«Instituições cobram entre 2000 e 7000 euros. Países lusófonos e asiáticos são as apostas
As universidades e politécnicos já têm 594 alunos estrangeiros inscritos para fazer licenciaturas. E estes universitários pagam uma propina que varia entre 2000 e 7000 euros anuais, acima do limiar imposto para os alunos nacionais, que é de 1065 euros.
Esta é uma das formas de financiamento das universidades e politécnicos que às licenciaturas juntam ainda os estudantes estrangeiros que frequentam mestrados e doutoramentos. Dois ciclos do ensino superior que garantem um encaixe financeiro muito importante pois as respetivas propinas também são elevadas.
"Estes alunos são mais exigentes porque também pagam um valor mais alto pela formação"
Aquando da aprovação do estatuto que permite o acesso especial de alunos estrangeiros (EEI), o próprio governo sublinhava a possibilidade dada às instituições públicas de "fixar propinas diferenciadas, tendo em consideração o custo real da formação". Esse ronda normalmente 2000 a 3000 euros, em instituições como os politécnicos de Leiria e de Coimbra e nas universidades de Trás-os--Montes e Alto Douro ou a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Entre as mais caras são as licenciaturas nas universidades do Minho e de Coimbra (entre 4500 e 7000 euros). Já os mestrados e doutoramentos no ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa podem chegar aos oito mil euros.
Para ajudar a captar alunos lá fora, o governo criou uma plataforma - Study in Portugal - para promover de forma centralizada o ensino superior. Aproveitando os bons resultados das instituições nos rankings internacionais.
Alunos mais exigentes
Este é o segundo ano letivo desde a aprovação do estatuto do estudante internacional (EEI) e o número agora recolhido pelo DN vai certamente crescer, uma vez que as inscrições ainda estão a decorrer.
Certo é que as universidades e politécnicos têm estado a preparar-se para "conquistar" estudantes que acabam por ser um fator importante na estabilidade financeira das mesmas.
"É uma forma de as instituições terem algum encaixe financeiro. Mas também é preciso ter em conta que estes alunos são mais exigentes pois pagam um valor mais alto pela sua formação", sublinhou em declarações ao DN o vice-presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, Nuno Ferreira
Apesar de a abertura aos estudantes internacionais estar no início, as universidades e politécnicos têm já estratégias com vista a conseguirem captar mais alunos fora do espaço da União Europeia. Cursos em inglês, divulgação em feiras internacionais de ensino e facilitar o reconhecimento de formações estrangeiras, estão entre as medidas aplicadas. Para já, a maior parte dos estudantes que entram no ensino superior nacional ao abrigo deste estatuto especial chegam de países de expressão portuguesa (Brasil, Angola, Moçambique) e de acolhimento de emigrantes (EUA, Venezuela), mas também , por exemplo, da China, que encaram Portugal como um destino mais em conta para fazer um curso superior, mas dentro da União Europeia.
O DN questionou as universidades públicas e os politécnicos sobre quantos alunos receberam no ano passado e neste ano ao abrigo do EEI. Entre os que responderam e já têm dados (em alguns casos as inscrições estão ainda a decorrer) estão já admitidos quase 600 alunos apenas nas licenciaturas, juntando-se algumas dezenas para os mestrados. Além de estes números não serem ainda finais, não responderam universidades como a de Aveiro e de Lisboa, e os politécnicos de Lisboa e do Porto, que pela sua dimensão fazem com certeza este número subir.
Recorde-se que o estatuto aprovado em janeiro do ano passado permite o acesso especial de alunos estrangeiros - sem a necessidade de fazerem os exames nacionais -, mas limita o número de vagas disponíveis de acordo com as criadas para os estudantes portugueses. Neste ano estes números ainda não foram divulgados, mas no ano passado eram mais de sete mil.
Porém a larga maioria não foi ocupada, uma vez que, como lembra o vice-presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, Nuno Ferreira, "o estatuto foi regulamentado muito tarde [em março] e as instituições não conseguiram lançar uma estratégia a tempo. Foi uma espécie de ano zero".
Neste ano, o politécnico de Coimbra vai acolher 220 alunos internacionais para a licenciatura e mais cerca de 180 para mestrado. Esta é uma das instituições que resolveram lançar licenciaturas e mestrados em inglês. Se nas formações em português conseguem atrair os países de língua portuguesa, nestes cursos chegaram a estudantes indianos e nepaleses, essencialmente. Estes alunos vêm em especial para cursos de Engenharia, Turismo e Gestão.
Com o desafio também de chegar ao maior número de potenciais alunos, o Politécnico de Portalegre assinou na semana passada "um acordo para o reconhecimento oficial do exame nacional do ensino médio para o ingresso automático de alunos brasileiros".
O Brasil é um dos principais mercados para o ensino superior português. A este, a Universidade de Coimbra, que neste ano vai receber 196 alunos internacionais, junta o mercado chinês. Onde o "público-alvo é sobretudo os alunos que pretendem fazer uma carreira associada às ligações crescentes, e de grande importância estratégica, da China com os países de língua portuguesa", justifica o vice-reitor para as Relações Internacionais, Joaquim Ramos de Carvalho. As áreas mais procuradas são Direito, Economia e Línguas, com uma propina de 7000 euros.
A Universidade do Porto indicou que no último ano letivo receberam 11 estudantes ao abrigo do estatuto. Mais uma vez numa estratégia com os países da comunidade de países de língua portuguesa, e os países emergentes da Ásia e sa América Latina, "pela oportunidade de estudos na Europa" que podem oferecer.»
(reprodução de notícia DIÁRIO DE NOTÍCIAS online, de 19 de outubro de 2015)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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