terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Lista B - Programa de candidaturas ao Conselho Geral e ao Senado 2013 (VI)

 IV. A UNIVERSIDADE DO MINHO QUE QUEREMOS
ENSINO 
1. As unidades orgânicas de ensino e investigação, e respetivas subunidades, são as entidades a quem cumprirá, em primeira instância, definir a oferta de ensino da Instituição, aos seus variados níveis. Deverão fazê-lo atentas às necessidades e desafios que a sociedade lhes coloca, informadas por estratégias claras e apostadas na qualidade dos profissionais e cidadãos que formam. Nos respetivos estatutos e planos de orientação deverão ter isto presente, bem como a capacidade e a coragem de os concretizar.
2. A implementação acelerada, no que respeita aos cursos da Universidade do Minho, do modelo de Bolonha, teve como principal consequência nefasta não se ter assegurado a realização de cursos com componentes fortemente interdisciplinares, que o sistema de créditos possibilita, e que se pode encontrar em vários países do mundo. A opção dos órgãos de poder da Universidade foi a de aparentemente mudar muito, mas garantindo o controlo de cada curso pelos departamentos específicos que já o detinham, numa operação de cosmética sobretudo baseada na conversão dos créditos.
2. Uma estrutura curricular baseada nos créditos obtidos pelos alunos em áreas por eles escolhidas (tendo por base os créditos considerados fundamentais de um curso de licenciatura específico) teria possibilitado o desempenho real do papel de tutor (alguém que acompanharia a formação interdisciplinar dos discentes, além de outras funções), figura retórica da organização curricular que esta Universidade adotou, da qual muitos de nós continuam sem compreender o significado, sobretudo devido à variedade de modelos de atuação que lhe subjazem e que dificilmente se coadunam com a tipologia letiva que exercemos.
3. Reconhecendo a importância da competência científica dos professores, valorizamos igualmente a sua competência pedagógica, a qual poderá ser desenvolvida de diferentes modos, não necessariamente através da frequência de cursos mas também pela reflexão sistemática sobre a prática, pela investigação pedagógica, pela realização de estudos sobre a docência, pela constituição de comunidades profissionais, etc. Consideramos que cada Conselho Pedagógico deverá fomentar e apoiar este tipo de iniciativas, garantindo-se o desenvolvimento profissional dos docentes em função dos seus interesses e dos seus contextos de lecionação. Ainda neste âmbito, poderá o GAE, em articulação com as escolas/ institutos, definir políticas de incentivo à inovação pedagógica e desenvolver mecanismos de apoio ao desenvolvimento profissional dos professores.
4. Consideramos ainda que é preciso analisar o modo como se está a processar o trabalho autónomo dos alunos, e como estamos a garantir a aprendizagem individual de competências de saber-fazer, mas também de conhecer, saber-estar e saber-ser, valorizando o papel dos tutores, entre outras possíveis medidas.
5. Relativamente à melhoria da agilidade e da eficácia na gestão dos cursos, listam-se de seguida, de forma sumária, algumas ações a desencadear aos diferentes níveis da oferta de ensino que podem, direta ou indiretamente, contribuir para a respetiva qualidade e afirmação externa.
i) Ao nível do 1º ciclo e ciclo integrado:
- criação/reforço e garantia de bom funcionamento de Secretariados de Apoio dos Conselhos Pedagógicos aos cursos do 1º ciclo e ciclo integrado, enquanto estruturas de apoio ao processo de ensino/aprendizagem e peças da estrutura de relações públicas das Escolas; podem também desempenhar um papel importante no processo de inserção dos alunos do 1º ano.
