«Passo seguinte: ensino superior. Quando a vida dos estudantes chega a esta fase as dúvidas podem ser – são, quase sempre – mais que muitas. É natural, é um admirável mundo novo que se abre. Ao longo das últimas páginas procurámos acender algumas luzes sobre a melhor forma de lidar com os desafios que a formação superior em Portugal implica. Já percebemos que as dificuldades são comuns a milhares de alunos que, ano após ano, procuram enriquecer o percurso académico através da frequência de um curso superior. O que apresentamos a seguir é acima de tudo um conjunto de respostas a questões sobre este universo que é o ensino superior. Muitas delas são esclarecimentos de meras curiosidades, mas também podem ajudar a perceber um pouco melhor aquilo de que falamos quando o assunto é a universidade ou o ensino politécnico
QUANTOS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS HÁ EM PORTUGAL? QUANTOS HAVIA EM 1975?
Há 40 anos o ensino superior era frequentado por cerca de 70 mil alunos. Mas a procura pela formação superior em Portugal registou uma explosão na sequência do 25 de Abril. Em 1985 já havia mais de 102 mil estudantes nas universidades do país – em 1986 o número de alunas inscritas ultrapassou pela primeira o número de alunos – e esse valor mais que duplicou na década seguinte. Dos 290 mil estudantes que havia em 1995, o ensino em Portugal volta a disparar para os quase 381 mil nos dez anos seguintes. Apesar desta evolução vertiginosa ao longo das últimas quatro décadas, a partir de 2005 o número de estudantes inscritos sofreu algumas oscilações (primeiro em 2006 e depois a partir de 2011). Este ano inscreveram-se nas faculdades e politécnicos 362 200 jovens, menos 34 mil que no início da crise económica.
QUANTO CUSTA UMA LICENCIATURA NO ENSINO PÚBLICO? E NO PRIVADO?
Para um aluno do ensino superior público, o valor máximo de propinas que poderá pagar por cada ano de estudos é de 1068,91 euros (no ano lectivo 2013/14 o valor era de 852 euros e há dois anos passou, pela primeira vez, a barreira dos mil euros anuais). A este valor acrescem gastos em alimentação, material académico e outros. Ainda assim, os valores no ensino privado são completamente diferentes. As propinas podem variar entre os 350 euros mensais para um licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Lusófona e os 453 euros mensais para uma licenciatura na Universidade Católica do Porto, para dar dois exemplos. A estes valores acrescem, entre outros extras, as taxas de inscrição. De registar que, segundo um estudo da consultora Mckinsey, 38% dos estudantes em Portugal vêem-se forçados a abandonar a formação superior por falta de condições económicas para estudar.
QUANTAS UNIVERSIDADES HÁ EM PORTUGAL? E POLITÉCNICOS? E INSTITUIÇÕES PRIVADAS DE ENSINO SUPERIOR?
Ao todo, há 15 instituições públicas de ensino superior universitário, entre universidades e institutos. No ensino politécnico, Portugal conta com mais 15 institutos, a que acrescem cinco escolas superiores (de Enfermagem, Hotelaria e Turismo e ainda uma Náutica), entre norte e sul, interior e litoral.
QUANTOS CURSOS EXISTEM E QUANTOS FECHARAM?
Há um total de 1067 cursos, entre licenciaturas, mestrados integrados e preparatórios de licenciaturas e mestrados integrados. Para abrirem os cursos têm de ter no mínimo 20 vagas para cada ciclo de estudos e os que tiverem menos de dez alunos inscritos nos dois últimos anos lectivos não podem abrir vagas. Foi isso que aconteceu este ano lectivo com 16 cursos que tiveram de encerrar.
QUAIS SÃO AS UNIVERSIDADES MAIS PROCURADAS?
A Universidade do Porto (UP) foi a instituição de ensino superior mais procurada, com 1,83 candidatos para cada vaga. Foi também a universidade que conseguiu a mais alta taxa de preenchimento de vagas (96%) e ainda a que teve o curso com a nota mais elevada do último colocado – Medicina, com 18,27 valores. Apesar de ser a universidade com a taxa de preenchimento mais elevada, há três instituições que a ultrapassam – as escolas superiores de Enfermagem de Lisboa, Coimbra e Porto, que preencheram todas as vagas. No total, há 15 instituições, em 33, que tiveram uma ocupação superior à média nacional, que é de 74%. A instituição menos procurada foi o Instituto Politécnico de Bragança, com 0,10 candidatos por vaga.
QUAIS OS CURSOS MAIS PROCURADOS?
