1. O texto que aqui publiquei em 08/05/15 suscitou umas quantas reacções; de aplauso umas mais que outras. A propósito, oferece-se-me dizer que há mais de 25 anos que colaboro, mais ou menos regularmente, com a comunicação social impressa sob a forma de artigos de opinião, textos de divulgação técnico-científica e comentário a situações que me são ocasionalmente colocadas. Raramente me chegam reacções ao que escrevo ou tenho eco do acolhimento que os textos encontram. Mesmo em sede dos meus “jornais de parede” (vulgo, blogues), os comentários ao que publico são escassos, infelizmente.
Atribuo isso, genericamente, à falta de cultura do exercício de cidadania, fruto de uma sociedade que foi pouco habituada a e pouco preparada para o debate das suas metas colectivas e que é pouco exigente com os seus “lideres” e consigo própria. Na falta dessa cultura “democrática”, confunde-se amiúde divergência de leituras com agravos pessoais.
Como referi, o tom das reacções foi diverso. Agradeci quer as manifestações de adesão quer as de rejeição. Conforme expliquei na resposta a algumas das mensagens recebidas, um dos objectivos do texto de opinião em causa era levantar questões sobre o que vamos fazendo nas nossas instituições de ensino superior e fomentar o debate sobre para onde queremos ir, algo que, conforme tenho reiteradamente afirmado, tem escasseado no ensino superior nacional, e que a tutela também não promove.
2. Neste exercício sobre o arame que é ser professor, hoje em dia mais do que no passado, fruto do “empenho” do governo na promoção da ciência e da qualificação dos portugueses, acontece-me comummente ser solicitado a pronunciar-me sobre diversos assuntos de suposto interesse geral. Na mais recente solicitação, o tema era o liberalismo que vamos tendo. Viviam-se, ainda, os últimos dias do consulado de Luís Filipe Menezes no PSD.
Na resposta, fui buscar a um blogue de Braga (Avenida Central) um comentário que concluía com a afirmação seguinte: “Acho que este pessoal perdeu o pé e a cabeça, nesta conjuntura política complicada para o PSD, em que o PS ocupou o espaço da direita neoliberal.” E a um outro (Ladrões de Bicicletas), na mesma data, fui buscar a afirmação de que “Temos alguns bons estudos sobre pobreza e desigualdade. Mas precisamos de muitos mais. Estudos que analisem o papel da «neoliberalização» progressiva do país na consolidação e reforço de uma imensa fractura social. Estudos que mostrem como as desigualdades têm impacto em todas as dimensões que importam.”. “Não consigo imaginar tópico mais importante para a economia política como teoria social”, concluía o autor da mensagem.
Interrogava eu e interrogava-me, de seguida, sobre o que tinham em comum as duas citações retidas, isto é, porque surgia esta adjectivação de “neoliberal” das realidades a que se reportavam: partidos políticos, no primeiro caso; gestão da economia e da dinâmica social, no segundo? Questionava, também, qual a actualidade do debate que se sugeria implícito nestas leituras de situação?
A resposta que propunha vinha depois; a saber: neoliberal é a designação conferida aos revisionistas liberais do presente, quer dizer, são liberais no contexto económico e social do início século XXI (e, antes, do final do século XX). O tempo e o espaço são elementos informadores essenciais do pensamento e da postura das pessoas. A relação entre a economia e a política é óbvia: é o primado do mercado na afectação dos recursos ou são mecanismos administrativos a definir “o que produzir”, “como produzir”, “para quem produzir”.
Concluía a minha breve reflexão com a afirmação de que, em quase todos os casos, hoje em dia, nos deparamos com economias ditas mistas e era aqui que surgia a oportunidade para que fosse questionado o nível de atendimento das necessidades básicas do comum dos cidadãos e, logo, o grau de justiça social prosseguido pelos agentes políticos. Esta é, naturalmente, uma questão eminentemente política. É-o mais quando a política é assimilada a gestão de interesses, interesses de grupos restritos: grupos económicos; grupos políticos.
3. Aqui chegados, sai esclarecida a ausência de espaço para a afirmação de uma alternativa política por parte do PSD a que o autor da primeira citação que apresento em 2. se refere. Do mesmo modo, daí se percebe a progressão da “fractura social” invocado na segunda e, igualmente, com um pouco mais de jeito, a dificuldade que temos, em Portugal, de discutir as coisas sérias que nos afectam e nos vão tolhendo o passo.
