«Ciência e Inovação em 2013, por Vasco Teixeira
Nesta última crónica do ano, e atendendo à minha atividade universitária e no domínio científico, considero ser importante destacar alguns dos projetos inovadores e cientistas que marcam o ano de 2013. É, contudo, um desafio difícil pois em tão pouco espaço de escrita não poderei referir tudo o que foi marcante. Mas é a minha visão pessoal e também a minha homenagem aos colegas cientistas.
A relevância da investigação científica é hoje cada vez mais considerada como fator indispensável para garantir maior competitividade da economia europeia e ampliar as fronteiras do conhecimento humano.
O final de 2013 caracteriza-se pelo início do Programa-Quadro Horizonte 2020 que é o maior programa de financiamento de ciência e inovação a nível mundial e o 3º maior programa da União Europeia.
Fazer ciência nas universidades tem sido um pouco complicado nos últimos tempos, atendendo a situação de recursos limitados. As universidades viram os seus orçamentos diminuírem drasticamente, e são confrontadas com algumas limitações à autonomia universitária que dificultam a capacidade das universidades e dos seus centros de investigação procurarem receitas alternativas ao Orçamento do Estado. Mas felizmente os investigadores ainda procuram, pela excelência do seu trabalho, garantir a qualidade de investigação obtendo financiamento competitivo nacional e internacional. A FCT está a proceder à avaliação e reorganização das unidades de I&D e todos nós esperamos que a qualidade e competitividade da investigação em Portugal no contexto da UE melhorem significativamente.
O conhecimento é essencial no Espaço Europeu da Investigação e a comunicação da ciência faz parte integral da natureza da investigação científica. A comunicação e divulgação da ciência junto da sociedade e, em particular, dos jovens é uma tarefa importante. Neste domínio é indiscutível que a personalidade a destacar é Rosalia Vargas, presidente da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica - Ciência Viva - e também diretora do Pavilhão do Conhecimento.
Foi eleita presidente da maior rede europeia de museus e centros de ciência, o European Collaborative for Science, Industry and Technology Exhibitions, e é a primeira vez que uma mulher preside a esta organização. É hoje indiscutível que existe uma perceção da ciência e da tecnologia pela sociedade muito mais consolidada do que existia há anos atrás, graças a Rosalia Vargas e equipa que coordena.
Outra cientista, Maria Mota, galardoada com o prémio Pessoa 2013, pela investigação do parasita da malária no Instituto de Medicina Molecular (IMM). Esta doença ainda é responsável por cerca de um milhão de mortos anualmente. Maria Mota juntamente com Miguel Prudêncio, líder de outra equipa no IMM, está a desenvolver uma vacina contra a malária, com financiamento da Fundação Gates.
Ligado a malária mas na inovação industrial refiro 2 empresas no Minho (Smart Innovation e Success Gadget) que apostaram na nanotecnologia para produzirem fibras têxteis com nanopartículas, e que aplicadas em t-shirts repelem o mosquito responsável pela transmissão da malária.
Tiago Brandão Rodrigues na Universidade de Cambridge descobriu uma técnica que recorre à ressonância magnética hipersensível para observar a atividade das células cancerígenas através do modo como consomem glicose, o que permitirá monitorizar com maior precisão a eficácia dos tratamentos de cancro.
A nível institucional destaco a Fundação Champalimaud e a Universidade do Minho (com orgulho, a minha “casa”).
A Fundação Champalimaud presidida por Leonor Beleza foi criada após a morte de António Champalimaud, em 2004, que deixou parte da fortuna pessoal em testamento para a criação de uma instituição dedicada à investigação médica. O Centro de Investigação Champalimaud, dedica-se a investigação do cancro e neurociências mas também presta serviços de tratamento clínico. Rui Costa e Zachary Mainen do Programa de Neurociência da Fundação Champalimaud são os investigadores que integram o consórcio do Human Brain Project (Projeto do Cérebro Humano) da Comissão Europeia que decorrerá de 2013 a 2023 com financiamento estimado de 500 milhões de euros.
São dois os projetos de Tecnologias Futuras e Emergentes da CE, o Human Brain Project e o Graphene Flagship. O consórcio Graphene Flagship (investigação em nanociências ligada ao grafeno) vai receber 500 milhões de euros da UE durante 10 anos. O projeto é liderado em Portugal por Nuno Peres, da Escola de Ciências da Universidade do Minho. A descoberta do grafeno deu o Nobel da Física a Andre Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester, com quem Nuno Peres colabora desde 2005.
A Universidade do Minho também merece destaque pelo excelente desempenho na captação de financiamento competitivo no âmbito de programas nacionais e europeus. No QREN a UMinho teve 64 projetos de I&DT financiados em co-promoção com empresas nacionais, totalizando 14 milhões de euros, no ON.2 cerca de 18 milhões de euros e no atual 7ºPQ viu aprovados 75 projetos de IDT correspondendo a 21 milhões de euros.
Rui Reis fundador do Grupo 3B's na UMinho um dos 3 melhores centros de I&D da Europa (com uma carteira em projetos de 34 milhões de euros) é o investigador nacional com maior número de publicações e tem sido distinguido com alguns dos mais importantes prémios internacionais. Foi-lhe atribuída uma das maiores e mais prestigiadas bolsas - a Advanced Grant do Conselho Europeu de Investigação (ERC).
Votos de Bom Ano para todos e para a Ciência!»
(reprodução de artigo CORREIO DO MINHO, de 28-12-2013)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]