Medicina ocupa tradicionalmente o lugar de topo e a 1.a fase de candidaturas deste ano lectivo não foi diferente. Os cursos da Universidade do Porto – Faculdade de Medicina (245 vagas) e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (157) – estão em primeiro e segundo lugar. A Engenharia Aeroespacial, do Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa é o terceiro curso mais desejado em Portugal. Arquitectura da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e a Medicina do Minho, Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes da ULisboa, Engenharia Industrial e Gestão da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto surgem logo abaixo. Medicina da Universidade de Coimbra e ainda Medicina da Universidade de Lisboa completam o top 10. No que que toca às áreas, Informação e Jornalismo ocupou o primeiro lugar, com 938 vagas disputadas por 1558 candidatos, o que dá em média 1,66 alunos por vaga. Em segundo lugar surge Direito, com 1913 vagas e 2430 candidatos; seguem-se as Ciências Sociais e do Comportamento, com 3728 vagas e 4720 candidatos; Saúde, com 6710 vagas para 7513 candidatos; Serviços de Transporte, com 83 vagas para 89 candidatos, e Ciências Veterinárias, com 507 vagas para 535 candidatos.
E QUAIS OS MENOS PROCURADOS?
Os cursos de Formação de Professores e de Ciências da Educação estiveram no último concurso entre os menos procurados pelos alunos candidatos ao ensino superior. Os dados da Direcção-Geral do Ensino Superior revelam uma oferta de vagas na ordem das 1228 nas áreas ligadas ao ensino, para um total de 680 alunos. Ou seja, 0,55 candidatos por vaga. Nesta relação entre a oferta e a procura por áreas de estudo, Matemática e Estatística, Arquitectura e Construção, Informática, Protecção do Ambiente, Agricultura, Silvicultura e Pescas, Serviços de Segurança e Indústrias Transformadoras são menos procuradas que o ensino. Isto significa que conseguem menos de 0,54 candidatos por vaga.
QUAIS AS UNIVERSIDADES QUE MAIS APARECEM NOS RANKINGS INTERNACIONAIS?
São cada vez mais as instituições de ensino superior que aparecem nos rankings internacionais. O mais recente, U Multirank, financiado pela União Europeia, coloca as universidades de Aveiro, Coimbra, Lisboa, Minho, Nova de Lisboa e Porto entre as melhores do mundo sobretudo em áreas como a investigação. A Universidade do Algarve foi considerada a melhor do país em Medicina. Este ano também se ficou a saber que Nova, Católica, Lisboa, Porto e ISCTE são as universidades portuguesas que têm um total de cerca de 80 mestrados nos rankings da Eduniversal nas mais variadas áreas de formação. O ranking de Xangai, dos mais conceituados mundialmente, incluiu em 2014 três universidades portuguesas: Lisboa (entre o 201.o e o 301.o lugar), Porto (301.o e 400.o) e Coimbra (401.o e 500.o).
QUAL A UNIVERSIDADE COM MAIS ALUNOS?
A Universidade de Lisboa é que tem mais estudantes e isso é resultado da fusão entre a antiga Universidade de Lisboa, fundada em 1911, e a Universidade Técnica de Lisboa (1930). Com a fusão, em Julho de 2013, a instituição juntou quase 50 mil alunos, passando a ser a quarta maior universidade da Península Ibérica e uma das maiores da Europa. Os números de estudantes contemplam todos os graus de ensino – licenciaturas, mestrados, doutoramentos e pós- graduações. Maiores que esta superuniversidade na Península Ibérica só as universidades de Barcelona, Complutense de Madrid e a de Granada, com 87 486, 83 694 e 70 mil alunos, respectivamente.
QUANTOS ALUNOS ERASMUS ESTIVERAM A ESTUDAR EM PORTUGAL O ANO PASSADO? E QUANTOS ALUNOS FORAM ESTUDAR PARA O ESTRANGEIRO?
Portugal é um país bastante procurado por alunos estrangeiros para aqui realizarem uma parte da sua formação superior. Mas as universidades portuguesas são também ponto de partida para milhares de jovens que pretendem complementar os seus estudos no estrangeiro. Tanto assim é que em 2012/2013 – ano em que os números estão mais consolidados – se registou uma subida de 9% desta emigração temporária académica face ao ano anterior, e de resto superior à subida da União Europeia. Em números líquidos, as instituições de ensino superior portuguesas acolheram naquele ano quase 10 mil estudantes da União Europeia – chegaram 9898 a Portugal, a maioria provenientes de Espanha, Polónia e Itália. O intercâmbio é equilibrado: isto é, estes três países são também, na mesma ordem, aqueles que mais estudantes portugueses acolhem. Para fora das fronteiras nacionais partiram mais de 7 mil jovens portugueses. Espanha, mas também França e Alemanha, foram os destinos mais procurados naquele ano, na soma de todos os estudantes europeus que partiram ao abrigo do programa Erasmus. Os estudantes têm em média 22 anos, a maioria fica seis meses longe de casa e recebe, também em média, 272 euros por mês de bolsa.
