«O reitor da Universidade de Lisboa criticou hoje as políticas para o ensino superior, que não acredita serem "obra do acaso", mas sim "opção estratégica", referindo a redução orçamental e defendendo que "há um limite que não é possível ultrapassar".
Na cerimónia de abertura do ano académico 2014-2015, que hoje decorreu na reitoria da Universidade de Lisboa, e na qual foi entregue o prémio Universidade Lisboa 2014 ao professor universitário Adriano Moreira, o reitor António Cruz Serra, que assina também o primeiro ano à frente da universidade, criticou os "sucessivos constrangimentos" a que a instituição teve que se adaptar.
Referiu, entre outros, a impossibilidade de aumentar o valor da massa salarial acima do estipulado para o ano anterior -- determinação que volta a ser imposta no Orçamento do Estado para 2015 -- e que "pode redundar em redução de efectivos e envelhecimento"; as cativações feitas às receitas próprias das universidades, ou da "atrofia progressiva do orçamento, que reduziu em mais de metade" o valor com o qual as instituições podiam contar há quase 10 anos.
"Tivemos que lidar com variações imprevistas, com cortes não explicados, com compensações de critérios obscuros", declarou o reitor, sublinhando que só no último ano a universidade teve que alterar por três vezes o valor do ordenado dos funcionários.
Recordou ainda a promessa ainda não cumprida do primeiro-ministro de conceder mais autonomia às universidades, e criticou a manutenção do estatuto de fundação para algumas universidades, "um estatuto jurídico cuja extinção foi anunciada" e que "continua a merecer tratamento preferencial, não havendo qualquer racional de qualidade ou bom governo que permita às restantes instituições beneficiarem das mesmas condições preferenciais".
"Como não acredito que tudo isto seja obra do acaso, estou em crer que se trata de uma expressão de escolha e de uma opção estratégica, cujo equilíbrio não podemos deixar de pôr em causa", declarou António Cruz Serra.
O reitor disse ainda que o ano académico se inicia "num Portugal enevoado e triste, que ainda não soube ultrapassar a crise que vem vivendo".
"Um Portugal que, mantendo o desinvestimento na educação, e desvalorizando a função do ensino superior, regista preocupantes níveis de desemprego e emigração, sobretudo afectando os mais jovens", declarou.
Afirmando a disponibilidade da universidade para ajudar a criar novas empresas, o reitor recordou que foram alguns dos diplomados da instituição que formaram empresas como a EDP, a PT, ou a TAP.
"É inquietante testemunharmos que nem sempre somos capazes de preservar tudo aquilo que construímos. Temos de avaliar e tirar consequências. Aprender a lição e prosseguir", disse.»
(reprodução de notícia Negócios online, de 16 Outubro 2014)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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