domingo, 31 de julho de 2016

"Os idiotas vão tomar conta do mundo", aliás, já estão a tomar


(reprodução de mensagem que nos caiu entretanto na página do `Facebook`, e que nos parece ser um enunciado particularmente realista do momento que vivemos)

sábado, 30 de julho de 2016

quinta-feira, 28 de julho de 2016

"Despacho do Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com a nomeação dos curadores da Fundação Universidade do Minho"

«GABINETE DO MINISTRO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR
[dp_2016_036]

DESPACHO
Considerando que, nos termos do n.º 1 do artigo 8.º dos Estatutos da Fundação Universidade do Minho, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 4/2016, de 13 de janeiro, o seu conselho de curadores é composto por cinco personalidades de elevado mérito e experiência profissional reconhecidos como especialmente relevantes;
Considerando que, nos termos do n.º 2 da mesma norma legal, os curadores são nomeados pelo Governo sob proposta do Conselho Geral;
Sob proposta do Conselho Geral da Universidade do Minho;
Ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 8.º dos Estatutos da Fundação Universidade do Minho aprovados pelo Decreto-Lei n.º 4/2016, de 13 de janeiro:
Nomeio o conselho de curadores da Fundação Universidade do Minho, com a seguinte composição:
Guilherme Valdemar Pereira d'Oliveira Martins;
Isabel Maria Gonçalves Folhadela Furtado;
José Manuel Maia Dionísio;
José Manuel Mendes;
Maria Isabel Fernandes.

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,
a) Manuel Heitor.»

(reprodução do conteúdo do Despacho, datado de 26 de julho, do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, referente à matéria em título, aproveitando o conteúdo do pdf do referido documento distribuído aos membros da Escola de Engenharia pelo Presidente da referida Escola da Universidade do Minho, em 27 de julho de 2016)

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Comunicado SNESup: "Negociação Suplementar Emprego Científico"

«Colega

O SNESup reuniu na passada sexta-feira, 22 de julho de 2016, com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Esta reunião desenvolveu-se na sequência do pedido de negociação suplementar enviado pelo SNESup com o objetivo de apresentar uma proposta para resolução dos conflitos relativos ao Projeto de Decreto-Lei “Estimulo ao emprego científico”.

Nas duas reuniões anteriores, o SNESup apresentou um conjunto de propostas de alteração ao Projeto de Decreto-Lei “Estimulo ao emprego científico” para valorizar e dignificar o emprego científico e, em simultâneo para colmatar as necessidades permanentes do Sistema Científico e Tecnológico Nacional.

O SNESup opõe-se às propostas defendidas pelo atual ministro, Professor Doutor Manuel Heitor, que apresenta um projeto de diploma sobre Emprego Científico, que substitui o programa Investigador FCT, envolve apenas 14% dos bolseiros de pós-doutoramento e cuja norma acentua a precariedade, introduz escalões mais baixos de remuneração e prepara-se também para consagrar profundos cortes no financiamento direto ao trabalho científico.

Notem-se algumas questões no projeto de diploma proposto pelo governo:

i) Mantém-se a figura do bolseiro de investigação para investigadores doutorados;
ii) Possibilita-se que as instituições possam contratar investigadores através de contratos a termo e a termo incerto;
iii) Permite que as contratações sejam efetuadas com um nível de remuneração muito diversificado (a partir do índice 28) mas sempre inferiores aos índices remuneratórios previstos no Estatuto da Carreira de Investigação Científica, e nos termos a definir pela instituição que abre o concurso;
iv) Não configura o acesso à carreira, nem aos investigadores que vierem a ser contratados pelo presente regime nem aqueles que foram contratados pelos programas anteriores (Ciência207/2008 e Investigador FCT);
v) Revoga o Programa Investigador FCT que contrata investigadores (5 anos) com mecanismos equiparados aos do Estatuto da Carreira de Investigação;
vi) Abre a possibilidade dos atuais investigadores com bolsa de Pós-doutoramento da FCT há mais de 3 anos poderem ser contratados através de procedimentos concursais realizados pelas instituições em que os bolseiros desempenham funções. A remuneração será obrigatoriamente pelo índice 28 (ordenado ilíquido de 1870,88 euros/mês) e os encargos resultantes da contratação destes doutorados serão suportados pela FCT através de contrato a realizar com as instituições de acolhimento dos bolseiros que vierem a ser contratados.

De todos estes elementos, só a primeira parte do expresso na alínea vi) corresponde à indicação de transformação de bolsas em contratos. Trata-se do “Artigo 23.º Norma transitória” e aplica-se apenas ao ano de 2016, segundo uma forma convoluta dependente da vontade de algumas instituições.

Ora, tal como vimos na reação dos diversos agentes e organizações, o ponto convergente encontra-se na conversão das bolsas em contratos de trabalho, garantindo uma verdadeira dignificação do emprego científico.

Na reunião de sexta-feira, o SNESup centrou a sua atenção no Artigo 23.º Norma transitória, apresentando um conjunto de propostas capazes de gerar amplo consenso, incluindo:

i) Até ao final de 2017, as instituições contratam sem outras formalidades, todos os bolseiros doutorados que manifestem vontade nesse sentido e que celebraram contratos de bolsa na sequência de concursos abertos ao abrigo do Estatuto de Bolseiro de Investigação;
ii) Os encargos resultantes das contratações de doutorados, ao abrigo do presente artigo, para o desempenho de funções que estivessem a ser exercidas por bolseiros ou investigadores financiados diretamente pela FCT são suportados por esta através de contrato a realizar com a instituição de acolhimento do bolseiro ou investigador, a qual passará a instituição contratante ao abrigo do presente decreto-lei.