QUANTOS ALUNOS ERRARAM NA ESCOLHA DO CURSO?
Errar na escolha do curso é mais frequente do que se pode julgar. Os dados do portal InfoCursos mostram que 21% dos estudantes já não estavam a frequentar o curso ao fim do 1.o ano. A maior parte (12,5%)
Universidade de Coimbra estavam a estudar no ensino superior, outros 4,2% estavam inscritos noutro curso e noutra instituição e uma minoria (4,2%) mudaram-se para outro curso da mesma instituição. Os dados são relativos aos alunos que ingressaram no ensino superior em 2011/2012 e não incluem os alunos que abandonaram o curso nos anos seguintes, podendo estes números ser ainda maiores. A plataforma do Ministério da Educação e Ciência mostra ainda que, do total de alunos que entraram no ensino superior em 2012- 2013, 9,1% (4275 alunos) ingressaram através de concursos de mudança de curso ou de transferência.
O QUE FAZER QUANDO SE ESTÁ NO CURSO ERRADO?
Existem três caminhos para os alunos que estão no curso errado. O primeiro é mudar de curso no mesmo estabelecimento de ensino ou noutro. O número de vagas, as regras de acesso e o calendário de candidatura são definidos por cada instituição. A transferência é a alternativa para quem pretende mudar para o mesmo curso superior mas para uma instituição de ensino superior diferente. Tal como no caso anterior, o número de vagas, as regras de acesso e o calendário de candidatura são definidos por cada uma das instituições. Fazer uma nova candidatura é a terceira opção e a que pode dar mais trabalho: concorrer pelo concurso nacional de acesso, o que implica repetir os exames nacionais. Não esquecer que neste caso é preciso pedir também uma nova senha para acesso à candidatura online.
QUAL É O INVESTIMENTO DO ESTADO NO ENSINO SUPERIOR?
O mais fácil será dizer que os cortes no investimento público em formação superior são consequência da crise. Este ano o ensino superior viu as dotações de verbas que lhe são atribuídas pelo Orçamento do Estado encolher 91 milhões de euros (o valor é apresentado em conjunto com a acção social, mas o corte para as universidades e politécnicos foi de 1,5% em comparação com o ano anterior). Contas feitas, este sector recebeu cerca de 950 milhões de euros. Há pelo menos quatro que os responsáveis das universidades e politécnicos se deparam, em Outubro – altura em que é conhecida a proposta do governo para o Orçamento do Estado do ano seguinte –, com um conjunto de palavras repetidas até à exaustão: “redução, racionalização, optimização”. O ponto máximo do investimento público em educação aconteceu em 2009, quando o governo de José Sócrates reservou cerca de 9 mil milhões de euros para o sector.
QUANTOS ALUNOS SE MATRICULARAM ESTE ANO NO ENSINO SUPERIOR?
No início deste ano lectivo, as faculdades e politécnicos de todo o país tinham mais de 362 mil estudantes inscritos. A maioria (quase 194 mil) são alunas, uma superioridade que se registou pela primeira vez em 1986 e que nunca mais foi invertida. Há quase 30 anos que as mulheres estão em maioria no ensino superior. Mas o universo de estudantes tem vindo a reduzir-se nos últimos anos. Quase no final da década de 70 (1978) havia 81 582 jovens num ensino superior de acesso ainda bastante restrito. Esse número cresceu, cresceu e voltou a crescer até 2003, ano em que se quebrou pela primeira – e única – vez a barreira dos 400 mil estudantes universitários. As candidaturas oscilaram durante alguns anos até que, em 2012, se registou nova aproximação: mais de 396 mil estudantes inscritos. E daí em diante? Como já se percebeu, o cenário voltou a piorar. As inscrições foram de queda em queda até atingirem níveis de há 15 anos. Não será ainda caso para dizer que estudar é um luxo, mas pouco faltará.
QUANTOS LICENCIADOS HÁ EM PORTUGAL?
No ano passado, o gabinete oficial de estatística da União Europeia (o Eurostat) revelou que 29,2% dos portugueses entre os 30 e os 34 anos tinham concluído uma licenciatura. O número dava conta de um aumento de 2% face ao ano anterior, mas ainda assim Portugal continuava (e continua) longe da meta que traçou para 2020. Daqui a cinco anos o país deveria ter 40% desta faixa da população licenciada. A média de licenciados na Europa a 28 era, em 2013, de 36,8% dos habitantes entre os 30 e os 34 anos. Segundo dados do INE, em Fevereiro deste ano havia em Portugal mais de 1,4 milhões de licenciados. Só em 2001 o país teve pelo menos 10% da população com formação superior concluída. Em 1998, por exemplo, eram quase 872 mil.»
(reprodução de artigo JORNAL i online, de 30/04/2015)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
Sem comentários:
Enviar um comentário