sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"Universidade do Minho: um golpe a menos de 30 dias das eleições"

«A Universidade do Minho(UM) é um instituto público dotado, como as restantes universidades públicas portuguesas,  de uma autonomia, que tem a finalidade constitucional principal de a pôr ao abrigo da interferência do Governo. Por isso, tem um conselho geral e um reitor eleitos. Ora, esta situação corre sério risco de ser modificada porque segue a toda a pressa um procedimento que visa transformar a UM numa “fundação pública de direito privado” antes das eleições de 4 de outubro de 2015.
Vejamos o que sucederá se o golpe resultar (e nesta altura vale tudo…). A Universidade do Minho que tem atualmente um conselho geral eleito pelos professores (12 membros), estudantes (4 membros) e funcionários (1) a que se juntam personalidades externas (6)  cooptadas pelos membros eleitos e que tem um reitor que é eleito por todo o conselho geral  passará a ter mais 5 membros  nomeados. Vejamos como.
A fundação a criar será administrada  por um conselho de curadores  de 5 membros (personalidades de elevado mérito) nomeadas pelo governo, sob proposta da universidade. É verdade que é  necessária uma proposta da universidade mas, se o governo não concordar, é a Universidade que tem de ceder.
Um dos problemas mais sérios desta modificação é exatamente a entrada destes senhores curadores. Eles terão grandes poderes, pois administrarão a Fundação e esta ficará com o património e as finanças da Universidade, cabendo-lhes ainda tomar ou homologar as mais importantes decisões.
Com todo o respeito pessoal  que eles certamente merecerão, importa ter em atenção o seguinte: ou vêm trabalhar a sério e então terão de entregar-se por inteiro à administração da Fundação Universidade do Minho, o que implicará avultadas despesas, pois ninguém está a ver essas  personalidades de elevado mérito a trabalhar gratuitamente  ou serão meros “verbos de encher” que dão o nome para dar “prestígio” à Universidade mas, quanto a trabalho duro,  pouco ou nenhum, o que aliás bem  se compreenderá.
Ora, nem uma nem outra possibilidade merecem acolhimento. A que título vai a Universidade pagar bem a mais 5 pessoas  (fazendo contas não será temerário  prever à volta de 500.000 euros por ano, tendo em conta a qualificação que deverão possuir) para administrar uma Universidade que já tem os necessários órgãos de administração? Os que existem administram mal? Mas administram mal, porquê? Por falta dos curadores?
Mas – e é o mais provável – se pouco pagar, eles não vão trabalhar (eles vão ser naturalmente “trabalhados”) e então a que título entregar-lhes formalmente a enorme responsabilidade de bem administrar a Universidade do Minho sob a forma de Fundação?
Há algo aqui que não bate certo. Quem anda a par destas coisas sabe que não é a transformação em Fundação que faz correr os atuais responsáveis da Universidade. É o financiamento e a privatização. É a  promessa que o Governo faz, por um lado,  de lhes dar mais dinheiro e, por outro, de permitir uma flexibilização (leia-se uma maior discricionariedade)   da gestão do pessoal (docente e não docente) e dos dinheiros.
Esta não é uma decisão que se tome assim, antes de eleições, em “sprint final”, mais parecendo um dádiva de um  Governo que (pasme-se!) no início se manifestou contra a transformação das Universidades em fundações, preferindo um regime de autonomia reforçada,  e que,  ao mesmo tempo,  não cumpriu o contrato que fez com as três universidades (Porto, Aveiro e ISCTE)  que foram no engodo  da  Fundação e assim esperaram ( em vão)  a entrada de centenas de milhões de euros.»
                                                                              
António Cândido de Oliveira

(reprodução de artigo de opinião do autor identificado, publicado no Diário do Minho a 3 de setembro de 2015)

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