Esta proposta foi por nós apresentado com o cálculo preliminar do seu impacto financeiro, que demonstra a sua completa possibilidade.  Pelos nossos cálculos, a transformação de 1000 bolseiros de Pós-doutoramento em 1000 contratos de trabalho (pelo índice 28 como indicado no projeto de Decreto-Lei) tem apenas um investimento líquido do estado de 2,54 milhões de Euros. Com o fim do programa InvestigadorFCT o Estado não irá gastar 8,31 milhões de euros por ano. A possibilidade da conversão de todas as bolsas não possui, como se vê, qualquer questão financeira.

Note-se ainda que os investigadores contratados pelo programa InvestigadorFCT, que não fossem Investigador Principal de um projeto financiado pela FCT, tinham acesso a 50 000 de financiamento (projeto) para iniciar a sua atividade. Logo, os 250 investigadores/ano que não são agora contratados pelo programa Investigador FCT poderiam ter acesso 12,5 milhões de euros em projetos.

Devemos sublinhar que o Ministro Manuel Heitor, não mostrou interesse em discutir as nossas propostas, preferindo salientar os benefícios das bolsas de pós-doutoramento desde que devidamente enquadradas num caracter de formação e que a responsabilidade de contratação de investigadores é das instituições do SCTN.

Para o SNESup:
1) O Estatuto de Bolseiro de Investigação deveria ser restrita ao investigadores em formação (e.g. mestrado e doutoramento);
2) O atual diploma sobre Emprego Científico apresentado pelo senhor ministro institucionaliza a precariedade no SCTN e desprestigia os investigadores, acentuando o desinvestimento em recursos humanos para ciência iniciado pelo anterior governo de direita.
3) A flexibilização e precariezação do emprego científico é uma opção política do atual governo e não o resultado de constrangimentos orçamentais
4) A transformação de cerca de 300-400 bolseiros de doutoramento financiados pela FCT em contratos de trabalho é a peneira com que se pretendia tapar o sol da verdade.
5) A concretização do diploma do emprego científico representa uma oportunidade perdida para a dignificação do sistema.

Todo este processo permitiu que a própria comunidade olhasse e compreendesse melhor a situação organizacional e financeira, demonstrando-se que o problema não está nos recursos, mas sim no quadro institucional.

O trabalho que o SNESup desenvolveu sobre esta matéria terá continuidade num conjunto de ações que se encontram em programação. É fundamental que se encontra uma verdadeira lei de dignificação do emprego científico, que termine com o subemprego e caminhe para a estabilização de vínculos enquadrados no ECIC. Esse é o forte desafio que abraçamos com toda a nossa dedicação.
 
Saudações académicas e sindicais
A Direção do SNESup»

(reprodução de comunicado SNESup distribuído aos seus associados em 2016/07/25)

terça-feira, 26 de julho de 2016

Humor (de verão)


(reprodução de imagem que nos caiu entretanto na página do ´Facebook`)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

"Universidade de Lisboa lança nova gestão, três anos depois da fusão"


«Maior universidade do país admite que as 18 escolas ainda se estão a conhecer. Objetivo é aumentar cursos transversais a várias faculdades e mobilidade de alunos e professores
Três anos depois da fusão, que se assinala hoje, a Universidade de Lisboa ainda está a conhecer-se para poder maximizar o valor da união entre as universidades Clássica e a Técnica. "A fusão juntou 18 escolas, muito diferentes, umas muito grandes e conhecidas de todos, outras mais pequenas e desconhecidas de quase todos", aponta o vice-reitor João Barreiros e para que possam trabalhar em conjunto "é preciso que se conheçam". O que já está a acontecer, mas "ainda leva tempo", admite o responsável. Uma maior ligação vai permitir ganhos de gestão, mas também oferecer cursos transversais em muitas faculdades e escolas da Universidade de Lisboa (UL).
Para aumentar a ligação e o conhecimento, a instituição está a implementar um novo sistema de gestão que vai compilar a informação de natureza financeira de todas as suas unidades, assim como informação sobre docentes, alunos e funcionários administrativos e técnicos, numa aplicação integrada. "Esta é uma ferramenta que custa muito dinheiro, mas que vai estar concluída no final do mandato do reitor, ou seja, em 2017 e vai ajudar muito na gestão da universidade", justifica João Barreiros. No próximo ano, os serviços desta mega-universidade vão também testar o novo sistema de contabilidade para a administração pública. O que, porém, não resolve os problemas que as universidades enfrentam na gestão do dia a dia. Conforme, João Barreiros lembra as universidade precisam de mais autonomia. Precisam "de alguma confiança política e também de diferenciação de atividade deste setor da administração pública". Algo, que João Barreiros defende, as instituições de ensino superior em Portugal merecem, já que têm "boa gestão. As universidades não dão prejuízo, não têm buracos financeiro. A gestão das universidades não nos criou nenhum BANIF ou novos bancos".
Libertarem-se de algumas regras desajustadas da administração pública, permitiria à UL gerir o seu dia a dia com maior eficiência e colmatar problemas como a renovação do corpo docente e não docente. É que apesar da fusão ter resultado numa redução de pessoal - "cerca de 200 pessoas, no seguimento de aposentações que não foi preciso substituir" - a verdade é que os professores estão a reformar-se sem que seja possível formar novos docentes e os serviços de administração pedem cada vez mais pessoal especializado.

