segunda-feira, 20 de julho de 2009

Prestação de contas (12)

1.
A vida académica é absorvente e os colegas compreenderão que não possa “prestar contas” com a regularidade que eu próprio gostaria. Aproveito um intervalo deste fim de semana para escrever estas linhas.
Elas ocupar-se-ão fundamentalmente da eleição para o Reitor marcada para 7 de Outubro. Entretanto, na ordem do dia, estão outras preocupações tais como a devida instalação do Conselho Geral, a actualização da página oficial da Universidade do Minho na internet ( não informa devidamente e até engana quem a consulta) e também a divulgação do edital relativo às eleições.
Quanto a estas, importa dizer que não será fácil a vida do novo Reitor.

2.
Tentemos ver, antes de mais, em traços breves, a situação actual no nosso país.
A corporação do ensino superior (e particularmente a corporação universitária a que pertencemos) reclama do Governo mais meios, mais dinheiro, acusando-o de uma prática de marginalização e atrofiamento deste importante ramo do ensino.
A corporação judicial (incluindo a do Ministério Público) reclama do Governo mais magistrados e mais funcionários, melhores instalações e meios para debelar a crise existente, acusando-o de querer dificultar a acção da justiça.
A corporação dos médicos e dos enfermeiros reclama mais dinheiro para os hospitais e centros de saúde, melhores condições de trabalho, mais e melhores instalações, acusando o Governo de desprezar a saúde dos portugueses.
A corporação das polícias reclama melhores salários, mais pessoal, menos pressão no tempo de trabalho, acusando o Governo de pôr em causa a segurança das pessoas.
A corporação dos militares diz-se abandonada e revela a sua indignação quanto ao corte nos meios e exige ela também mais dinheiro, chegando a fazer apelos a formas menos próprias de manifestar a insatisfação pela actuação do Governo.
A corporação das autarquias locais insurge-se também contra a fatia de verbas que recebe do Orçamento do Estado queixando-se da política centralista do Governo.
(Note-se ainda que cada corporação julga que é ela a mais desprotegida e a mais atacada de todas)
A reivindicação por mais meios, o que equivale quase sempre a mais dinheiro a exigir do Governo sempre com base nas melhores razões (educação, saúde, segurança, justiça, qualidade de vida), não se esgota nestes sectores que constituem a denominada “função pública” e abrange ainda os agricultores, que pretendem mais subsídios, os pequenos comerciantes ameaçados pelo grande comércio, os industriais das pequenas e médias empresas que têm a vida cada vez mais difícil e que reclamam por isso apoio.
Nem de longe esgotaremos a lista de descontentes se a ela juntarmos ainda as queixas de desempregados e aposentados e as das IPSS ( instituições particulares de solidariedade social) todos a criticarem o Governo e a exigirem mais apoio, ou seja, mais dinheiro.

3.
Será que tudo isto vai mudar depois das férias de verão com um novo Governo situado, de acordo com as preferências possíveis (poupo as soluções extremas) mais para a esquerda, mais para o centro ou mais para a direita?
Há quem acredite que sim e que as universidades, os hospitais, os tribunais, as polícias e os militares (para falar só na função pública) vão ter dinheiro com um bom governo a escolher depois das eleições de 27 deSetembro, se não abundante pelo menos suficiente para solucionar os problemas que hoje defrontamos.
Pela minha parte não acredito nisso e depois de eleições vamos ter um Governo (cuja data de formação é sempre imprevisível e nas actuais circunstâncias ainda mais) contra o qual iremos continuar a gritar por mais dinheiro e por mais meios.

4.
É esse o futuro que nos espera e que espera o novo Reitor da UM. Ora, que há-de ele fazer?
Pois bem, terá de governar a UM com escassez de meios, utilizando-os da melhor forma possível. E é aqui que a tarefa se apresenta particularmente difícil.
Antes de mais ele vai receber uma Universidade que não sabe em que estado financeiro está ou pelo menos só se sabe que está mal. É a universidade portuguesa conhecida por divulgar que nem sequer tem dinheiro para pagar salários. Numa situação assim, certamente o melhor e mais adequado acto de gestão inicial será, porventura, o de apurar a real situação financeira.
Depois é sabido como funcionam mal alguns importantes serviços centrais da UM na área administrativa, financeira e técnica. Repare-se que a UM se tem dado ao luxo de funcionar há vários anos sem um Administrador, figura que está prevista nos estatutos e que é fundamental – desde que possuidor das necessárias aptidões - para assegurar uma boa gestão corrente dos serviços. Poderá o novo Reitor continuar a desprezar a existência de um bom Administrador? E que critérios vai seguir para o escolher?
Numa situação de escassez de meios, o novo Reitor vai ter de avaliar, por outro lado, com todo o cuidado as necessidades de pessoal e de tomar as medidas que resultarem dessa avaliação. Não vai ser tarefa nada fácil e neste aspecto vai ser necessária a solidariedade de todos.
O novo Reitor vai ter muito naturalmente de continuar a criticar o Governo (seja ele qual for) e ao mesmo tempo conseguir obter através do orçamento e por outros meios lícitos que não ponham em causa a autonomia da UM as verbas necessárias para que ela progrida. Vai ter necessidade de demonstrar as suas qualidades neste domínio-chave da gestão política da instituição.
A Universidade do Minho precisa de eleger um novo Reitor, mas não um Reitor qualquer.
Para eleger um bom Reitor são precisas boas candidaturas.
É tempo de as apresentar!
(O prazo decorre entre 20 de Julho e 10 de Setembro de 2009)

António Cândido de Oliveira
Membro do Conselho Geral

Sem comentários:

Enviar um comentário