sexta-feira, 8 de julho de 2011

"Escrever bem não é um problema da tradicional disciplina de Língua Portuguesa"

«Caros alunos,
independentemente de a chamada de atenção em público para erros de escrita não ser recomendável, dever-se-á reconhecer que na expressão "gostaria de pedir a quem gosta de gelados (...), se voluntariá-se a participar" não estamos perante um banal erro ortográfico ou um lapso, mas sim perante um erro gramatical grave. Na minha experiência docente tal erro é cometido por cerca de 40 % dos alunos que me têm passado pelas mãos. Não sou especialista da Língua Portuguesa, mas a meu ver trata-se de confundir a forma verbal do imperfeito do conjuntivo [que se voluntariasse] com uma espécie de conjugação reflexa em que os ss da palavra "voluntariasse" são convertidos no pronome pessoal reflexo "se", acabando o resultado [voluntariá-se] por ser coisa nenhuma. E de acordo com esta “regra” muito típica temos expressões como chamá-se, passá-se, levá-se, parti-se, movê-se, etc. Outras confusões com a conjugação verbal e os pronomes pessoais são do tipo chamar-mos, calcar-mos, mover-mos, passar-mos, partis-te, envias-te, lavas-te, etc.
Permitam-me sugerir que em vez da vitimização com a suposta ausência de bons professores de português, se esforcem por escrever o melhor possível: consultem gramáticas, dicionários, a Internet para esclarecer as vossas dúvidas. Muito do que mal se escreve é fruto do desleixo, negligência, preguiça mental…
Escrever bem não é um problema da tradicional disciplina de Língua Portuguesa; é antes um problema de todas as matérias curriculares, pois a boa comunicação oral e escrita na engenharia, na gestão, …etc. não se resolvem em aulas de Língua Portuguesa, embora a boa formação de base nessa disciplina seja uma importante alicerce.
Para o bem e para o mal a qualidade da escrita diz sobre as pessoas muito mais do que aquilo que está escrito. A escrita é instrumento de veiculação do pensamento e igualmente ferramenta de construção do pensamento. Lembrem-se que verdadeiramente só revelam conhecer uma determinada matéria quando a expressam numa linguagem pessoal, resultado de uma construção própria. A mera reprodução de enunciados retirados das fontes pouco nos diz acerca do nível de conhecimentos. É por isso que o esforço de construção de uma linguagem própria sobre as matérias é um processo fundamental para uma aprendizagem de qualidade. Com isso melhora a qualidade do conhecimento e a qualidade da linguagem oral e escrita.
Deixo-vos para vossa reflexão, em anexo, um texto que escrevi há 4 anos.
Cordiais saudações.

Joaquim Sá»

(reprodução integral do corpo principal de mensagem entretanto distribuída universalmente pelo seu signatária na rede electrónica da UMinho)

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