Renovação de professores "Como não há renovação do pessoal docente, estamos a contratar novos professores com 40 anos ou mais. E precisávamos de contratar pessoas com 25", além disso, sublinha João Barreiros, essa falha na renovação faz com que "cadeiras em faculdades mais pequenas fiquem sem professor, porque só havia um e ele reformou-se". Já nos serviços, o facto de estarem limitados às regras da administração pública cria problemas na capacidade de contratar pessoas "altamente especializadas". "A nova gestão contabilística das universidades precisa de pessoas com formação imensa. Já não é aquela pessoa jeitosa que sabe fazer contas bem no excel. Tem racional, tem componente jurídica, financeira, é duro, e portanto precisamos de ir buscar, por exemplo, ao setor financeiro pessoas com muita competência, mas nós pagamos 900 euros. Torna-se difícil". Daí a velha exigência por mais autonomia, que permitiria evitar concursos públicos que se arrastam no tempo ou uma maior capacidade de competir na Europa por fundos para a investigação. Em troca: "as universidades aceitam todo o controlo necessário, que de fato já existe".
Enquanto aguarda estas alterações de fundo na forma de gerir os seus fundos e sem aumentos de dotação orçamental à vista, a UL vai usando os ganhos financeiros com a poupança em pessoal para bolsas de doutoramento atribuídas a alunos que não têm condições financeiras e para manter as dotações orçamentais ao mesmo nível de anos anteriores, em todas as escolas.
Com o objetivo de marcar a diversidade da UL também a celebração da fusão tem este ano uma novidade: os prémios vão ser alargados a todas as áreas (ver caixa).
"Acreditamos que a universidade é este todo, que tem coisas como artes, escultura, ciências sociais ou psicologia, mas também tem bioquímica, engenharia ou medicina. E acreditamos que devemos distinguir os melhores nessas áreas, tornar meritório o esforço dos que contribuem de forma mais relevantes para o sucesso da Universidade em todas as áreas".»

(reprodução de artigo DIÁRIO DE  NOTÍCIAS online, de 25 de julho de 2016)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

domingo, 24 de julho de 2016

Consumo diário de antidepressivos por mil habitantes num conjunto de países da OCDE


(reprodução de imagem/gráfico que nos caiu entretanto na página do ´Facebook`)

sexta-feira, 22 de julho de 2016

quarta-feira, 20 de julho de 2016

"Atitude [...] ambígua no que respeita à praxe"

Ministro tenta travar praxes 

(título de mensagem, datada de domingo, 17 de julho de 2016, disponível em O Campus e a Cidade)

domingo, 17 de julho de 2016

sexta-feira, 15 de julho de 2016

"Peer Review—Shame on Us"


«Peer review is a process, albeit flawed, which is critically important to the publication of new scientific knowledge. There is no greater praise for one’s work than the accolades and validation of respected colleagues and no greater reward than to have those same colleagues critique and improve your work. The process of peer review was first applied to academic journalism in 1752 (Kronick DA, Peer review in 18th-century scientific journalism. JAMA. 1990;263(10):1321-1322) with the establishment of the Committee on Papers by the Royal Society of London to review the first scientific journal Philosophical Transactions. In 2016, the peer review process may be single-blinded, double-blinded, or open where authors and reviewers are known to one another and the reviewers may or may not be identified publicly. Virtually all of the most highly cited medical journals use the single-blinded process. The journal Nature is expanding on the traditional process, allowing authors to choose either single- or double-blinded review. JCMS uses the single-blinded process. I contemplated a change to a double-blinded review, as this is intuitively more rigorous, but anonymity is almost impossible to achieve and it requires a significant increase in workload for the administrative managing editor. In addition, the published literature on the subject suggests that the type of blinding does not affect the quality of reviews; therefore, we will continue to utilize the single-blinded process. I recently attended a meeting of the Council of Dermatology Editors, where Ms. Kate Perry, an editor with the publisher Wiley, presented the results of a survey that Wiley undertook in 2015 to better understand the peer review experience. The survey received 2982 responses (1.7% response rate) from reviewers across the geographic and subject areas serviced by Wiley journals. It has been estimated that more than 22 million hours were spent reviewing manuscripts for the top 12 publishers in 2013. The Wiley survey confirmed that the primary reason that reviewers freely give of their time and expertise is to support their research community and “pay forward” the good will of others who have reviewed their work. It was also interesting to note that reviewers are more likely to accept the invitation from prestigious journals, to spend more time reviewing these manuscripts, and to adhere to the journal’s deadlines. Forty-nine percent of reviewers review for more than 5 journals. The survey also noted that recognition and feedback were more important than more tangible rewards. The Wiley survey also revealed that three-quarters of all reviewers stated that they would like more training, with 89% of early career researchers requesting additional training. Peer review is the cornerstone of academic learning and it is taken for granted. There needs to be change, and nothing short of public shaming is likely to accomplish this. Academic institutions need to recognize peer review as an integral component of scientific research and provide it equal merit to other research activities. Societies and institutions that survive and flourish as a result of the unpaid work of reviewers need to recognize reviewer work, provide reviewer training, and lobby academic institutions and granting agencies to formally record and specifically acknowledge our colleagues engaged in the peer review process. JCMS can, I believe, make a difference. I intend to lead by example and address the most significant issues that were elucidated in the Wiley survey. I will seek out an educator to meet the reviewer request for more training. I have initiated a Wall of Honor on the masthead where the names of reviewers will be published in a timely and dynamic manner. SAGE Publications, our publisher, is now integrated with Publons, which is an online service that will record and verify the work of reviewers so that this work may be highlighted for career advancement purposes. I will review the CV formats of our academic institutions and request that a section be allocated for the purpose of listing reviewer work now that Publons is integrated with our publisher. I also hope that each of you—our authors, reviewers, and readers—will take this message to your institutions and speak out for the recognition that our colleagues who undertake peer review deserve.
 
