«Braga tem, através da varanda do restaurante do Hotel do Elevador no Bom Jesus, uma vista excelente sobre a cidade e os montes que a rodeiam e permite até, em dias especiais, ver uma nesga do mar ( para ver melhor ainda, o canudo faz falta…).
Um dia destes tive a possibilidade de fruir essa vista. Não me demorei muito na cidade, que é, aliás, numa primeira impressão, uma massa compacta de construções umas sobre as outras, com a agradável excepção do Monte do Picoto, mas dediquei antes particular atenção ao campus da Universidade do Minho, o denominado campus de Gualtar para o distinguir do campus de Azurém do pólo de Guimarães.
O Campus de Gualtar, que também faz parte da cidade (não se esqueça…), merece um olhar atento a partir do Bom Jesus. Ele impressiona pela positiva, mas também pela negativa.
Pelo lado positivo, ele mostra-nos pela sua dimensão e pelo número dos seus edifícios uma das maiores universidades portuguesas. Sobre os aspectos negativos, falaremos de seguida.
Antes de mais, deveremos dizer que o campus vai, ainda que possa parecer estranho, para além dos seus limites. A norte, entra pelos olhos o imponente edifício do novo hospital (O Hospital da Universidade como deve ser chamado). Não se pode dizer que seja bonito nem que esteja bem situado. Está no alto de um monte encostado ao campus, mas fora dele. Parece aliás, visto de longe, que não tem acessos. Magoa, por outro lado, ver construções junto do edifício, do lado nordeste, que claramente não deviam ali estar. A sul, no outro extremo e também fora do campus, chama atenção o espaço (ainda parcialmente verde) da Quinta dos Peões. A quinta que deveria ser da Universidade e que por razões tristes, que não cabe aqui descrever, foi parar de mão pública à mão de particulares. Quer o Hospital quer a Quinta dos Peões fazem naturalmente parte do campus e isso deve sempre ser tido na devida conta.
Entremos agora no campus, começando pela parte superior. A noroeste, um pouco mais abaixo do hospital, está a bonita Escola de Ciências da Saúde com aquela extensa linha recta branca, tão simples como bem conseguida, delimitando a parte mais elevada do edifício. Enriquece ainda a escola (e o campus) o pinhal que a bordeja e que dali desce até à Escola de Direito, no extremo poente do Campus. A parte poente, porém, está longe de merecer aplauso. É um conjunto pouco harmonioso de escolas, uma das quais voltada ao contrário. Vale, pelo menos, o alinhamento norte-sul e cércea dos edifícios.
Logo em frente desta fila de escolas, voltada para nascente, está outra zona verde - o denominado Parque Central - parte nobre a merecer o maior cuidado pois ali tudo de bom e de mau se pode fazer. Depende de um plano de detalhe que não existe ainda ou, pelo menos, não está devidamente actualizado e aprovado.
Mais para nascente ainda, numa larga faixa que faz face com a velha EN que conduz a Chaves e sobe até à via de circulação interna que atravessa o campus de nascente para poente, está um grande conglomerado de edifícios. Ali atropelam-se três complexos pedagógicos, a biblioteca geral e várias escolas que não se distinguem devidamente umas das outras. É o campus da 1ª fase, que foi crescendo ao longo dos anos (não é por acaso que os complexos pedagógicos são todos diferentes e não estão todos juntos). Fazendo parte deste conjunto mas um pouco mais para nordeste está o Pavilhão Desportivo que não se pode dizer bonito mas está bem delimitado e visível .
Merece ainda particular referência uma extensa zona verde, na parte superior do campus, notando-se no meio dela um pequeno campo de futebol. Ela estende-se de nascente para poente e sobe de sul para norte, tendo já implantados, na parte inferior, duas importantes construções: o edifício dos Serviços Técnicos da UM e o da Cantina com o bem conhecido Restaurante Panorâmico. É um espaço que valoriza o campus e precisa de muito cuidado.
E quanto à Quinta dos Peões? O que vai surgir ali? A Universidade e o Município devem cooperar para encontrar a melhor solução.
Tudo isto que até agora dissemos remete para actividade de planeamento urbanístico de que nem a Cidade nem a Universidade são bom exemplo. A jovem Escola de Arquitectura da UM pode ter aqui um papel relevante. E a opinião pública, quer da academia quer do município, devem ter a oportunidade de participar nas soluções. Têm esse direito. O município de Braga e a Universidade do Minho serão julgados positiva ou negativamente pelas gerações futuras pelo que se fizer no campus e à volta dele.
Professor da Escola de Direito e membro do Conselho Geral da UM»
(reprodução integral de artigo de opinião publicado na edição de hoje do Diário do Minho)
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