«Tem razão o Presidente da República em insistir na estabilidade como factor primordial na criação de confiança – interna e externa. Tal como é premente a estabilidade no sistema de ensino e a sua rápida adaptação aos requisitos da economia digital.
Os investidores comparam e avaliam um conjunto de fatores considerados decisivos para o investimento num determinado setor (industrial, serviços, financeiro) num determinado país. Os dois fatores decisivos para estabelecer operações em Portugal são, em primeiro lugar, a estabilidade e a transparência do ambiente político, legal e regulatório e, em segundo lugar, a qualidade e a diversidade da força de trabalho.
Estas são as duas características consideradas mais importantes para a atratividade de Portugal de acordo com o estudo de opinião da EY realizado em 2014 a um painel de 200 administradores e diretores de empresas de vários países, a maior parte europeias, das quais um pouco mais de metade com operações em Portugal.
Todavia, os líderes de empresas estabelecidas em Portugal continuam a valorizar muito a infraestrutura de transportes e logística, seguida dos custos de trabalho – presume-se que por serem baixos –, refletindo o facto de muitas das empresas que representam serem industriais e exportadoras. Fatores que antes pesavam na decisão de investimento, como I&D e o ambiente de inovação e a importância da língua portuguesa como instrumento facilitador nas interações com a lusofonia, são agora considerados pouco importantes.
Por seu lado, os líderes de empresas não estabelecidos em Portugal colocam em primeiro lugar a estabilidade, a qualidade e a diversidade da força de trabalho. Também importante para esses investidores é a dimensão do mercado interno, que, como se sabe, é pequena.
A diferença de opinião entre os estabelecidos e os não estabelecidos revela não apenas objetivos estratégicos diferentes (mercados externos e mercado interno), mas também reflecte a melhoria da percepção quanto à qualidade profissional dos portugueses. Num momento em que há na Europa procura de engenheiros, existe aqui uma oportunidade que está a ser aproveitada sobretudo pelo setor dos serviços: são pessoas sem emprego com qualificações onde predominam as humanísticas. De novo, surge a questão dos menores custos de trabalho, mas desta vez em relação a pessoas com maiores qualificações. Todavia, escasseiam profissionais de engenharia e pessoas que, além disso, também dominem disciplinas relacionadas com a gestão.
Escrevi há uns anos neste jornal que o melhor ativo português são os portugueses. Esta é também a opinião de alguns dos principais líderes da indústria em Portugal. “Se eu tivesse de selecionar apenas uma característica verdadeiramente distintiva de [Portugal], colocaria a ênfase na qualidade do nosso capital humano”, disse Carlos Melo Ribeiro da Siemens, empresa que contrata centenas de engenheiros saídos das universidades portuguesas, no estudo da EY sobre a atratividade de Portugal.
Mas, o antigo leader da VW Autoeuropa, António de Melo Pires, considera que Portugal ainda sofre as consequências da entrada tardia na Revolução Industrial e que o modelo de ensino das universidades e politécnicos tem de se adaptar a um mundo em mudança. Diz que há falta de recursos humanos adequados, o que cria uma situação estranha: há desemprego, mas há vagas por preencher em posições bem pagas. E acrescenta: “Não há outra alternativa para a sociedade portuguesa – e consequentemente para a indústria doméstica — que a de qualificar os seus recursos humanos, o seu mais valioso ativo.”
Tem razão o Presidente da República em insistir na estabilidade como fator primordial na criação de confiança – interna e externa. Estes dados sugerem que o ‘branding’ para posicionar Portugal como destino de investimento estrangeiro se apoie nas seguintes ideias: a) afirmação de estabilidade e transparência política, legal e regulatória, e b) pessoas qualificadas, diligentes e prontas para mais e mais qualificação. De imediato, é preciso estabilidade no sistema de ensino e a sua rápida adaptação aos requisitos da economia digital.»
Nuno Cintra Torres
Investigador e Professor Universitário
- O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
(reprodução de artigo ECONÓMICO online, de 11 de maio de 2016)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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