terça-feira, 17 de junho de 2014

"Trabalhar numa multinacional garante melhor salário"

«Experiência é considerada “valiosa” pelos empregadores em Portugal, concluem investigadores das universidades de Coimbra, Groningen e CBS.
Uma experiência de trabalho numa multinacional garante maiores probabilidades de vir a obter um melhor salário. A prova consta de uma investigação feita em Portugal que conclui: "Os ensinamentos colhidos num lugar de responsabilidade de gestão de uma empresa multinacinal é algo de relevante" para os futuros empregadores, que consequentemente pagam salários mais altos, explica Miguel Torres Preto, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigador do IN+/IST, um dos três co-autores juntamente com o alemão Wolfgang Sofka, da CBS - Copenhagen Business School, e Pedro de Faria, outro português, que está na Universidade de Groningen(Holanda), do estudo "Quando as subsidiárias das multinacionais encerram: qual é o valor do capital humano dos empregados nos novos empregos?". A resposta à pergunta que orientou o estudo é dada num artigo que já está ‘online' e será publicado em papel no JIBS - "Journal of International Business Studies" e resume-se a uma palavra: "valioso", explica o mesmo investigador.
Os empregados "adquirem conhecimento, competências e outras características" (o chamado capital humano), começa por explicar Miguel Torres Preto, e o que se passa, na prática, é que os "empregadores fixam os salários com base em sinais relativos à produtividade esperada dos empregados" e esperam que os que passaram por multinacionais produzam mais. Porquê? Porque se valoriza a produtividade da empresa que fecha. Embora possa parecer estranho falar de produtividade de uma empresa que encerra as portas, "as subsidiárias das multinacionais são avaliadas em comparação com as suas congéneres e com empresas de outros países que recebem multinacionais", refere o investigador português. Ou seja, "num país onde fecham estas empresas podem ser consideradas muito produtivas comparativamente com outras empresas a trabalhar em Portugal", acrescenta.
Empregadores esperam beneficiar com contratação
De acordo com esta investigação, feita entre 2005 e 2009, tendo como amostra cerca de 110 mil trabalhadores que ficaram desempregados devido ao fecho de empresas (nacionais e subsidiárias de empresas multinacionais), os empregadores esperam beneficiar da contratação daquele empregado, que é encarado como tendo, à partida, mais valor, por isso estão dispostos a pagar-lhe mais.
Esta investigação, que se centra só em Portugal, partiu da observação de alguns exemplos de fecho de subsidiárias de empresas multinacionais e dos protestos devido aos casos de desemprego associados, como foi o caso do encerramento da Qimonda em Portugal, mas também do centro de I&Dda Merck Organon na Holanda ou da deslocalização da produção de telemóveis da Nokia da Alemanha para a Roménia.
As conclusões deste estudo referem-se a trabalhadores com funções de gestão/supervisão, portanto o que aparece valorizada é a gestão, ou seja, a posição de relevo ocupada nos lugares de topo e não nos quadros abaixo. Só assim se considera que os trabalhadores adquiriram conhecimentos e competências dentro da multinacional que podem ser replicados.
No entanto, há uma ressalva feita pelos autores e que tem a ver com a antiguidade do trabalhador na empresa multinacional, que fornece sinais negativos "porque sugere uma maior especifidade do capital humano adquirido na empresa", explica o professor da Universidade de Coimbra.
Por outro lado, o capital estrangeiro da subsidiária que fecha fornece sinais positivos desde que em níveis intermédios. "Mais uma vez, a questão da excessiva especificidade do capital humano pode ser pernicioso no salário na nova empresa, quando as subsidiárias são totalmente (ou em grande maioria) detidas por capital estrangeiro", sublinha Miguel Torres Preto.
Os investigadores seguiram os trabalhadores no seu novo emprego comparando os seus salários consoante vinham de empresas nacionais ou de subsidiárias multinacionais.»
(reprodução de notícia Económico online, de 16/06/14 - CARLA CASTRO)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]

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