Kirk Barber, MD, FRCPC
Editor-in-Chief, JCMS»

(reprodução de texto com a autoria identificada que colega nos fez entretanto chegar)

terça-feira, 12 de julho de 2016

"Reitores querem financiamento de acordo com os resultados"

«O objetivo é que a distribuição das verbas do Estado seja diferenciada. Mas sem aumento da dotação será difícil

Os reitores das principais universidades querem que o seu financiamento seja aplicado de acordo com os resultados que alcançam. Para isso acontecer era preciso que o bolo total que está destinado ao ensino superior fosse aumentado, algo que, reconhecem, vai ser difícil. Embora recordem que "não é possível tratar toda a gente da mesma forma".
"A posição do conselho de reitores é conhecida. As universidades gostariam de ver o seu financiamento público reforçado, que a divisão da dotação fosse feita de acordo com um diferencial claro e que houvesse um modo de contabilizar as despesas das várias universidades", diz António Cunha, reitor da Universidade do Minho e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). O único entrave sublinhado por António Cunha e outros reitores é que há "desequilíbrios nessa distribuição das dotações e para corrigir isso sem se aumentar a dotação global algumas universidades com situações mais difíceis ficariam ainda mais desequilibradas e isso ia colocá-las num quadro de insustentabilidade".
Apesar de reconhecerem o esforço do ministro Manuel Heitor ao ter conseguido que não houvesse cativações de verbas e de estar a negociar um quadro para a legislatura, os reitores entendem que se podia ir mais longe. João Gabriel da Silva, reitor de Coimbra, lembra que "a formula de financiamento já previa alguma componente tendo em conta a atividade. É um modelo que podia ser aperfeiçoado, mas a prioridade dos últimos anos tem sido não haver demasiados cortes. Por isso, agora já ficaria satisfeito se não houvesse cortes".
Também António Cruz Serra, da Universidade de Lisboa, refere que a atual fórmula de financiamento já contempla essa diferenciação entre as instituições: "A fórmula já tem o número de estudantes, as áreas de ensino com custos diferentes conforme as áreas científicas." Por isso, acredita que o atual cálculo de distribuição já assegurava, se fosse aplicado, esse prémio para quem faz mais e melhor.
A estabilidade é a chave para o reitor da Universidade do Porto. Sebastião Feyo de Azevedo defende a urgência de criar condições de "financiamentos mais justos e consentâneos com a missão das instituições, que não é uniforme no universo universitário". Acrescentando que é "indispensável gizar uma política de financiamento plurianual das universidades e implementar dotações orçamentais públicas mais condizentes com o papel que as instituições têm no desenvolvimento do país".
É também aí que António Rendas, da Universidade Nova de Lisboa, se foca e recupera a ideia do ex-ministro Mariano Gago (em cujo ministério Manuel Heitor foi secretário de Estado) dos contratos-confiança com as instituições. Este compromisso "tem de ser negociado tendo em conta o mérito das instituições, ou seja, não é possível tratar toda a gente da mesma forma. A Nova quer ser avaliada de acordo com aquilo que funciona e os resultados serem refletidos no que é o financiamento". Antes de isso acontecer, porém, "há necessidade de clarificar qual é a situação financeira de todas as universidades e politécnicos".»

(reprodção de notícia DIÁRIO DE NOTÍCIAS online, de 12 de julho de 2016)
 
[cortesia de Nuno Soares da Silva]

segunda-feira, 11 de julho de 2016

"Ensino superior e doutoramentos"

«Seria progresso o ensino politécnico passar a conceder doutoramentos ainda que mesmo sob a argumentação confusa da diferenciação entre doutoramentos universitários e doutoramentos politécnicos?

