IV. a Universidade do minho que queremos
EMPREENDEDORISMO
1. O
desenvolvimento da capacidade empreendedora da UMinho
é um desafio importante porque o seu sucesso depende dela, em grande parte. Isso implica uma postura que
reconheça o conhecimento como um bem que se cria, desenvolve e transmite por
diferentes vias, postura ainda mais necessária num contexto em que a sociedade
está carente de conhecimentos e em que há uma grande escassez de financiamento
público e pressão para gerar receitas próprias.
2.
Vários colegas têm vindo a esforçar-se nesse sentido e a UMinho tem obtido bons
resultados, a este nível, quase exclusivamente no que respeita à investigação.
Sabemos todos, porém, que muito mais poderia ser feito (e eventualmente noutras
áreas) se as condições laborais da UMinho fossem diferentes, no que respeita à
pressão burocrática que carregamos quotidianamente. Quase todos nós nos
sentimos enganados, dado termos vindo para esta instituição convencidos de que
a nossa missão era ser docentes e investigadores. Infelizmente, a maior parte
do nosso tempo é passado em reuniões infindáveis em que os assuntos se repetem
e no preenchimento de documentação repetida em formatos diferentes.
3. Com efeito, o estímulo ao empreendedorismo deveria
implicar, em primeiro lugar, criar uma cultura de risco, de procura e de
descoberta, também ao nível da docência e da atitude a ser pedida aos
discentes. Fomentar essa cultura passa pela inovação nos métodos de ensino e de
aprendizagem que incentivem o aluno a ser autónomo, a procurar mais ativamente
respostas para os problemas com que se confronta e a participar em projetos de
investigação. Tal não deverá implicar, porém, um posicionamento de facilitismo
pedagógico; só podemos formar alunos autónomos, curiosos e empreendedores se
lhes exigirmos rigor e liberdade de pensamento, bem como responsabilidade, para
além da capacidade de criação de competências no âmbito do “saber fazer”.
4.
Estamos cientes de que uma cultura empreendedora incentiva programas de
formação sobre criação de empresas e lançamento de novos negócios, e ela é hoje
tão necessária a um aluno de gestão ou de economia, como a um aluno de
humanidades ou de artes. Um bom empreendedor distingue-se de um outro
profissional não só pelas suas competências na resolução de problemas mas
também pela capacidade em imaginar, em criar um espaço diferente no mundo,
sabendo, simultaneamente, contextualizar-se nele. O domínio da História, da
Filosofia, das Línguas, das Artes, entre outras áreas das Humanidades,
constituem mais-valias essenciais a projetos de empreendedorismo, e tal já é
tido em conta na formação de profissionais de várias áreas, em todo o mundo.
5. Isto exigiria que a UMinho, enquanto Instituição, fosse ela
própria empreendedora, não só nos seus programas de formação mas também na sua
forma de atuação interna, flexibilizando-se à interdisciplinaridade real e não
apenas oficial (tal como consta na maior parte dos documentos da Instituição). Porque não
apoiar com medidas concretas aqueles que assim consigam trabalhar, em vez de os
discriminar (como tantas vezes acontece) face a hiperdivisões departamentais, de áreas disciplinares, e de
centros de investigação que algumas vezes mais não são que o somatório dos
docentes de uma Escola/Instituto?
6.
Se a UMinho deve ser capaz de prestar serviços à comunidade, empresarializando
algumas das suas estruturas, também deve gerir os seus meios financeiros
rendibilizando convenientemente os seus recursos humanos e físicos. A título de
exemplo, indicamos a plataforma e-learning, em que todos fomos compulsivamente implicados, que deveria ser
construída por colegas nossos das áreas computacionais, em parceria com colegas
de outros domínios científicos, de modo a ser facilmente utilizada por todos
aqueles que a têm que usar.
7.
Ser empreendedor de sucesso implica conhecer o público a que nos dirigimos, as
suas virtudes e constrangimentos. A idade média dos docentes da UMinho tem
vindo a aumentar (por circunstâncias que todos conhecemos), e estar
continuamente a exigir adaptações tecnológicas anuais só pode estorvar o espaço
mental e a concentração exigidas para a preparação de material pedagógico e
científico.
8.
Sem colocar em causa a sua missão, a universidade necessita de repensar e
melhorar a sua oferta e diversificar os seus mercados. Muitos dos mercados e
serviços em que não está ainda presente requerem estruturas, sistemas e
estratégias que lhe confiram eficácia. Requerem uma abordagem empreendedora que
incentive a inovação e contribua para uma maior dinâmica e satisfação dos seus
diferentes públicos, incluindo os seus docentes e investigadores. As mudanças
demográficas, económicas e sociais que já existem (e que tendem a dramatizar-se
a curto e médio prazo) deverão alargar o tipo de população que pretendemos
formar, dado a educação ser hoje internacionalmente concebida como ocorrendo ao
longo de toda a vida.
9.
Possibilitar a certificação de presença (estatuto de ‘ouvinte’) de pessoas em
unidades curriculares isoladas, ou agrupadas em número insuficiente para
constituição de um grau académico, estimular a criação de currículo pelos
usuários da Universidade (independentemente da sua idade cronológica)
recorrendo a todas as possibilidades que a UMinho possibilita, são
potencialidades positivas do processo de Bolonha que estão por explorar nesta
Instituição.
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