Ocupei hoje, dia 29 de Agosto, parte substancial da tarde numa reunião com uma doutoranda de origem brasileira. Surpreendeu-se a dita doutoranda por eu ter agendado a reunião de trabalho com ela para um tempo que ela presumia ser de férias (as minhas férias). Disse-me a propósito que, no Brasil, em tempo de férias, os professores estão ausentes da universidade durante todo período, e, até, nem se prevê que possam aceder aos seus gabinetes de trabalho.
Em resposta, disse-lhe que “as férias” eram para mim a oportunidade de pôr em dia trabalho em atraso e, de quando em quando, ir espreitar o campo ou o mar e, também, de trocar o gabinete de trabalho na Escola pelo que tenho em casa e, ainda, de correr menos do que o habitual. Aceito que outros tenham melhor vida, isto é, melhores férias. Algum mérito ou sorte hão-de ter para o conseguir.
Tendo por certo quanto me custa “ganhar a vida”, é com perplexidade que assisto ao percurso que fazem certas pessoas que conheço, algumas há demasiado tempo, a quem a vida parece custar muito pouco, mesmo não se vislumbrando nelas mérito especial, aparte a facilidade com que alardeiam ser o que nunca foram. E a verdade é que, geralmente, vão fazendo o seu percurso sem grandes atribulações, quando não com inesperado sucesso, aos olhos de quem os conhece um pouco melhor.
Creio que é a elas que se dirige o dito popular que reza qualquer coisa próxima do seguinte: “Pode enganar-se uma pessoa toda a vida, pode enganar-se muita gente durante muito tempo, mas não se pode enganar toda a gente o tempo todo”. Não questiono tal afirmação, fundada que é na sabedoria cozida pelo tempo lento da existência dos povos. Pergunto-me, no entanto, se não haverá alguns que são enganados porque gostam ou não se importam de o ser, posto que, não raras vezes, em nome de projectos e ambições pessoais, ignoram o que está à vista, não digo de todos, mas de muita gente. Sendo de um modo ou de outro, tenho para mim que não pode, depois, quem se coloca em tal posição achar ter sido enganado.
Contrariamente ao que se passará no Brasil, em Portugal, no tempo que corre, é disto que é feito o dia-a-dia de um professor universitário ou, pelo menos, de bastantes deles, mesmo em tempo de férias. Disto, quero dizer, de trabalho e do confronto com muita perplexidade.
J. Cadima Ribeiro
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