“A história é émula do tempo, repositório de factos, testemunho do passado, exemplo do presente, advertência do futuro” (Miguel Cervantes).
Durante anos, porfiei na procura da letra de uma lengalenga da minha meninice que se me negava na neblina da memória. Já desesperançado, finalmente, deparei-me com ela numa crónica de António José Saraiva, “um dos espíritos mais fascinantes da cultura portuguesa contemporânea” (José Mattoso),intitulada “A lógica do macaco”: “Do meu rabo fiz navalha / Da navalha fiz camisa / Da camisa fiz farinha / Da farinha fiz menina / Da menina fiz viola / Trim tim tim que vou para Angola” (“Jornal de Letras”, 06/07/1982).
Mutatis mutandi, encontro analogia entre esta lengalenga de metamorfoses e o percurso feito pelo ensino superior politécnico que de um diploma de curta duração (dois anos) fez um bacharelato; de um bacharelato fez uma licenciatura; de uma licenciatura fez um mestrado; e de um mestrado pretendia fazer um doutoramento.
Aliás, nihil novi sub sole! Anos atrás, foi defendida por Rui Antunes, presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, a proposta: “A cidade de Coimbra só teria a ganhar se o Instituto Politécnico de Coimbra continuasse a fazer o mesmo que tem feito até aqui com o nome de Universidade Nova de Coimbra” (Diário de Coimbra, 10/11/2005). Quem sabe se por ter dado pelo plágio relativamente ao nome da Universidade Nova de Lisboa, volta ele à carga propondo, agora, lato sensu, a crisma de ensino politécnico para “Universidade de Ciências Aplicadas” (Diário As Beiras, 05/08/2013).
Em oposição, e com o apoio do movimento associativo estudantil, António Cunha, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), discorda com o fim do sistema binário de ensino superior: “Temos sempre defendido o aprofundamento do sistema binário e uma maior diferenciação entre os sistemas” (PÚBLICO, 08/07/2015).
No ano em curso, sai reforçada esta posição reitoral com a notícia intitulada: “Universidades estão contra doutoramentos em politécnicos” (PÚBLICO, 17/06/2016). Dela relevo as seguintes passagens:
“Os reitores das universidades públicas não querem que os politécnicos passem a atribuir doutoramentos. A medida está a ser estudada pelo Governo e corresponde a uma a uma ambição antiga dos institutos superiores. Em comunicado, os responsáveis universitários defendem que essa solução vai criar uma maior confusão entre as missões dos dois subsectores e será prejudicial para o ensino superior”.
 Em relação à semana anterior, era, também, aí referido que “o Governo está a estudar esta possibilidade e tem-na discutido com os responsáveis das instituições de ensino superior. O que está em cima da mesa não é a atribuição de doutoramentos académicos, o modelo clássico, que se mantém como um exclusivo do sector universitário”.
 Em tentativa de quem procura saída para o beco em que se tinha metido, era esclarecido pelo Governo “ que os politécnicos correspondem à fileira profissional dentro do ensino superior e, portanto, devem poder dar cursos de doutoramento com uma componente profissional ou tecnológica”.
Ao arrepio do “soberaníssimo bom senso”, de que nos falava Antero, a tutela da 5 de Outubro abre portas com a habilidade de as fechar quando as dobradiças começam a ceder. Assim, passados escassos dias, sai neste mesmo jornal uma outra notícia, desta feita, intitulada “Politécnicos não vão formar doutorados” (22/06/2016), esclarecendo que [em audição parlamentar], “o ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, afirma que não pretende permitir que os institutos politécnicos passem a oferecer doutoramentos”, reforçando ser necessário “aumentar as diferenciações entre as instituições de cada um do subsistemas”. Ou seja, descalçando botas que lhe pudessem vir a criar joanetes justificava-se o ministro com ”toda a sua abertura ao debate”.
Pelo poeta polaco Stanislaw Lec, foi levantada a seguinte interrogação: “Será progresso um canibal usar garfo e faca?” Analogamente, seria progresso o ensino politécnico passar a conceder doutoramentos ainda que mesmo sob a argumentação confusa da diferenciação entre doutoramentos universitários e doutoramentos politécnicos, numa espécie de classificação de doutoramentos de primeira e doutoramentos de segunda?
Num país em que, não poucas vezes, se protege o atrevimento, se enaltece a ignorância e se honra o demérito não seria ocasião soberana para se definirem, de uma vez por todas, sem ser a reboque de pressões sindicais, políticas ou de qualquer outra natureza, as linhas orientadoras do sistema oficial de ensino superior? Me arreceio que, em procrastinação, tão ao jeito dos poderes decisórios nacionais, se deixe, uma vez mais, a solução definitiva desta magna questão para as calendas gregas, em desacerto com o preconizado por Victor Hugo: “Saber exactamente qual a parte do futuro que pode ser introduzido no presente é o segredo de um bom governo”.»

RUI J. BAPTISTA 

(reprodução de artigo de opinião Público online, de 11/07/2016)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

"43 novas licenciaturas aprovadas e 36 chumbos"

«Agência avaliou este ano 79 propostas de licenciaturas: cursos ligados ao mar, gestão especializada e terapêuticas não convencionais são novas tendências.

As licenciaturas na área do mar, das terapêuticas não convencionais e da gestão sobressaem da lista dos 43 novos cursos aprovados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) para o próximo ano letivo. Sobressaem porque estão em maior número e, no caso da gestão, apresenta-se em versões especializadas: da restauração ao turismo, à linguística para negócios internacionais. Chumbaram 54% das candidaturas.
As 36 candidaturas reprovadas revelaram, por seu lado, insuficiente classificação do corpo docente ou ausência dos laboratórios indispensáveis, segundo explica ao JN Alberto Amaral, presidente da A3ES.»

(reprodução de notícia JORNAL DE NOTÍCIAS online, de 11 de julho de 2016) 

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

domingo, 10 de julho de 2016

"The ‘war on humanities’"

Artigo Times New Roman
Why are the humanities always under fire? We need them more than ever:
https://www.timeshighereducation.com/blog/why-are-humanities-always-under-fire-we-need-them-more-ever

sábado, 9 de julho de 2016

"Ministro do Ensino Superior expressa ´repúdio total` pelas praxes"

«Manuel Heitor pede um "combate cerrado"a estas práticas académicas.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, expressou nesta sexta-feira, em Braga, o seu "repúdio total" pelas praxes académicas, "qualquer que seja a sua forma", e apelou a um "combate cerrado" àquelas práticas de recepção ao caloiro.
"É uma das maiores pragas que temos de combater", referiu Manuel Heitor, que falava na Universidade do Minho, na abertura de um seminário sobreOrganização e desenvolvimento do ensino superior.
O governante manifestou o seu apoio "a todos aqueles que se têm batido contra a prática de praxes académicas e outras práticas boçais e grosseiras que hoje continuam a ocorrer no contexto do ensino superior em Portugal".
Há dias, 100 personalidades subscreveram uma carta aberta, intituladaIntegração no Ensino Superior: a democracia faz-se de alternativas e dirigida a todas as instituições de ensino superior, em que pedem alternativas à praxe.
Vincando o "repúdio total pelas praxes académicas, qualquer que seja a sua forma", Manuel Heitor adiantou que vai escrever a todos os responsáveis pelas instituições de ensino superior a pedir "um combate cerrado" àquelas práticas.
Para o ministro, terá de haver uma "co-responsabilização" das instituições, "não só dentro das instalações mas de uma forma geral", por se tratar de "um processo social complexo, que tem de ser percebido e combatido diariamente todos os anos".
" [As praxes] devem ser combatidas por todos, estudantes, professores e, muito especialmente, por todos os responsáveis por instituições politécnicas e universitárias, independentemente do local da ocorrência", defendeu.
Sublinhou que o sistema de reporte de praxes está acessível na Direcção-Geral do Ensino Superior e que todos os processos serão enviados para o Ministério Público. "Porque hoje temos de considerar isso como um crime", acrescentou.
Já o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Cunha, defendeu que as universidades "têm de ser espaços de liberdade" e instituições "comprometidas com os valores humanistas". "Ninguém pode ser obrigado a fazer o que não quer fazer", afirmou António Cunha, também reitor da Universidade do Minho.
Para Cunha, as universidades "têm de reagir a comportamentos e práticas que perturbem as demais actividades e que sejam atentatórios da dignidade humana e dos valores humanistas".»

