quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

"De como uma campanha se pode distanciar da realidade ...": uma interpelação pública feita às listas

«Caro(a)s colegas,
Faltam pouco dias para o acto eleitoral que vai configurar a constituição do órgão máximo de gestão da Universidade do Minho, aquele que definirá, para o bem e para o mal, o destino da academia minhota.
As várias listas têm vindo a apresentar os seus argumentos, em grande medida através de textos publicados em sítios da internet e divulgados pelo correio electrónico.
Em geral, as listas têm vindo a investir em textos ricos em adjectivos, alicerçados em frases procurando vincar fortes convicções sobre o destino, futuro, ideia da universidade. Fala-se da “universidade completa”, dos “projectos”, das “pessoas”, da “coesão”, da “inclusão”, etc. etc. mas pouco ou nada se diz acerca dos actuais problemas da academia e que soluções são propostas para os colmatar.
O que propõem as listas para resolver, por exemplo, o problema do financiamento da universidade ?
Ou para colmatar a deficiente máquina administrativa instalada na academia ?
E como corresponder às expectativas de carreira de uma massa silenciosa de colegas professores e investigadores, que apesar do mérito do seu trabalho e da sua dedicação à universidade, poucas ou nenhumas esperanças têm de progressão ? Como podemos estimular a excelência aqui ?
E como implementar “coesão” quando dentro da mesma academia co-existem diferentes exigências de qualidade e desempenho, geralmente em prejuízo daqueles a quem se impõem os maiores padrões de referência ?
E como lidar com a tradição perniciosamente instalada na academia de desresponsabilizar ou mesmo desobrigar de exigência de qualidade e desempenho quem está no topo da carreira , mas, em contrapartida, demandar elevados níveis de resposta a quem está na base da carreira ou mesmo no início da profissão ?
E como responder de forma concertada e eficaz a uma massa estudantil cada vez menos preparada para o raciocínio, para o estudo, imbuída de uma cultura de facilitismo, mas a quem, apesar de tudo, compete à universidade formar e preparar para o mercado de trabalho ?
E como vai a academia, de forma concertada e eficaz, desenvolver um plano de afirmação internacional num mundo cada vez mais dominado pela ciência e tecnologia de tradição anglo-saxónica, onde imperam as publicações ISI e menos os projectos de desenvolvimento ?
Etc. etc. etc.
Considero, que estas são algumas das linhas problemáticas que urge discutir, analisar e sobre as quais definir planos de resposta.
Apelo às listas candidatas para que o façam, voltando o seu discurso e esforço de reflexão paras estas questões mais imediatas, pois são elas que nos inquietam e que constrangerão o desenvolvimento da universidade nos tempos mais imediatos.
Não discutir estas matérias é estimular o divórcio entre a academia real e a campanha em curso, promovendo a abstenção ou até o voto de protesto, em branco, por exemplo.
Não discutir estas matérias é promover uma universidade a dois tempos … uma dos grandes discursos e planos estratégicos desprovidos de eco junto da realidade … e outra, a de todos os dias, dos problemas, incoerências, incompreensões, entregue a si própria e condenada ao desinteresse e descomprometimento.
Pensei que devia à academia esta breve reflexão em forma de alerta.
Saudações amigas,

Adérito Fernandes Marcos»
*
(reprodução integral de mensagem distribuída universalmente na rede electrónica da UMinho pelo colega que se identifica e que se reproduz aqui com autorização do autor, nos termos que o próprio assinala:
"Não vejo razões para que não seja publicado no fórum.
Pode publicar desde que me assegurem que o texto não venha a aparecer associado a uma ou outra lista candidata.
No actual estado da academia e das candidaturas, pauto-me por independente sem reservas.
Obrigado.
Adérito Marcos
")

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