«Temos, em Portugal, desde há
quase 40 anos, um governo democrático das universidades públicas. Sucederam-se,
neste domínio, duas leis fundamentais publicadas ao abrigo da Constituição :
a Lei n.º 108/88 de 24 de Setembro (Lei da Autonomia Universitária)
que vigorou durante quase vinte anos e a Lei n.º 62/2007, de 10 de
setembro (Regime Jurídico das
Instituições de Ensino Superior) que vigora atualmente. Nos termos desta lei e
de acordo com os princípio do governo democrático, o reitor, órgão executivo, responde pelos
seus atos perante o conselho geral,
órgão deliberativo e fiscalizador que, na Universidade do Minho(UM), é
constituído por 23 membros. Por sua vez, o conselho geral responde perante a
comunidade académica.
Faz
parte ainda da essência do governo democrático, como sabemos, a livre circulação de informação e opinião e
assim a crítica. Já tivemos oportunidade de escrever neste espaço sobre a
importância da crítica (DM de 19-11-2014)
e não precisamos por isso de a recordar. Falar de governo democrático em
abstrato é fácil, praticá-lo é mais complicado e também, nas universidades, a democracia não se resume a eleições de quatro em quatro anos. (Note-se a
este propósito que, não por mero acaso, o mandato dos órgãos das
universidades tem uma duração igual ao dos órgãos das autarquias locais e
do governo da República).
A
democracia não se esgota, importa repetir, na representação. Ela exige a
participação crítica, séria e continuada, para bom funcionamento do sistema de
governo democrático. Essa participação é
um direito e um dever que aqui
exercemos, chamando a atenção do conselho geral da UM para aspetos que, como é natural, não
percorrem, longe disso, todos os temas
que são relevantes:
-
A atuação do reitor carece de ser devida e continuadamente escrutinada no muito sensível e importante domínio dos concursos.
-
A assessoria jurídica é um serviço que precisa de estar bem organizado e de ser competentemente dirigido para o bom funcionamento da UM dentro do Direito.
-
A gestão dos Campi e nomeadamente do Campus de Gualtar precisa de planeamento.
Não se compreende que falte um projeto
para ser devidamente publicitado e debatido na academia sobre a enorme (e por isso preciosa) parte verde
do Campus de Gualtar, que continua a ser um campo de ervas.
-
A criação de um jornal independente de informação e opinião deve ser estimulada. A UM já o
teve por iniciativa de um reitor. O facto de ter acabado, de um modo abrupto, não é
motivo para não voltar a existir.
Pelo contrário, o modo como acabou é um claro
testemunho da falta que faz , ainda que organizado em novos moldes.
Exercer
o direito de participação em democracia nem
sempre é fácil e frequentemente tem custos elevados, mas muito mal vai uma academia quando o
silêncio ou o medo da crítica impera.
António
Cândido de Oliveira»
(reprodução de artigo de opinião do colega identificado, publicado hoje no Diário do Minho)
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