(reprodução de notícia PÚBLICO online, de 08/07/2016)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

"O reitor até concordou em não se fazerem mais elefantes brancos [...]. Esqueceu-se no entanto que noutras áreas continua a promovê-los"

A festa têxtil e os elefantes brancos 

(título de mensagem, datada de sábado, 9 de julho de 2016, disponível em O Campus e a Cidade)

Nota: nem todos são brancos; nalguns casos são prateados e esverdeados.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

"Estudantes que subiram muro que caiu e matou 3 colegas vão a julgamento"

«O Tribunal de Braga decidiu hoje que no caso da queda de um muro que matou três estudantes da Universidade do Minho, naquela cidade, apenas vão a julgamento os colegas das vítimas que foram para cima da estrutura.

A juíza de instrução decidiu não pronunciar um fiscal e um engenheiro da Câmara de Braga e o responsável de uma empresa de condomínios, que também eram arguidos no processo.
Segundo a juíza, a "causa direta" do colapso do muro foi a "pressão exercida" pelos quatro estudantes que foram para cima dele, festejar a vitória numa "guerra de cursos".
Aludiu ao parecer de peritos que disseram que aquela é uma estrutura "que apenas aguenta o seu próprio peso".
"Aquilo não era uma estrutura para se saltar para cima, isso é evidente", sublinhou.
Em relação aos três arguidos não pronunciados, a juíza admitiu que, de alguma forma, beneficiaram do desaparecimento, na Câmara de Braga, do processo físico relativo àquele local.
Ficou, assim, por saber qual foi o teor completo da troca de correspondência entre a Câmara e o administrador do condomínio sobre a alegada falta de segurança do muro e que diligências foram feitas de parte a parte.
O advogado das famílias das vítimas, João Noronha de Carvalho, disse que o processo seria "esclarecedor" em relação ao que se passou, acrescentando que o desaparecimento é uma "coincidência inaceitável e incompreensível".
"As famílias não irão descansar enquanto não puser no banco dos réus a 
Câmara e o condomínio", afirmou, adiantando que será interposta uma ação cível contra ambos.
O caso remonta a 23 de abril de 2014, quando, num contexto de "guerra de cursos", quatro alunos treparam a uma estrutura composta por alvenaria de tijolo e betão, com cerca de um metro e meio de altura e quatro metros de comprimento, destinada a albergar recetáculos de correio, onde, segundo o MP, permaneceram a "cantar e a saltar".
O muro acabou por cair, matando três estudantes que estavam em baixo.
Dos quatro estudantes arguidos, acusados de homicídio por negligência, três requereram a abertura da instrução e foram hoje pronunciados.
Em relação ao outro, há um recurso pendente, sendo que após a decisão desse recurso poderá também requerer a abertura de instrução.»

(reprodução de notícia NOTÍCIAS AO MINUTO, de 8 de julho de 2016)
 
[cortesia de Nuno Soares da Silva]

"Ian McNay advises new researchers on how to get their work accepted by academic journals"

Artigo Times Higher Education
How to get your first research paper published: 
https://www.timeshighereducation.com/news/how-to-get-your-first-research-paper-published/2015485.article


quarta-feira, 6 de julho de 2016

"Bolseiros científicos salientam mérito da contratação mas querem integração na carreira"


«A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) considera que a proposta legislativa de estímulo ao emprego científico, apesar de ter o mérito de prever a contratação de investigadores, peca por não contemplar a sua integração na carreira.
Num parecer, a ABIC refere que o projeto de diploma "é uma iniciativa legislativa de mérito", ao "constituir um primeiro passo de reconhecimento das necessidades dos trabalhadores científicos, mas também de todo o sistema" científico e tecnológico nacional, "que se encontra em estado de profunda desorganização e degradação". Contudo, "planear a contratação temporária de atuais bolseiros que não terão qualquer perspetiva laboral de médio ou longo prazo, nem serão integrados em carreira alguma", parece "mais uma solução paliativa do que uma verdadeira resolução do problema de base", critica a associação.»

(reprodução de notícia CORREIO DA MANHÃ online, de 06.07.2016)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]

terça-feira, 5 de julho de 2016

"Praxe: 100 personalidades pedem às universidades para criarem alternativas"

«“Em democracia, deve haver sempre lugar à escolha, mas só é possível escolher se houver opção, ou seja, alternativas consistentes”, defende carta aberta. Alguns subscritores explicam o que os move.

