«É evidente o benefício de juntar universidades, que são o principal repositório da nossa capacidade científica, com empresas, a alavanca de mercado para esta capacidade.
Espera-se para breve a aprovação do acordo de parceria entre o Estado Português e a União Europeia para os próximos anos, o Portugal 2020. Este acordo tem como um dos objetivos centrais aproximar o sistema científico e a indústria, com cerca de 3 mil milhões de euros para apoiar diretamente a investigação, o desenvolvimento e a inovação.
É evidente o benefício de juntar universidades, que são o principal repositório da nossa capacidade científica, com empresas, a alavanca de mercado para esta capacidade. Mas esta ligação constitui um desafio que está longe de ser ultrapassado. Segundo o World Economic Forum, a colaboração universidade-indústria em I&D terá mesmo diminuído entre 2008 e 2013 em Portugal.
Existem razões conhecidas para esta situação. Por um lado, a presença na economia de muitas empresas de baixa e média tecnologia traduz-se em pouco investimento em I&D, individualmente ou com universidades. Quando procuram a universidade, muitas vezes é para serviços técnicos e não I&D. As universidades, por sua vez, demonstram pouca flexibilidade na definição das suas prioridades científicas e, por isso, não procuram o envolvimento empresarial nos seus projetos, que naturalmente têm outras prioridades.
Mas o afastamento entre empresas e universidades é induzido pelos próprios instrumentos de financiamento da I&D. Para apoiar a ciência temos a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), cujos peritos se preocupam essencialmente com o mérito científico dos projetos, que o corresponde à sua missão. A I&D nas empresas não é financiada por estes projetos, pelo que estas têm participações marginais. Como resultado, o impacto económico dos projetos é muitas vezes ténue. Para apoiar a indústria temos entidades como a Agência de Inovação, ou programas como o Compete. Os avaliadores destas iniciativas procuram projetos inovadores com potencial económico, mas em que a dimensão científica é pouco relevante. Neste contexto, o envolvimento das universidades e a valorização científica dos projetos são pequenas.
A necessidade de uma visão integrada da ligação entre ciência e empresas imposta pelo novo acordo de parceria pode alterar o panorama. Surge uma oportunidade única para pensar programas de financiamento dirigidos a projetos simultaneamente com elevado potencial de impacto científico e forte oportunidade de exploração comercial. Estes programas, que não existem em Portugal, são algumas das iniciativas de inovação, empreendedorismo e ligação universidade-empresa com mais sucesso a nível internacional. A DARPA, na defesa e o ARPA-E, na energia, ambas nos EUA, são porventura os expoentes máximos destas iniciativas.
A Agência Nacional de Inovação cuja criação foi anunciada recentemente terá a responsabilidade de desenvolver estes programas de ligação. Existindo muitas dimensões a serem consideradas, vale a pena destacar algumas que me parecem críticas para o seu sucesso: (i) o envolvimento de empresas e entidades científicas como promotores em paridade, sendo possível apoios diretos às duas partes; (ii) projetos avaliados por peritos científicos, como na FCT, e também por especialistas que considerem a dimensão económica, tal como no Compete; (iii) alinhamento com áreas definidas como estratégicas para o país; (iv) requisito de lançamento de "startups", para que o empreendedorismo esteja na sua génese.
O Portugal 2020 é uma grande oportunidade para alterar o panorama Português de ligação entre ciência e mercado. É imprescindível não a desperdiçar.
Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics»
(reprodução de artigo Jornal de Negócios online, de 07 Abril 2014 - por Francisco Veloso)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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