«O professor da Universidade de Lisboa Domingos Fernandes defendeu hoje, em Leiria, que as instituições de ensino superior também devem ensinar para a cidadania, porque "não são fábricas de estudantes".
"As instituições de ensino superior não são fábricas de estudantes para entrarem diretamente nas empresas, até porque, num mundo tão imprevisível como aquele em que vivemos, só ganhamos se dermos uma formação abrangente aos estudantes", disse o académico à agência Lusa à margem do II Congresso Nacional de Práticas Pedagógicas no Ensino Superior, que decorre no Instituto Politécnico de Leiria.
Segundo o docente, se a formação for "afunilada" não se irão formar pessoas "que estejam preparadas para a mudança".
Na sua preleção, Domingos Fernandes salientou que "o mundo hoje confronta-se com os problemas que são causados por agências de mercado daqui e de acolá, e cada vez mais os estudantes, as pessoas, os cidadãos têm de ter alguma noção da solidariedade" e serem "críticos em relação aquilo que os rodeia".
"Temos de ter o sentido de que não estamos a formar autómatos, estamos a formar pessoas", acrescentou.
O professor entende que "compete às universidades criar essas oportunidades de reflexão e de desenvolvimento das pessoas".
"É nesse sentido que dizia que isto não se pode transformar numa espécie de uma fábrica de produção em série de pessoas para se enfiarem num escritório até às seis da tarde e depois irem ver as telenovelas", frisou.
"De que serve ter um aluno formado com 20 a Medicina, mas depois quando é um profissional, nem olha para o doente, nem esboça um sorriso? Para que serve essa formação?", exemplificou.
Os caminhos para a cidadania são "vários": "O que temos verificado é que temos de dar importância a três pilares da formação: o pilar do conhecimento, o pilar das capacidades, que temos de ajudar os alunos a desenvolver para que eles utilizem esse conhecimento, e um pilar, que tem sido um pouco desleixado por todo o mundo, que é o do aprender a ser, do aprender a estar com os outros, de sensibilizar as pessoas para os problemas sociais do mundo".
O secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, considerou que esta iniciativa, que é uma organização conjunta de dez instituições, é uma "troca de experiências" na área da pedagogia em sala de aula.
"As instituições de ensino superior são, primeiramente, de ensino, de educação, e não podemos deixar de valorizar essa função. A vivência das salas de aula hoje é mais complexa e a exigência dos alunos é também maior", afirmou o secretário de Estado, salientado que "é, cada vez mais, necessário que os docentes tenham um saber técnico e que saibam como comportar-se nessa posição".
A adesão que os docentes do ensino superior demonstraram nesta iniciativa é para o governante um "sinal do interesse de todos em melhorar a sua prática pedagógica".
De acordo com nota do Ministério da Educação e Ciência, no congresso serão apresentadas e partilhadas 109 abordagens pedagógicas em curso em 29 instituições de ensino superior, abordando o que correu bem e mal no contexto das experiências de contexto real em sala de aula, discutindo-as para um maior sucesso na aprendizagem.
Serão também apresentados resultados de 21 projetos financiados no último ano no âmbito do concurso de Inovação Didática no Ensino Superior Português, promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia em colaboração com a Direção Geral de Ensino Superior.»
(reprodução de notícia NOTÍCIAS AO MINUTO de 4 de Julho de 2015)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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