«Costumo dizer, também neste jornal, que estamos sempre a aprender democracia e assim é. Ainda muito recentemente aprendi uma lição prática de democracia que vale a pena transcrever. Era preciso escolher numa Universidade, por eleição uninominal, 15 doutores para integrarem um importante órgão de uma Escola. O universo dos eleitores era de pouco mais de 30.
Ora, como proceder para fazer esta escolha, sabendo-se, como se sabe, que em democracia ganha quem tem mais votos? É muito simples, prático e democrático.
Cerca de uma dúzia e meia de eleitores deste órgão entende-se e faz este raciocínio se votarmos uns nos outros estas eleições estão ganhas e logo à primeira volta. Basta que a confiança funcione. Não interessa, em primeira linha, o mérito, a dedicação à escola ou outras qualidades que possam enriquecer o órgão, que, por mero acaso, é de natureza científica; o que mais interessa é a confiança, a certeza que são dos nossos. Nesta forma de escolha democrática o que é fundamental é que o coro não desafine.
E assim sucedeu de uma forma impressionante. Verificou-se um fosso entre os eleitos e os que ficaram de fora.
É um autêntico caso de estudo para ensinar logo nas primeiras aulas de ciência política ou de direito constitucional ou ainda de educação para a cidadania, quando esta unidade curricular existir no ensino secundário do nosso país.
E os outros, os que têm o mau hábito de pensar pel a sua cabeça e não entram neste coro? Paciência! São uns desalinhados que não sabem nem o que é a democracia, nem a sua regra de ouro que é conquistar o poder e conservá-lo, bem conservado.
O resultado destas eleições vai, naturalmente, seguir seus termos para efeito de homologação pelo responsável maior da instituição em causa.
Entretanto, uma dúvida, de aprendizagem de democracia, me assaltou e me fez perguntas. Que certeza terei de que as coisas foram assim? Nunca terei ouvido falar de coincidências? Confesso que tenho de admitir que tal possa ter sucedido. Acontece cada coisa! Mas não deixa,
mesmo assim, de ser um caso de estudo ainda que doutra espécie, porque a coincidência tem-se repetido…
Ai de uma Universidade onde não se estude, não haja espírito crítico e, já agora, ironia que baste!»
António Cândido de Oliveira
(reprodução de artigo de opinião públicado no Diário do Minho, em 2015/02/25)
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