segunda-feira, 3 de outubro de 2011

À margem do CG: algumas notas soltas (58)

Na nota informativa que elaborei no próprio dia em que decorreu a última reunião do CG, 26 de Setembro de 2011, dei notícia de quanto me surpreendeu a vivacidade com que foi tratado um dos temas em agenda, sobretudo em razão da precipitação ou ingenuidade do presidente do órgão, que surgiu muito incomodado quando confrontado com a inconveniência da sua atitude.
Como referi, tudo andou em torno do ponto da agenda designado por “A apreciação da posição assumida pelos membros externos sobre o Planeamento Estratégico”. O que eu não disse na ocasião foi que, no contexto da discussão deste tema e sem que alguma coisa o fizesse antever, o Conselho viu ser enunciada a proposta mais revolucionária de todo a sua curta história, protagonizada por um membro externo do CG (AS), o que não deixa de ser um motivo adicional de surpresa. A surpresa foi tanta que deixou boquiabertos alguns membros do órgão e mudos outros. Nesta última posição ficaram aqueles a quem cumpre secundar ou defender a todo o custo as propostas do reitor, por mais insensatas ou falhas de horizonte que sejam.
Como assinalei, estava em equação a elaboração em sede de Conselho Geral de alguns princípios orientadores de estratégia e, nesse contexto, a forma de organizar/recolher contributos e estabelecer alguma ponte (difícil de construir porque nem as próprias fundações estão esboçadas) entre o órgão e a Academia, assumindo que a matéria da estratégia interessa àquela e terá sempre como executores incontornáveis as Escolas/Institutos e respectivos Departamentos e Centros de Investigação, aparte outros serviços da Instituição, isto é, em definitivo, professores, investigadores, pessoal técnico e pessoal administrativo. Isto porque, não há estratégia que valha se não haver quem com ela se identifique e/ou que esteja disponível para a implementar.
A proposta revolucionária que foi apresentada é simples de enunciar; a saber: materializar-se-ia na constituição de uns quantos (três a quatro dezenas) de pequenos (com não mais de 5 pessoas) grupos informais de discussão, reunindo professores, funcionários e estudantes, que seriam incumbidos de debater e sintetizar em documento curto diversas questões de estratégia que lhe fossem colocadas (no contexto do levantamento de problemáticas feito pelo reitor em sede do CG, em Julho pp., ou pelo próprio CG e suas Comissões). Entendia o subscritor da proposta que esta era uma via de ultrapassar a experiência prévia do Conselho de insucesso na obtenção de contributos da academia via web, a que, na sua leitura, as pessoas se mostraram insensíveis. Para se obter bons resultados, o processo de recolha de opiniões carecia de ser menos anónimo e mais pessoal, concluía.
Os membros de cada grupo de trabalho seriam escolhidos por sorteio (leilão), sendo que a pessoa encarregada de presidir a cada um desses grupos ad hoc deveria, ser ela própria, escolhida da mesma forma.
Inspirava-o nesta proposta a sua vivência pessoal numa universidade em que trabalhou. Os resultados então obtidos revelaram-se muito válidos e, sendo conhecidas boas práticas, não há porque não segui-las.
A proposta revolucionária que foi apresentada é simples de enunciar, disse. No que há respectiva implementação se refere, a coisa é, todavia, bem mais complicada, desde logo porque romperia hábitos e processos muito enraizados e, aos olhos de alguns, não poderia deixar de aparecer como subversiva, isto é, deixar a oportunidade para que a “caixa de pandora” se abrisse. Tinha, por isso, fundamento o silêncio desconfortável que se fez na sala naquele momento.
Eu, confesso, vi-me colocado entre os que ficaram de boca de aberta perante o carácter inesperado e arrojado da proposta. Subscrevendo, sem reservas, a afirmação de que “quanto mais participação neste processo houver, melhor” (AS), e “adorando”, tal qual o respectivo subscritor, “saber a opinião da academia sobre as questões que o reitor colocou” (AS), espontaneamente, pus-me a olhar para a expressão do reitor, tentando descortinar naquele o imenso desconforto que o terá atravessado. Como sinal de prudência, este manteve-se em silêncio, no que, avisadamente, foi seguido pela grande maioria dos membros do Conselho. O embaraço sentido não tinha maneira de ser disfarçado. Creio que subsiste até ao dia de hoje.

J. Cadima Ribeiro

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