«No passado dia 8 de
junho de 2016, o jornal o público publicou, em primeira página, “Governo admite
abrir doutoramentos nos institutos politécnicos”.
Este
é, efetivamente, desde há muito anos, um desejo e uma luta de muitos Institutos
Politécnicos: conhecer os critérios objetivos para o fazer de igual modo com as
universidades, sem ser discriminado pelo nome e estatuto, como tem sido até
aqui.
Mas
“o essencial é invisível aos olhos” e temos de procurar ler para além da casca
da árvore. Entretanto, perante a reivindicação de alguns Politécnicos em se
quererem transformar em Universidades, o Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior (MCTES), Professor Manuel Heitor, “virou” político e está a
oferecer alguns rebuçados aos Politécnicos que designa de “maiores”. “O
Público” acrescenta, na manchete, que “os cursos terão natureza profissional”.
Portanto, não parecem ser doutoramentos iguais aos das universidades. O
adjetivo desclassifica. Tirando os EUA onde esta designação trouxe vários
problemas, no mundo inteiro, um doutoramento é um doutoramento (PhD). Tenha muito
ou pouco trabalho empírico (que raio é isso dum doutoramento profissional?),
mais ou menos descoberta teórico-prática, o grau deve ser reconhecido em todo o
mundo e não, apenas, nas empresas portuguesas.
Para
alguns mais distraídos, esta notícia pode indiciar um bom primeiro passo. Para
nós, trata-se de um rebuçado; um presente envenenado: doutoramentos
profissionais? E os outros não o são? O doutoramento em medicina [aqueles que o
têm, porque nem todos são doutores ao contrário do que pensa o senso comum] não
é profissional, também? Então por que se pode obter, apenas, nas universidades?
“Com
papas e bolos se enganam os tolos”. Esta resposta do MCTES reforça a
desigualdade entre os dois subsistemas de ensino superior e surge para entreter
a malta e como resposta aos factos evidentes: há politécnicos com mais
condições científicas que algumas universidades. "Os doutoramentos dos
politécnicos serão diferente daqueles que, até agora, têm sido atribuídos em
exclusivo nas universidades, assumindo uma natureza profissional e maior ligação
às empresas", continua o Público. Ora a moeda ["científica"] tem
de ser única para não valer menos. E para ser reconhecida internacionalmente...
Segundo
o mesmo jornal, “o entendimento do Governo é o de que os politécnicos
correspondem à fileira profissional dentro do ensino superior e, portanto,
devem poder ter cursos de doutoramento com uma componente profissional ou
tecnológica. Desta forma seria possível um alargamento dos programas doutorais
feitos em parceria com empresas, que têm um peso pouco significativo no sistema
de ensino superior português." Trata-se, outrossim, de reforçar a discriminação
(negativa) entre os dois subsistemas. Falta de coragem, Sr. Ministro...? A quem
vai servir este doutoramento? Às empresas? Para ingressar na carreira do
Politécnico como docente?
"Ao
mesmo tempo que estuda a possibilidade de os politécnicos passarem a atribuir
doutoramentos, o ministro Manuel Heitor recusa, por completo, a possibilidade
de transformação de alguns politécnicos em universidades, uma solução que tem
vindo a ser reivindicada pelos três maiores institutos (Porto, Lisboa e
Coimbra)" (Público de 8 junho 2016). Ora aí está a continuidade, nesta
matéria, do que havia feito Nuno Crato. Pois é, o governo não sabe o que fazer
aos Politécnicos do Porto, Coimbra e Lisboa que se desvincularam do CCISP por
não se identificarem com médias de entrada no ensino superior diferentes das da
universidade. Pena que Leiria não se tenha desvinculado, também. Pena que o
Jornal o Púbico só fale da reivindicação de passagem a Universidade por parte
do IPPorto, IPCoimbra e IPLisboa. E Leiria? O IPLeiria já não quer?
"Porto,
Lisboa, Coimbra ou Leiria estarão, neste momento, em condições de cumprir as
obrigações para que um programa doutoral seja acreditado" (Público de 8
junho 2016). "Ou Leiria", senhor jornalista, senhor MCTES? Sobre os
outros há certezas e sobre Leiria não? Leiria surge após o "ou" que é
bem diferente da conjunção copulativa "e"... Tirem as vossas
conclusões.
Qualquer
doutoramento atribuído em Portugal, por um politécnico, será sempre
desvalorizado completamente (internamente) e discriminado e ignorado
internacionalmente. O título internacional é PhD. Doutoramento [ponto]. Qual
profissional qual empresarial qual académico... PhD!!!!! Doutoramento!
Por
favor, não desgastem nem estraguem as palavras, senhores governantes e
apoiantes desta perspetiva altamente discriminatória.
"É
MELHOR MERECER AS HONRAS SEM RECEBÊ-LAS DO QUE RECEBÊ-LAS SEM MERECÊ-LAS."
(Mark Twain)»
RICARDO VIEIRA,
PROFESSOR DECANO DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA
(reprodução de artigo de opinião JORNAL DE LEIRIA, de 15 Junho 2016)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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