quarta-feira, 4 de março de 2009

Falando dos Leitores da UM

«Já não era sem tempo que alguém se lembrasse de trazer à comunicação social o caso dos docentes universitários - talvez - mais desprezados do ensino superior português: os Leitores.
Louvando o artigo da Professora Maria Luísa Malato Borralho publicado ontem no Público será talvez banal dizer que a situação dos Leitores da UM não é de todo diferente daquela retratada, em termos gerais neste artigo.
Aliás, como se lê no artigo, estes docentes "mais fracos" são os que garantem o ensino das línguas vivas praticamente em todas as universidades portuguesas e obviamente também na UM. Ora, na Universidade do Minho, falando dos leitores falamos de mais ou menos de 40 docentes - do Instituto de Letras e Ciências Humanas - que, com a mesma seriedade e a mesma competência que se esperam de um qualquer outro professor universitário, leccionam: Alemão, Árabe, Catalão, Checo, Chinês, Espanhol, Francês, Galego, Japonês, Inglês, Italiano, Russo, Turco e todas as vertentes culturais e as aplicações específicas que existem para estas línguas.
Além disso, falando dos Leitores da UM falamos, ao mesmo tempo, de docentes com uma distribuição de serviço que ultrapassa - abundantemente e por norma - às 12 horas semanais previstas pelos ditos contractos renováveis - ou não - e que, ainda nestas condições, conseguem: organizar e/ou participar em encontros científicos nacionais e internacionais; publicar artigos, livros, ensaios; integrar equipas de projectos de investigação; leccionar cursos e seminários de especialização; organizar actividades de animação e mediação linguístico-cultural; desenvolver investigações doutorais e, apesar das condições, concluí-las.
Em suma, falando dos Leitores da UM falamos de docentes universitários que reúnem os requisitos que se esperam de um qualquer outro académico. O que muda radicalmente são "apenas" as condições; aliás, um leitor faz doutoramento mas NÃO tem equiparação e isenção de propina; um leitor publica artigos, livros, ensaios mas estes NÃO contam para a sua carreira; um leitor trabalha na universidade mas NÃO tem garantias contratuais; um leitor é um elemento do corpo docente mas NÃO tem direito de votar e ser votado.
Falando dos Leitores da UM falamos de 40 vossos colegas em permanente "estado de excepção" para os quais o estatuto de docente universitário foi esvaziado de qualquer direito e em relação aos quais a própria Universidade do Minho manifesta pouca solidariedade e preocupação. Aliás, neste sentido será tranquilizador saber que na UM, como nas outras universidades do país, existem docentes inexplicavelmente desiguais para os quais o meio universitário se define em relação às oportunidades e aos direitos que NÂO oferece e garante.
Dito isto, apelo então a quem os direitos os tem, aos docentes de carreira, aos membros do Conselho Geral recentemente eleitos e a todos os que podem participar da vida institucional desta universidade que se preocupem um pouco mais com os colegas para os quais estes direitos são vedados, na convicção de que uma universidade que garante igualdade de oportunidades, práticas éticas e excelência académica também para os "docentes fracos" será uma universidade melhor não apenas para eles mas para todos.

Elena Brugioni
Leitora»
*
(reprodução de mensagem distribuída universalmente na rede electrónica da UMinho pela sua autora, nesta data, reagindo a uma outra recebida do Sindicato Nacional do Ensino Superior, também distribuída na mesma sede, intitulada «Ensino_superior_ Artigo de opinião em o "Público" - A Torre de Babel: o estatuto de Leitor»; publicação neste fórum autorizada pela autora)

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