segunda-feira, 27 de julho de 2015

"Reitor da Nova acusa Governo de ´falta de transparência`”

«O reitor da Universidade Nova de Lisboa, António Rendas, acusa a tutela de estar a favorecer a Universidade de Lisboa. A gota de água foi a cedência do Pavilhão de Portugal.

É a primeira vez, nos últimos anos, que um reitor acusa publicamente um Governo de favorecer claramente uma outra universidade. António Rendas, reitor da Universidade Nova de Lisboa (UNL) diz que o executivo está a beneficiar a Universidade de Lisboa (UL) abrindo a porta a que a instituição faça negócios imobiliários com estruturas que deveriam servir os estudantes e Portugal. A gota de água foi a decisão de cedência do Pavilhão de Portugal à UL, denuncia o anterior presidente do Conselho de Reitores, em entrevista ao Capital Humano do Económico TV, que será emitida esta segunda-feira, às 20h00.

Sente que a Nova está a ser prejudicada pelo Governo?
É pena que não haja o reconhecimento nacional da forma como a Universidade Nova de Lisboa se está a posicionar internacionalmente. Dou sempre o benefício da dúvida. Mas os sinais que temos quando nos comparamos com outras instituições da área de Lisboa, tendo em conta o nosso mérito, e a forma como temos sido tratados, ao nível do património, por exemplo, preocupamos consideravelmente.

Está a referir-se a que casos concretos?
Estou a referir-me a dois casos muito concretos. Quando em 2012 se deu a fusão das duas universidades, a Técnica e a Clássica, o facto do Estádio Universitário ter sido dado, do ponto de vista imobiliário à Universidade de Lisboa preocupou o Conselho de Reitores (CRUP) . Mas demos o benefício da dúvida. O CRUP emitiu, então uma recomendação lamentando o facto dessa decisão não ter sido discutida. Uma posição que reflectia a preocupação da Nova, do ISCTE e da Católica. O argumento da expropriação dos terrenos é um argumento que não colhe, com todo o respeito. Porque uma coisa são os terrenos e outra são as benfeitorias feitas nos terrenos . Todos nós pagamos dos nossos impostos muitas das instalações que foram construídos com o uso do Orçamento de Estado (OE).

O Estádio não deveria ter sido dado apenas a uma universidade de Lisboa?
O que fazia sentido era que o acesso dos estudantes de todas as universidades fosse igual, o que continua a acontecer. O problema dramático é que se houver uma equipa de estudantes de qualquer universidade de Lisboa que esteja a treinar e surgir uma outra equipa que pagou pela sua utilização do espaço, os estudantes têm que sair. Esta é uma denúncia que estamos a averiguar. O Estádio Universitário não foi construído para dar lucro, mas para ser utilizado pelos estudantes. Todos os estudantes de Lisboa estão a ser discriminados. Não é aceitável, nem faz sentido, que exista um Estádio Universitário em que os interesses comerciais prevaleçam sobre os dos estudantes.

Houve um favorecimento da Universidade de Lisboa?
Parece que sim. E os prejudicados são os estudantes.

Quem tomou esta decisão?
Quando em 2012, o Governo viabiliza a fusão das universidades Técnica e Clássica, estava incluído no pacote imobiliário o Estádio Universitário. A Nova não tem qualquer ambição em gerir o Estádio Universitário.

Há outros casos de alegado ‘favorecimento'?
Tive conhecimento através da comunicação social, mais uma vez, que o Pavilhão de Portugal irá ser concessionado à Universidade de Lisboa. Temos que aguardar para o confirmar. Será gravíssimo se se concretizar. O que é estranho é que a concessão é justificada em termos de ambiente e lusofonia, áreas em que todas as universidades portuguesas têm imensas actividade. Se essa hipótese for colocada o Pavilhão deveria ser gerido por todas as universidades. Escrevi ao ministro do Ambiente a expor a situação e aguardo pacientemente a sua resposta. Nessa carta exprimo um conjunto de preocupações que se relacionam com a falta de transparência com que o Pavilhão de Portugal foi cedido à Universidade de Lisboa.

Esta falta de coordenação entre as escolas de Lisboa prejudica a internacionalização?
Temos o exemplo do consórcio do Norte que engloba as universidades do Porto, Minho e Trás-os-Montes e Alto Douto, em articulação directa com a CCDR Norte, que seria muito interessante para Lisboa. Porque facilitaria o acesso a fundos comunitários, porque Lisboa já não é elegível para certos fundos de convergência. Depois não se perderia a identidade de cada instituição de Lisboa. Acho que se perdeu uma oportunidade, muito importante, de fazer um consórcio em Lisboa.

A fusão inviabilizou um consórcio em Lisboa?
Era um outro caminho que seria mais útil para todos. Houve a preocupação com a fusão de criar massa crítica, mas perdeu-se a rede. Hoje só ganham as instituições que funcionarem em rede. Não é possível afirmar-se internacionalmente sozinho. Neste momento, ainda se pode mobilizar um conjunto de interesses. Mas a oportunidade de criar um consórcio está totalmente perdida .»

(reprodução de entrevista Diário Económico online, de 27 de julho de 2015)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

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