«“As fontes de financiamento para o trabalho científico secam. Perante esta crise as políticas públicas para a investigação são acometidas de restrições ideológicas pouco percebidas no plano científico”, este é um dos muitos alertas deixados por José Paquete Oliveira, professor jubilado do ISCTE e actual provedor do leitor do jornal ‘Público’, convidado para a conferência inaugural que marcou o início dos trabalhos científicos do II Congresso Mundial de Comunicação Ibero-americana que decorre até amanhã, na Universidade do Minho.
O encontro reúne quase 800 participantes, inclui 160 sessões de grupos temáticos e três sessões plenárias que juntam especialistas do espaço ibero-americano para debater língua e inter-culturalismo, política científica e prioridades de investigação em comunicação.
“Num tempo em que finalmente a grande parte dos nossos países estava a conseguir estabilizar o número crescente dos profissionais de investigação, surge a crise que estrangula, desestimula esta nova era do nosso patamar de linhas de investigação. Este estádio de maturidade que é a afirmação do trabalho feito pelos nossos centros de investigação, pelas nossas universidades é atacado por lógicas economicistas” adverte Paquete de Oliveira, defendendo que cabe aos cientistas desmistificar o critério de definição de excelência e qualidade que “hoje erradamente é a eficácia do mercado que garante a excelência académica”.
‘Comunicação, Cultura e Internacionalização’ é o mote do congresso, a que Paquete Oliveira acrescenta “desafios, delimitações e efeitos perversos”.
O provedor do leitor do jornal ‘Público’ destacou o imenso espaço ibero-americano que em termos de superfície representa quase 20 milhões de km2 e se somarmos a população destes países formamos uma população superior a 600 milhões de habitantes.
No plano linguístico, factor determinante para o nosso entendimento, se juntarmos a língua espanhola e a língua portuguesa somamos uma comunidade de cerca de 570 milhões de falantes. Segundo um estudo feito recentemente sobre o potencial económico da línguas portuguesas e espanhola, a proximidade do espanhol e do português levou a um significativo desenvolvimento de iniciativas ibero-americanas que tendem a fomentar esta inter-compreensão.
Paquete de Oliveira lembra que a Argentina foi o primeiro país a ter o português como língua estrangeira e oferta obrigatória de todo o sistema de ensino, seguindo-se a Galiza, bem como em Portugal tem sido crescente o número de alunos que nas opções de ensino escolhem o espanhol como matéria de estudo.
“Se o principal desígnio deste congresso é encontrar e estreitar caminhos para a internacionalização, no campo científico e cultural, não podemos negligenciar a prática e a inter-compreensão das nossas línguas como estratégica para conseguirmos os nossos objectivos”, vincou.»
(reprodução de artigo CORREIO DO MINHO online, de 15 de Abril de 2014)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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