicos, etc) e devíamos, quando fazemos esse tipo de interrogação face ao órgão máximo da universidade, fazer aquilo que nos é recomendado nos Evangelhos cristãos: eliminar a trave dos nossos olhos antes de apontar para o argueiro de pó nos olhos dos outros!
Assumir um cargo de gestão implica não só actividade técnica e burocrática mas também postura ética. Os órgãos de gestão possuem competências, entre outras, de regulação de outros órgãos e isso, infelizmente, é muitas vezes descurado.
Imersos no imenso trabalho burocrático a que estamos sujeitos, raramente um conselho científico, por exemplo, avalia seriamente situações que foram aprovadas num departamento, ainda que com bastantes votos contra. Aliás, ainda que tenha sido aprovada por unanimidade cabe ao conselho científico a decisão final (caso não, o assunto não teria que passar neste órgão) sobre o mesmo e tal deve ser feito com responsabilidade, ainda que tal possa significar ir contra a decisão expressa pelo órgão que lhe é hierarquicamente inferior. No entanto, se o assunto foi aprovado no órgão inferior, segue-se a aprovação automática no conselho científico.
Este funcionamento institucional está na base de muitas situações das quais usualmente nos queixamos: serviço docente mal distribuído, duplicação de cursos (de graduação e de pós-graduação) com nomes diferentes, fenómenos de ostracização individual de colegas dentro de departamentos, etc. Tudo em nome do sossego institucional.
O processo é de tal modo kafkiano que não é invulgar o fenómeno de ‘blaming the victim’ com conselhos científicos (mantendo-me no exemplo mencionado) a acusar os departamentos de determinadas decisões (sancionadas pelos conselhos científicos) e que prejudicam o funcionamento dos departamentos e, logo, o da Escola.
Se consideramos que este deve ser o funcionamento dos órgãos, então eles são inúteis e devem deixar de existir, restringindo-se ao menor número possível.
Seria bom que o órgão máximo servisse de facto de órgão de recurso final para situações em que grupos de docentes e/ou docentes individuais consideram que a posição da maioria dos órgãos nem sempre é o melhor para o funcionamento da universidade. Talvez fosse boa ideia haver alguém responsável na reitoria pela comunicação com os docentes, pois as maiorias podem actuar perversamente por interesses de poder específicos e não tendo em conta o bem da universidade.
Braga, 20 de Novembro de 2008

Clara Costa Oliveira

O que é uma Universidade?

Em qualquer dicionário da língua portuguesa (desde os dicionários clássicos, como o da Academia de Ciências de Lisboa, aos dicionários on-line, como o da Priberam), a palavra “universidade” vem associada à palavra latina “universitate” e tem como primeiro significado “universalidade”.
Universalidade significa, por sua vez, “conjunto de elementos considerados no seu todo”. O todo pressupõe a existência de elos ou laços entre os elementos. Só assim o valor do todo é superior ao resultado da mera soma dos seus elementos, só assim ele adquire – como se costuma dizer – um “valor de agregação”.
Estes elos ou laços (internos) impõem a cada um dos membros da comunidade universitária, em primeiro lugar, o dever de agir com respeito e lealdade para com os demais.
Além deles, a Universidade pode criar outros laços (externos) com outros conjuntos ou elementos da comunidade exterior. E actualmente até existe um instrumento privilegiado: o contrato de consórcio, previsto no art. 17.º do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior. Através dele é possível criar interfaces entre a Universidade e outras instituições públicas ou privadas de investigação e desenvolvimento para efeitos de coordenação de oferta formativa e dos recursos humanos e materiais.
Evidentemente, a interacção com a comunidade exterior (global ou local) traz muitos benefícios para Universidade. Entre outras coisas, permite-lhe gerar receitas próprias. Na realidade, porém, está em causa o dever de agir em função da comunidade.
Como qualquer organização, a Universidade está constituída em responsabilidade social. Esta responsabilidade não deve ser entendida em sentido técnico-jurídico, no sentido da responsabilidade civil (patrimonial), aplicável apenas quando estão reunidos determinados pressupostos e desempenhando uma função reparadora de danos. Deve ser entendida num sentido muito mais amplo – porque não depende de outro requisito senão da existência de uma organização que utiliza recursos para levar a cabo a sua actividade – e simultaneamente positivo – na medida em que não é um instituto vocacionado para a resolução dos litígios em que participa a organização e sim um elemento integrante da sua actividade normal, um elemento essencial da – e para a – coexistência pacífica e produtiva da organização e da comunidade.
Digam os dicionários o que disserem, a Universidade não é, pois, simplesmente uma estrutura ou um conjunto de elementos interligados. É um grupo mais ou menos amplo de pessoas com uma mesma consciência ética, que integra – deve integrar – valores humanos, sociais e ambientais em todas as suas actividades e nas relações com os stakeholders.