ii) Ao nível de 2º ciclo:
- definição, conjuntamente com os diretores das unidades e subunidades de ensino, e os diretores dos cursos de 2º ciclo, de uma estratégia de calendarização da abertura destes cursos, de modo a possibilitar que todos os docentes de uma mesma Escola/Instituto possuam os mesmos dias de pausa letiva, no final de cada semestre;
- estudo da viabilidade de avançar para a promoção internacional dos cursos e as formas de a materializar (atendendo à maior facilidade de acesso por parte de estrangeiros detentores de cursos de 1º ciclo organizados de acordo com o processo de Bolonha);
- alargamento e melhoria da oferta de cursos não-formais, seminários, e programas curtos de formação para responder às necessidades da sociedade, em articulação com as unidades e subunidades de investigação e de extensão universitária.
iii) Ao nível do 3º ciclo:
- estabelecimento de contacto com instituições universitárias pré-selecionadas para estudar a viabilidade da concretização de parcerias na criação/implementação de cursos de doutoramento e agilização de formas de intercâmbio de estudantes e professores;
- aposta na captação de alunos estrangeiros, com vista a compensar a pequena dimensão do mercado nacional neste nível de ensino, tendo como mercados-alvo, para além de alunos de países signatários do protocolo de Bolonha, os países de língua portuguesa.
iv) Em termos de Formação para executivos do setor privado e público:
- identificação das necessidades de formação nesta área, recorrendo ao contacto direto com empresas e instituições da região, e adoção de uma carteira de oferta de formação em conformidade com as necessidades detetadas.
6. Complementarmente, há que, acima de tudo, exigir um maior respeito pela dignidade humana, desígnio presente nos Estatutos da UMinho (ponto 1 do artigo 9º) mas que não tem sido cumprido de forma universal. Nos últimos anos, a figura de “docente” passou a misturar-se com a de “administrativo”, exigindo-se-lhe, antes de tudo, que dê resposta aos inúmeros pedidos emanados da tutela e da Reitoria, quer façam ou não sentido, quer sejam ou não necessários para um ensino de qualidade. O tempo exigido para se cumprirem tarefas é cada vez menor, contrariando um trabalho à escala humana e impedindo o exercício das verdadeiras missões de um académico, que são o ensino, a investigação de qualidade e a extensão universitária.
7. Uma universidade que pugna por valores tão elevados como aqueles que constam dos nossos estatutos, deveria indicar com transparência quem são as pessoas que gerem o sistema burocrático, bem como aqueles que figuram como figuras metafísicas (porque não identificadas, para a maioria dos docentes)  na avaliação da qualidade do ensino.
8. Sobre atual modalidade de a avaliação da qualidade do ensino, muito haverá a melhorar, sobretudo no que diz respeito à flexibilização, simplificação e desburocratização dos procedimentos adotados, assim como à correção de mecanismos sem sentido (por exemplo, custa muito entender de que maneira é que a relação inscritos/aprovados, que é o critério central de sinalização das U.C. nos PEA-UC, avalia a qualidade do ensino ministrado, uma vez que responsabiliza os docentes, a quem o sistema exige que elaborem planos de ação, por alunos cuja existência é puramente nominal, pois nunca foram às aulas nem se submeteram a avaliação). Por outro lado, e relativamente à participação dos alunos na avaliação do ensino, sobretudo os do 1º ciclo, há que garantir que lhes seja fornecido um referencial de qualidade que os ajude neste exercício relevante para assinalar a qualidade docente e para promover a modernização pedagógica. Uma instituição que poderia, com eficácia, promover esse exercício seria a do provedor dos estudantes com o contributo dos vários Conselhos Pedagógicos. 
9. É urgente simplificar o sistema tecnoburocrático, nomeadamente o que envolve a lecionação das U.C. (D.U.C., catálogos, PEA-UC) e torná-lo acessível, prático e inteligível, para que possa ser um instrumento sério e eficaz da qualidade do ensino. É urgente que os serviços voltem a ser serviços, ou seja, que sejam úteis à comunidade académica. Os serviços devem servir a liberdade de ensinar e de investigar e não coartá-la com controlos insustentáveis.

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