domingo, 28 de fevereiro de 2016

"Há cada vez mais portugueses a estudar nas universidades americanas"

«Em 2015, o número de estudantes portugueses nos Estados Unidos aumentou quase 4,3% apesar das propinas milionárias
Patrícia Alexandre passou os últimos cinco anos em Madison, Wisconsin, nos EUA, a estudar incêndios florestais. O doutoramento que defendeu em novembro foi conseguido através de uma bolsa Fulbright, quando Patrícia ainda não sabia muito bem qual o próximo passo na sua carreira. Agora, prestes a voltar a Lisboa, o que vai acontecer em abril, considera que foi um período muito exigente mas que a tornou "mais forte e segura".
A doutorada de 36 anos chegou aos EUA em 2010 e desde então o número de portugueses que escolhem este país para fazer licenciatura, mestrado ou doutoramento não tem parado de crescer. Em 2014/2015, foram 915 estudantes, o que representou um "aumento de 4,3% em relação ao ano anterior", refere a diretora executiva da Comissão Fulbright Portugal, que coordena os programas de estudo com os EUA, Otília Macedo Reis. Este números fazem dos EUA o quarto país "com o maior número estudantes portugueses quando se trata da frequência de um ciclo de estudos completo" e o "primeiro país não europeu com mais estudantes portugueses", acrescenta a responsável.
Muito graças às ofertas variadas de bolsas de estudo que ajudam a suportar os custos de um dos mais caros sistemas de ensino do mundo. Só um semestre pode custar dezenas de milhares de euros.

O que têm os EUA?
Os jovens que, no ano letivo anterior, saíram de Portugal e atravessar o Atlântico foram, na sua maioria (45%), fazer licenciatura. Os mestrandos e doutorandos representavam então 36% dos portugueses a estudar nos EUA. Os restantes estavam a frequentar cursos de curta duração, como cursos de inglês ou estágios, por exemplo.
Estes estudantes vão à procura não só da "mais-valia da experiência de se estudar fora" e depois da "qualidade da experiência académica" que as universidades norte-americanas proporcionam, através de um "ensino de teor mais prático que fomenta uma atitude pró-ativa", defende Otília Macedo Reis.
No caso de Patrícia Alexandre a escolha pelos EUA não foi óbvia. A engenheira florestal sabia que queria fazer algo no estrangeiro. Depois de ter ganho uma bolsa da Gulbenkian para ir até Itália por dois meses, após o mestrado, Patrícia queria continuar a experiência lá fora. "Na altura existiam outras possibilidades, com outros colaboradores, como por exemplo Alemanha e Austrália", mas o professor do Instituto Superior de Agronomia que liderava o laboratório onde era bolseira sugeriu-lhe que se informasse sobre as bolsas Fulbright. O professor José Pereira, foi ele próprio um fulbrighter há 30 anos, conta Patrícia. A jovem candidatou-se, num altura em que nunca lhe tinha passado pela cabeça ir estudar para os Estados Unidos. "Para ser sincera, não tinha muita noção do que é que a Fulbright representava ao certo. Toda a gente à minha volta me dizia que era extremamente difícil de obter e para eu não ter grandes expectativas."
Depois de um processo difícil de seleção, acabou por ser aceite em três das cinco universidades a que se candidatou. Escolheu Madison depois de se aconselhar com o professor José Pereira e um amigo americano. O resto foi conseguido com o apoio da Fulbright: "O apoio emocional, burocrático e financeiro são sem dúvida, os fatores mais importantes. Não quero imaginar como é tentar candidatar-me a um doutoramento sem ter ajuda. O sistema americano é diferente do nosso e cada universidade tem os seus requisitos e processos próprios e independentes. Tentar fazer isso tudo sozinha teria sido extremamente difícil", conta nas resposta que enviou por email.

Financiar um dos mais caros
Para Patrícia uma das primeiras preocupações foi como ia enfrentar os custos de um doutoramento em terras do Tio Sam. "Cada universidade faz uma oferta, que normalmente consiste num pacote que inclui propinas, seguro de saúde, e uma mensalidade." Com base nesta oferta, a "Fulbright Portugal faz as contas e vê quanto é que a universidade que nós escolhemos nos dá para o primeiro ano e quanto é que nós precisamos", explica.
Patrícia deu aulas como professora assistente, a bolsa que lhe permitiu dividir os custos com a Fulbright. Da comissão conseguiu 25 mil dólares (23 mil euros) - "que cobre as propinas de um semestre e meio aqui" - limite para o primeiro ano de estudos num programa de mestrado e doutoramento. No segundo e no terceiro ano (este último exclusivo para doutoramento) há a possibilidade de financiamento adicional que não pode ultrapassar os seis mil dólares, explica a página da Fulbright Portugal.
Otília Macedo Reis acrescenta que "existem programas com os mais variados tipos de ajuda financeira disponibilizada a estudantes com perfis diversos". O que faz com que um grau possa custar "muitos milhares de dólares a custo zero". Entre as hipóteses de financiamento estão bolsas de mérito para os melhores alunos do secundário ou bolsas para desportistas (para as licenciaturas). Nos programas de doutoramento ou mestrado as opções passam por dar aulas como assistentes, que "podem cobrir grande parte ou mesmo a totalidade dos custos da estadia", aponta a diretora executiva da Fulbright Portugal.

Ciências, Direito ou Ciência Política
As áreas que os portugueses procuram nos EUA são muito variadas. Tanto o programa Education USA - que promove as instituições de ensino superior norte-americanas no estrangeiro - como a Fulbright não têm áreas restritas de vagas e ofertas de bolsas. Tudo depende da candidatura dos interessados.
Assim, nos últimos anos tem-se verificado, nas bolsas Fulbright, uma "procura variada de ano para ano". Onde se destacam áreas como a Saúde Pública, Ciências Biológicas, Ciências Médicas, Engenharia, Direito, Química, Matemática ou Ciência Política. Mas também áreas menos tradicionais como Literatura ou Artes.
Patrícia Alexandre acaba o doutoramento surpreendida com o prestígio que a Fulbright tem nos EUA e a facilidade com que lhe abriu portas por lá. Elogia também a maior proximidade dos professores.»

(reprodução de notícia DIÁRIO DE NOTÍCIAS online, de 28 de fevereiro de 2016)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

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