Músicos e actores, escritores e cineastas, advogados, jornalistas, juízes, deputados, professores universitários... São 100 os nomes que constam da lista de assinaturas de uma “Carta aberta a todas as instituições de ensino superior”, que o PÚBLICO divulga em primeira mão. O tema é a praxe. Ou melhor: as alternativas à praxe a que, segundo os subscritores, os estudantes devem ter acesso quando entram numa universidade ou politécnico.
“Instamos todas as equipas dirigentes das universidades, politécnicos, faculdades e escolas superiores a criar, com carácter duradouro, actividades de recepção e de integração dos novos estudantes e das novas estudantes, ao longo do ano lectivo, que configurem uma alternativa lúdica e formativa às iniciativas promovidas pelos grupos e organizações de praxe”, lê-se na missiva que tem como título Integração no Ensino Superior: a democracia faz-se de alternativas.
É assinada — entre muitos outros — por aquele que é considerado “o pai do Serviço Nacional de Saúde”, o ex-ministro António Arnaut, a rapper Capicua, a jornalista e presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, a apresentadora de televisão e presidente da Associação Corações com Coroa, Catarina Furtado, os cineastas João Salaviza, Margarida Gil, Raquel Freire, os escritores José Luís Peixoto, Miguel Sousa Tavares, Luísa Costa Gomes, Inês Pedrosa, os militares de Abril Vasco Lourenço e Pezarat Correia, o advogado Celso Cruzeiro, a atleta Melissa Antunes...
“Sendo certo que nenhum estudante é formal ou legalmente obrigado a frequentar as actividades de praxe, seja em que faculdade ou escola superior for, a pressão para aderir é muitas vezes muito forte e em si mesma uma violência, e a ausência de outros mecanismos integradores é um facto”, lê-se ainda. “Em democracia, deve haver sempre lugar à escolha, mas só é possível escolher se houver opção, ou seja, alternativas consistentes.”

A juíza que recusou ser praxada

A juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça, Clara Sottomayor, vive no Porto, onde costuma ver, com frequência, “estudantes na rua, de gatas, com penicos na cabeça, a proferir palavras humilhantes para eles próprios”. Diz que o que vê não só “não é pedagógico” como “não é um bom exemplo para a sociedade”. Por isso assinou a carta aberta.

Instamos todas as equipas dirigentes das universidades, politécnicos, faculdades e escolas superiores a criar, com carácter duradouro, actividades de recepção e de integração dos novos estudantes e das novas estudantes, ao longo do ano lectivo, que configurem uma alternativa lúdica e formativa às iniciativas promovidas pelos grupos e organizações de praxe.”



Carta Aberta


Já no seu tempo de estudante, quando em 1983 entrou na Católica do Porto, deparou-se com algumas práticas que considerou incómodas — nessa altura as manifestações praxísticas saíam menos à rua, aconteciam dentro das instituições. “Havia uma fila para uma espécie de tribunal onde os estudantes novos eram julgados e depois obrigados a fazer coisas humilhantes.”

Hoje, a juíza, que é também professora convidada da Católica, recorda que chegou “a ser obrigada a ir para a fila”, mas pediu ajuda a um amigo mais velho que andava na mesma universidade. “Foi-me buscar, tirou-me dali.” Não é verdade, diz, que seja sempre fácil dizer não. “É discutível a liberdade de consentimento nestes casos.” Como lembra a carta aberta, a pressão é grande, sobretudo para os estudantes que vêm de outras cidades, pela primeira vez estão longe da família e sem amigos por perto.
“Não me sujeitei à praxe e não deixei de fazer amigos por causa disso”, remata a juíza. É um mito que a praxe seja a única forma de integrar os novatos.

A deputada que foi para fora

A praxe como integração? “Só se for a integração da boçalidade e da perversão”, responde São José Lapa, actriz. Com 65 anos, não se lembra de no seu tempo, na Escola Superior de Teatro, haver praxe. Mas deixa uma sugestão: soube que um grupo de alunos se organizou recentemente para com os “caloiros” ajudarem a “reconstruir casas numa velha aldeia”. Sustenta que esta, sim, “é uma actividade integradora”. Mas “há tanta coisa mais que se pode fazer...”
Rubina Berardo, 33 anos, deputada madeirense do PSD, estudou no Reino Unido. “E lá não havia praxe, havia uma semana com várias actividades organizadas pela universidade e pelas associações académicas, que tinham uma vertente lúdica, festa, convívios, mas não só. Havia também uma feira de actividades, por exemplo, onde me inscrevi como voluntária numa linha de apoio psicológico para estudantes.”

Achei que fazia sentido reunir pessoas de diferentes quadrantes políticos e sociais, ir além da questão da violência física, que por vezes está associada à praxe, e que é a mais noticiada.”


Luís Monteiro


Nunca lhe agradou a ideia de ser praxada e confessa até que, quando teve que se decidir entre Portugal e outro país para estudar, o facto de haver praxe em Portugal contribuiu para que escolhesse outro país.

Ainda assim, a deputada não acha que se deva proibir a praxe. Gostava antes que houvesse “uma mudança gradual de mentalidades” e a carta aberta que decidiu subscrever, “uma iniciativa suprapartidária”, sublinha, pode constituir-se como mais um contributo.

“Ir além da questão da violência”

Outros deputados constam da lista de subscritores: Paula Teixeira da Cruz e Cristóvão Norte (PSD), Alexandre Quintanilha, Isabel Moreira e João Torres (PS), Teresa Caeiro e Ana Rita Bessa (CDS-PP), André Silva (PAN), Joana Mortágua e Zuraida Soares (BE, sendo esta última deputada da Assembleia Legislativa dos Açores). Mas a ideia partiu do deputado Luís Monteiro, 23 anos, do BE.
“Achei que fazia sentido reunir pessoas de diferentes quadrantes políticos e sociais, ir além da questão da violência física, que por vezes está associada à praxe, e que é a mais noticiada”, conta o deputado.
No mês em que se iniciam as candidaturas às universidades e politécnicos do país, a ideia da carta aberta “contou logo com o apoio de grande parte dos deputados” que contactou. E, à medida que foi falando com pessoas fora do universo da política, mais se lhe juntaram, com mais contributos. Em cerca de três semanas chegou aos 100 nomes.