Atribuo isso, genericamente, à falta de cultura do exercício de cidadania, fruto de uma sociedade que foi pouco habituada a e pouco preparada para o debate das suas metas colectivas e que é pouco exigente com os seus “lideres” e consigo própria. Na falta dessa cultura “democrática”, confunde-se amiúde divergência de leituras com agravos pessoais.
Como referi, o tom das reacções foi diverso. Agradeci quer as manifestações de adesão quer as de rejeição. Conforme expliquei na resposta a algumas das mensagens recebidas, um dos objectivos do texto de opinião em causa era levantar questões sobre o que vamos fazendo nas nossas instituições de ensino superior e fomentar o debate sobre para onde queremos ir, algo que, conforme tenho reiteradamente afirmado, tem escasseado no ensino superior nacional, e que a tutela também não promove.
2. Neste exercício sobre o arame que é ser professor, hoje em dia mais do que no passado, fruto do “empenho” do governo na promoção da ciência e da qualificação dos portugueses, acontece-me comummente ser solicitado a pronunciar-me sobre diversos assuntos de suposto interesse geral. Na mais recente solicitação, o tema era o liberalismo que vamos tendo. Viviam-se, ainda, os últimos dias do consulado de Luís Filipe Menezes no PSD.
Na resposta, fui buscar a um blogue de Braga (Avenida Central) um comentário que concluía com a afirmação seguinte: “Acho que este pessoal perdeu o pé e a cabeça, nesta conjuntura política complicada para o PSD, em que o PS ocupou o espaço da direita neoliberal.” E a um outro (Ladrões de Bicicletas), na mesma data, fui buscar a afirmação de que “Temos alguns bons estudos sobre pobreza e desigualdade. Mas precisamos de muitos mais. Estudos que analisem o papel da «neoliberalização» progressiva do país na consolidação e reforço de uma imensa fractura social. Estudos que mostrem como as desigualdades têm impacto em todas as dimensões que importam.”. “Não consigo imaginar tópico mais importante para a economia política como teoria social”, concluía o autor da mensagem.
Interrogava eu e interrogava-me, de seguida, sobre o que tinham em comum as duas citações retidas, isto é, porque surgia esta adjectivação de “neoliberal” das realidades a que se reportavam: partidos políticos, no primeiro caso; gestão da economia e da dinâmica social, no segundo? Questionava, também, qual a actualidade do debate que se sugeria implícito nestas leituras de situação?
A resposta que propunha vinha depois; a saber: neoliberal é a designação conferida aos revisionistas liberais do presente, quer dizer, são liberais no contexto económico e social do início século XXI (e, antes, do final do século XX). O tempo e o espaço são elementos informadores essenciais do pensamento e da postura das pessoas. A relação entre a economia e a política é óbvia: é o primado do mercado na afectação dos recursos ou são mecanismos administrativos a definir “o que produzir”, “como produzir”, “para quem produzir”.
Concluía a minha breve reflexão com a afirmação de que, em quase todos os casos, hoje em dia, nos deparamos com economias ditas mistas e era aqui que surgia a oportunidade para que fosse questionado o nível de atendimento das necessidades básicas do comum dos cidadãos e, logo, o grau de justiça social prosseguido pelos agentes políticos. Esta é, naturalmente, uma questão eminentemente política. É-o mais quando a política é assimilada a gestão de interesses, interesses de grupos restritos: grupos económicos; grupos políticos.
3. Aqui chegados, sai esclarecida a ausência de espaço para a afirmação de uma alternativa política por parte do PSD a que o autor da primeira citação que apresento em 2. se refere. Do mesmo modo, daí se percebe a progressão da “fractura social” invocado na segunda e, igualmente, com um pouco mais de jeito, a dificuldade que temos, em Portugal, de discutir as coisas sérias que nos afectam e nos vão tolhendo o passo.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado em 2008/06/19, no Jornal de Leiria, que recupero aqui, nesta data, porque a memória conta, assim como contam muitas outras coisas de que nos esquecemos facilmente, no quotidiano)
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