quarta-feira, 29 de abril de 2009

Do imenso poder do voto secreto

Aos/Às Descontentes Com o Estado a Que as Coisas Chegaram,

Sois em geral professores auxiliares. Apanhados uns e outros na máquina trituradora de talentos e alentos, instalada em cada canto, da academia minhota.
Conduzem tais máquinas os colegas de uma geração, que se arroga de ter sido construtora da academia no passado, mas que hoje se encontra confortavelmente instalada em cátedras da indiferença.

Sois aqueles que ainda não atingiram a almejada nomeação definitiva. Sois martelados, ora de forma directa ou indirecta, com a ameaça do despedimento, enquanto vos exigem a excelência, que eles (os que exigem) não possuem e portanto também não promovem. Não raramente vos sobrecarregam com as tarefas de gestão e outras que não vos competem, acenando-vos com a promessa do prémio de serdes aceites. Quantas vezes tendes que leccionar para turmas de centenas de alunos, sozinhos, sem apoios, mas desprezando-vos vos exigem que publiqueis nas ISIs e nas Scopus deste mundo, sob pena máxima de não vos reconhecerem como investigadores.

Se já tendes a nomeação definitiva e buscais a excelência, no lugar de vos acarinharem, confinam-vos ao beco sem saída da existência sem reconhecimento e sem progressão de carreira. E lembram-vos, regularmente, que ainda não sois do quadro, pois tal está apenas reservado aos catedráticos e associados. E que, portanto, sois dispensáveis.

Sois excluídos, por via do estatuto (essa grande desculpa para a discriminação activa), de qualquer órgão de gestão preponderante da academia. Usam o subterfúgio do canal hierárquico para vos fazerem silenciar. E quantas vezes, apenas vos restam os meios electrónicos (como este) ou as sessões plenárias para fazerdes ouvir a vossa voz.

E no final, vejam só, até se arrogam de vos dominarem a vontade e as consciências listando-vos às centenas em supostos movimentos unanimistas.

A academia precisa de consciências livres, não alinhadas, precisa que não vos deixeis cair em lógicas de controlo baseadas no medo, na coerção e nas promessas vagas de quem está acomodado e nada deseja alterar.

Sem os professores auxiliares (todos sem exclusão), a academia resumir-se-ia a um imenso deserto, seco, sem ciência nem inovação, movido por tempestades de burocracia e guerrilhas de interesses, estéreis e inúteis.

A academia precisa que exerçais o poder imenso que está nas vossas mãos e que ninguém vos pode tirar: o voto. Que sendo secreto escapa ao controlo instalado da nomenclatura. Sendo maioritário, pode fazer a diferença.

Saudações amigas,

Adérito Fernandes Marcos
(Professor Auxiliar c/ Agregação)
LISTA C
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Post Scriptum: (Esclarecimento) RE: Do imenso poder do voto secreto

Cara(o)s Colegas,

Infelizmente as mensagens difundidas por correio electrónico são passíveis de diversas acepções incluindo aquelas não pretendidas pelo seu autor.

Assim e no sentido de evitar eventuais mal-entendidos gerados pela interpretação da reflexão que hoje vos fiz chegar venho esclarecer que a mesma não visa pessoalizar casos, incluindo o meu particularmente, e não se baseia nem pretende reflectir a situação ou experiências específicas de nenhum departamento, e muito menos, o do meu actual - o Departamento de Sistemas de Informação - pois tal seria inexacto e injusto.

O documento é uma reflexão e denúncia de um estado geral que considero, na minha opinião, existir na UM. Dirigida aos descontentes, em especial.
Vale pela opinião e convicções pessoais do seu autor, tendo em conta não só a experiência pessoal mas também e sobretudo aquelas geradas pelo contacto com os colegas.

E como todas as opiniões é passível de crítica e discussão.
Pelo que estou disposto a analisar os pontos denunciados em sede de um fórum aberto a todos, sempre de forma construtiva e conciliar.

Bem haja quem tenha abertura para discutir problemas concretos da academia e não apenas belos modelos teóricos.

Saudações amigas,

Adérito Fernandes Marcos

[mensagem(ens) entretanto distibuída(s) universalmente na rede electrónica da UMinho]

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