A praxe, tal como existe no que tem de pior, é um sinal de que as marcas de cerveja ganharam à cultura, que era a marca forte da população estudantil."Jacinto Lucas PiresLuís Monteiro espera que a carta consiga sensibilizar todas as instituições para que até ao início do próximo ano lectivo consigam “organizar outras formas de recepção e de integração” dos alunos. É que para muitos dos seus colegas, de outras cidades, que conheceu nos seus primeiros dias de estudante da Universidade do Porto, “a praxe foi mesmo a única forma que lhes foi apresentada”.

Ele recusou ser praxado, o que fez com que demorasse mais algum tempo a conhecer os seus colegas. “Quando chegava pelas 8h30 da manhã, eles já estavam em praxe desde as 7h30.” Não foi complicado, estava na sua cidade, tinha amigos, sentia-se acompanhado, lembra. Os novos amigos acabaram por surgir na mesma.

Nem alegria, nem irreverência

O escritor Jacinto Lucas Pires, 41 anos, chegou à universidade no início da década de 90. Um professor dava uma aula, e no fim não era um professor mas um aluno mais velho. Os caloiros eram chamados ao palco, mas quem não queria não ia — em suma, a sua praxe nada teve de traumatizante. Por isso, a razão pela qual assina a carta aberta é esta: “A praxe, tal como existe no que tem de pior, é um sinal de que as marcas de cerveja ganharam à cultura, que era a marca forte” da população estudantil.
Mais: a praxe das “procissões humilhantes no Rossio, dos estudantes de gatas” não tem “nem alegria, nem originalidade, nem irreverência”. O escritor não defende que se acabe com a ideia de praxe, o que queria era que as universidades recebessem as pessoas “fazendo-as sentir em casa, com alegria”. E por isso assinou a carta.
Ana Zanatti, que recentemente lançou um livro, O Sexo Inútil, onde a personagem principal lhe relata uma praxe “muito marcante, a que foi submetida à entrada da universidade”, sublinha outro ponto a que se refere esta carta aberta: a importância de haver canais para os alunos se queixarem se forem alvo de abusos.

Em muitos casos a praxe envolve processos de intimidação, de diminuição dosjovens da sua capacidade como adultos, e tem havido casos extremos.”


Alexandre Quintanilha


No seu tempo (finais de 1960), Zanatti não se lembra de haver praxe na Universidade de Lisboa. O arqueólogo Luís Raposo (entrou em 73/74) também não, “mas havia antipraxistas”, recorda o presidente do Conselho Internacional dos Museus, que não olhava com bons olhos para os costumes da comunidade estudantil de Coimbra. “Quase que parecia mal, em Lisboa, aderir à praxe, andar com aqueles sobretudos, todo o folclore, o próprio conceito de caloiro não existia. Estávamos todos no mesmo barco, todos na mesma agitação.”

“Um grito de alerta”

Só que nos últimos anos, diz o arqueólogo, algo mudou. “Tem havido um retrocesso nos costumes que me inquieta. As indumentárias, a praxe, os rituais, a hierarquia, por todo o lado, muito visível. O que aconteceu à nossa sociedade para que se sinta tanta falta destes rituais?” Para não falar “das humilhações, dos abusos”. E remata: “Assinar esta carta, para mim, é um grito de alerta e ao mesmo tempo de revolta contra as humilhações.”
Rui Unas, actor, humorista, produtor, resume assim o seu apoio à missiva: “Assinei por uma questão de justiça”, as pessoas “devem poder escolher”. Alexandre Quintanilha, deputado do PS, segue a mesma linha. Admite que “haja uma cerimónia para os novos alunos”, o problema é outro: “Em muitos casos a praxe envolve processos de intimidação, de diminuição dos jovens da sua capacidade como adultos, e tem havido casos extremos.” Aliás, lembra, “já houve pessoas que morreram”.
Manuel Loff, historiador, entrou na Universidade do Minho como estudante nos anos 1980, quando o ensino superior se começou a massificar e, explica, a praxe começou a “ser reabilitada” pela mão das organizações juvenis situadas mais à direita. “Recusei participar aos 17, aos 18, aos 19.”
Do Minho passou para o Porto, onde foi presidente da associação de estudantes da sua faculdade. “Éramos uma lista da esquerda plural e não nos assumíamos contra a praxe, porque na lista havia divisões entre nós: eu era clarissimamente contra, mais muitos dos meus colegas não eram, e o que dizíamos era que não tínhamos que colaborar minimamente, nem gastar dinheiro, com aquilo que não era uma actividade consensual entre os estudantes.”

Não me sujeitei à praxe e não deixei de fazer amigos por causa disso.”Clara Sottomayor


Nos anos 90, “a praxe ganhou uma grande popularidade”, continua. “Uma percentagem muito significativa dos jovens portugueses chegam ao ensino superior, e os seus pais têm um enorme orgulho, como compreendemos. A praxe, o traje académico, a pasta são símbolos dessa entrada.” Mas esta praxe que entra pelo século XXI adentro não é nova. “Vem acompanhada do que sempre teve, historicamente — da humilhação de natureza sexual, de um misto da hierarquia e disciplina militar.”

Hoje, o professor universitário lamenta ver “uma total falta de coragem na abordagem deste tema da parte de alguns reitores e directores e administradores das instituições de ensino superior”. Também espera que a carta aberta seja mais um contributo para o debate.»

(reprodução de notícia Público online, de 05/07/2016)

[cortesia de Nuno Soares da Silva]