Braga, 30 de Outubro de 2008

Catarina Serra

Novos Desafios para a Universidade do Minho

A Universidade do Minho como instituição de referência na região em que se insere, necessita de renovação e adaptação aos novos tempos. A sociedade está em constante evolução. A Universidade do Minho não pode ficar desligada dessa evolução. Aliás, tem que estar atenta à evolução e ser ela própria o seu motor. Impõe-se que a Universidade do Minho implemente procedimentos de gestão simples e eficazes. Para além da oferta de cursos adaptados às realidades actuais, exige-se uma investigação atenta às necessidades da sociedade. As actividades de interacção com o meio envolvente devem ser intensificadas e apoiadas.
A Universidade do Minho necessita de alterar muitos dos seus procedimentos. Os orgãos da Universidade do Minho devem orientar-se por princípios fundamentais para o sucesso da instituição, como legalidade, honestidade, transparência e competência. Para além disto, é importante ter uma visão humanista. Uma universidade tem que ser construída por e para pessoas. Em primeiro lugar têm que estar os seus estudantes. O prestígio da Universidade do Minho será tanto maior quanto melhores forem os seus diplomados. Os docentes e os funcionários da Universidade do Minho devem estar ao serviço dos estudantes e da sociedade em geral. Os estudantes devem sentir-se apoiados e ao mesmo tempo com autonomia que lhes permita evoluirem preparando-se para no futuro exercerem actividades úteis à sociedade.
A Universidade do Minho tem que ser mais positiva na forma de enfrentar as situações. Tem sido prática nos últimos anos, encontrar formas de penalizar as pessoas que não atingem certos níveis de desempenho. Pelo contrário, será importante analisar as razões desse desempenho menos bom e encontrar formas de enquadrar melhor essas pessoas nos seus departamentos ou serviços. Também seria mais salutar encontrar formas de premiar as pessoas que atingem bons desempenhos. Esta forma de actuar aumentará a motivação de todos.
Com maior abertura à sociedade, novos procedimentos, simples e eficazes, uma visão humanista e uma atitude positiva, a Universidade do Minho estará preparada para enfrentar os novos desafios. Estes caracterizam-se por novas realidades económicas e sociais, próprias de uma sociedade cada vez mais globalizada.

