terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A universidade empreendedora

O desenvolvimento da capacidade empreendedora da Universidade é um desafio importante. É importante porque o seu sucesso depende largamente dessa capacidade. Empreender na Universidade implica uma postura que reconheça o conhecimento como um bem que se cria, desenvolve e transmite. Convencionalmente, a transmissão pode ser feita para os alunos, mas pode também envolver a comercialização de serviços e produtos no mercado. Se isto é verdade nas universidades das sociedades mais desenvolvidas mais verdade o é num contexto de escassez de financiamento público e pressão para gerar receitas próprias. Simultaneamente, as transformações em curso no mercado de trabalho obrigam ao fomento do espírito empreendedor do aluno, não só pela crescente instabilidade e insegurança dos percursos profissionais, mas também pela incapacidade das empresas instaladas absorverem toda a mão-de-obra disponível. O desenvolvimento duma Universidade empreendedora pode ser alcançado por três vias que não são substitutas mas sim complementares.

Numa dessas vias, desenvolver o empreendedorismo na Universidade implica, em primeiro lugar, criar uma cultura de risco, procura e descoberta. Fomentar essa cultura passa, por exemplo, pela inovação nos métodos de ensino e de aprendizagem. Quando esses métodos incentivam o aluno a ser autónomo, independente e a procurar mais activamente respostas, estão a contribuir para fomentar o espírito empreendedor, não só do aluno, mas também do docente que tem assim que recorrer a métodos diferentes que envolvem mais experimentação e risco. Uma Universidade pode assim criar um círculo virtuoso em que a exigência dos docentes orientada para ensinar num ambiente criativo e empreendedor fomenta a exigência dos alunos para aprender nesse ambiente. Esta via para tornar a Universidade empreendedora é importante mas não suficiente.

É também necessário que uma cultura empreendedora seja incentivada por programas de formação sobre criação de empresas e lançamento de novos negócios. A formação em empreendedorismo é hoje tão necessária a um aluno de gestão ou de economia, como a um aluno de engenharia ou letras. Em últimas instâncias, empreender contribui para ganhos de natureza económica como a criação de riqueza, assegurar rendimentos ou ocupação profissional, mas também ganhos de natureza socio-psicológica frequentemente associados a estilos de vida, realização pessoal, autonomia ou altruísmo. Os programas de empreendedorismo deverão estar claramente vocacionados para fornecer enquadramentos e ferramentas que facilitem a criação de condições para o sucesso empresarial.

Finalmente, a terceira via obriga a que a Universidade como organização seja também ela empreendedora, não só nos seus programas de formação, mas também na sua forma de actuação. A Universidade deve, por exemplo, ser capaz de comercializar muitos dos seus serviços e empresarializar algumas das suas estruturas. Na verdade, o mercado ajuda a testar o valor de alguns serviços da Universidade. Pelo menos assim tem sido e não parece haver forma de inverter esta tendência. Sem por em causa a sua missão, a Universidade precisa de repensar a sua oferta e os seus mercados. Muitos dos mercados e serviços em que a Universidade não está ainda presente requerem novas estruturas, sistemas e estratégias. Requerem uma abordagem empreendedora que incentive a inovação e compense o esforço.

As três vias para desenvolver uma Universidade empreendedora são importantes. Nenhuma substitui as outras duas. Elas complementam-se.


Artigo publicado originalmente no umjornal, ano 2, n.º 11, 1 de Abril de 2004, p. 2.

Vasco Eiriz

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