«As crianças de famílias com baixos rendimentos conseguem melhores resultados escolares quando aprendem duas línguas, pois desta forma treinam o cérebro e a concentração, revela um estudo de uma investigadora portuguesa.
O estudo, desenvolvido pelas Universidades do Minho, do Luxemburgo e de York (Canadá) e publicado na revista "Psychological Science", revela que as crianças bilingues em famílias de baixos rendimentos têm mais facilidade em direcionar e centrar a sua atenção, comparativamente com crianças monolingues, em resultado do treino do cérebro.
Os investigadores quiseram avaliar de que forma o domínio de duas línguas influenciava as funções mentais destes grupos, e concluíram que o bilinguismo treina o cérebro, fortalecendo funções cognitivas importantes para a aprendizagem.
A investigadora portuguesa envolvida no estudo, Anabela Cruz-Santos, explicou à Lusa que a necessidade de mudar de língua frequentemente ativa um mecanismo cerebral - sistema de controlo executivo - que ajuda a orientar a atenção e manter o foco.
O enfoque deste estudo está, no entanto, relacionado com as crianças de baixo estatuto sócio-económico, já que estudos anteriores haviam revelado que crianças bilingues provenientes de estatutos sócio-económicos elevados tinham melhores resultados de aprendizagem.
A dúvida residia em saber se esse desempenho resultava do bilinguismo ou do facto de essas crianças serem "provenientes de ambientes estimulantes e cognitivamente enriquecidos".
Esta investigação veio mostrar, "pela primeira vez", que a vantagem cognitiva está relacionada com o bilinguismo, já que se encontra também nas crianças de famílias de baixo estatuto sócio-económico.
Partindo deste pressuposto, de que a aprendizagem de várias línguas "pode ter um efeito profundo em certas funções cerebrais importantes para a aprendizagem", Anabela Cruz-Santos considera que se pode "considerar fundamental o ensino de línguas estrangeiras nas escolas em Portugal, tal como já se faz noutros países".
Para este estudo, intitulado "Bilingualism enriches the poor: Enhanced cognitive control in low-income minority children", os investigadores acompanharam 80 alunos do segundo ano de escolaridade provenientes de famílias de baixos rendimentos.
Metade deste grupo era descendente de emigrantes no Luxemburgo, originalmente do norte de Portugal, e falava português e o alemão ou o dialeto alemão do Luxemburgo, diariamente, enquanto a outra metade vivia no Norte de Portugal e só falava português.»
(reprodução de notícia JORNAL DE NOTÍCIAS online, de 2012-09-19)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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