Braga, 22 de Outubro de 2008

José Barroso de Aguiar

Resistência, é a resposta

Há cerca de 14 ou 15 anos, numa troca de impressões franca e viva com o director de um jornal do Minho onde mantinha colaboração regular, este saiu-se-me com a afirmação de que, ao contrário de mim, não pretendia mudar o mundo. A dita afirmação surpreendeu-me porque a linha editorial do jornal em causa estava longe de ser acomodada. Eu também não pretendia mudar o mundo, só não era capaz de calar a revolta ou o desconforto que me provocavam certos episódios da vida política e social local e nacional.
Depois disso, continuei a ser, a sentir assim, com a diferença que fui ficando progressivamente mais desencantado e menos esperançoso que as coisas mudassem e, mesmo, que houvesse real vontade de tornar o nosso quotidiano e o nosso futuro, como cidadãos e como portugueses, mais risonhos.
Os últimos anos marcaram-me muito, já que até o meu local trabalho deixou de ser refúgio de esperança. A nobreza da missão que sempre acreditei estar associada à Universidade foi cedendo passo a simples jogos de poder, a exercícios de gestão animados pelo mais puro amadorismo, a fugas para diante em matéria de orientação estratégica que não deixassem à vista que o rei ia nu, e não era possuidor de figura que merecesse ser apreciada. Para que tudo ficasse pior, à procissão que ia nos campi de Braga e Guimarães, a certa altura, acabaram por se juntar figurantes vindos directa e expressamente de Lisboa. Claro está que, quem os ouça falar, não os toma por tolos.
Que fazer (como questionaria Lenine, há muitas dezenas de anos, num dos seus livros)? Pois, que havia (há) a fazer senão resistir, mais que não seja para que fiquemos tranquilos com a nossa consciência? Mudar o mundo, eu? Não, simplesmente lutar para que a lama que a enxurrada gerou não nos cubra até ao pescoço ou nos leve com ela.
Resistência, é a resposta, também aqui na Universidade do Minho. É neste espírito que abraço o desafio de que este sítio electrónico dá notícia, que só é novo porque os desafios que se nos põem se renovam cada dia, tal qual devia renovar-se a esperança de termos uma Universidade do Minho melhor, que, por sua vez, só pode ser uma Universidade do Minho ao serviço do desenvolvimento da região e do pais.

Braga, 22 de Outubro de 2008

J. Cadima Ribeiro

Contactos

Eventuais contactos com os editores do blogue e/ou o grupo de trabalho criado podem, desde já, ser feitos para/através de:

J. Cadima Ribeiro (coordenador do blogue)
Escola de Economia e Gestão
jcadima@eeg.uminho.pt
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Maria Clara Costa Oliveira
Instituto de Educação
claracol@iep.uminho.pt
-
Jaime Rocha Gomes
Escola de Engenharia
rgomes@det.uminho.pt
-
Rui Ramos
Escola de Engenharia
rramos@civil.uminho.pt
-
Catarina Serra
Escola de Direito
catarinass@direito.uminho.pt
-
Joaquim Neves
Escola de Engenharia
jeneves@dei.uminho.pt
-
Vasco Eiriz
Escola de Economia e Gestão
veiriz@eeg.uminho.pt
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Novos desafios, Novos Rumos: quem somos?

Somos um movimento de professores e investigadores que pretende debater o papel da Universidade nos nossos dias e no futuro próximo e que cultiva a pluralidade de opiniões como método inclusivo a todos os que queiram participar nestes objectivos.
A vitalidade da Universidade do Minho e a promoção do bem-estar e da realização profissional de todos quantos nela trabalham são importantes desígnios que requerem a reforma e a transformação da cultura institucional. Inconformados com a falta de perspectivas do actual cenário institucional, decidimos apresentar uma lista de candidatura ao Conselho Geral que possa fazer suas as preocupações e os objectivos gerais da comunidade académica.
Escolhemos para nome desta candidatura a expressão ‘novos desafios, novos rumos’. Com ela pretendemos convocar o que de melhor pode oferecer a reflexão livre e generosa sobre a instituição e propor rumos que o futuro da organização exige e a razão aconselha. De modo esclarecido e comprometido, aberto e plural.
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UM-novos desafios

Estatuto Editorial

Este blogue existe enquanto espaço de debate e de reflexão sobre as problemáticas da Universidade e estrutura de apoio a candidatura aos órgãos de governo da Universidade do Minho de grupo de professores e investigadores que se identifica a partir da palavra-chave que lhe dá a designação. Complementa o sítio electrónico existente e funcionará como fórum aberto.
Desejando ser espaço de debate e troca de informação, não acolherá, no entanto, mensagens ou comentários anónimos. Poderá publicar textos ou comentários que não apareçam assinados pelos seus autores, mas estes terão que se identificar perante os editores do blogue, remetendo por correio electrónico para um dos membros da equipa editorial a informação ou opinião que queiram ver divulgada.
Pretendendo ser um espaço de reflexão e debate vivo e estimulante, sê-lo-á tanto quanto a Academia Minhota for capaz de o ser. Aqui fica o repto.
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UM-novos desafios