«A globalização tem sido um tema debatido sob diversas perspetivas. Tem causado inclusivamente alguns confrontos de opinião. Muitas vezes parece que os termos “global” e “globalização” continuam a ser o contar da história ou a fixação da narrativa dos vencedores. Noutras, o conceito “global” aparece exatamente para referir o contrário, ou seja, a existência de uma pluralidade de vozes que contribuíram para a construção de espaços comunicantes e múltiplos, porém ligados entre si.
Na verdade, a globalização é um assunto que é parte da vida de cada indivíduo. É uma tendência a que não se pode resistir, mas à qual se tem de aprender a responder. São líderes neste processo os que mais rapidamente se souberam situar e enfrentar a este desafio. Claro que uns países estão mais interessados que outros no processo e que umas instituições são mais favorecidas que outras por esta tendência.
Na passada sexta-feira e a pretexto da visita de David Malone, reitor da Universidade das Nações Unidas, o Instituto Internacional Casa de Mateus realizou um jantar debate, refletindo sobre estas questões. Estiveram presentes diversas universidades e instituições científicas e culturais: CRUP (conselho de Reitores das Universidades Portuguesas), CYTED (Programa de Ciência e Tecnologia Ibero-Americano para o Desenvolvimento), Fundação Calouste Gulbenkian, ISCTE-IUL, Universidade de Lisboa, Universidade do Minho, Universidade do Porto e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Muitas foram as questões aí levantadas, da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade necessárias para compreender os fenómenos globais à função social e ao envolvimento da universidade com a comunidade envolvente. Também a democratização no acesso ao conhecimento e as novas estratégias de digitalização no exercício da cidadania constituíram temas em cima da mesa (lembre-se que o projeto que une a Universidade do Minho à Universidade das Nações Unidas, no seu Pólo em Guimarães, é exatamente na área da “e-government”).
No fundo, tal como outras instituições e cada um de nós, a universidade tem sido confrontada com mudanças rápidas, conseguindo adaptar-se mais rapidamente a uns aspetos que a outros. Contudo, parece claro que as acessibilidades ao conhecimento e à participação cívica não são garantidas apenas porque vivemos num tempo de interações globais. Quer isto dizer que a democratização no acesso às instituições não está garantida porque esta se encontra apenas à distância de um clique. Porque para fazer esse clique, mais do que ter acesso à devida tecnologia, é necessário compreender as implicações desse mesmo ato. Só cidadãos conscientes poderão ser exercer uma cidadania exigente e consentânea com os seus direitos.
Assim, a aposta no acompanhamento da globalização não nos torna líderes naturais deste processo. Apenas pode ditar que fiquemos mais ou menos adaptados a algo que é inevitável. Assim, discutir e responder aos desafios da globalização é um passo que temos de dar. E nunca houve melhores respostas que aquelas que são preparadas. A reflexão ocorrida na Casa de Mateus é parte de uma atitude positiva para enfrentar os tempos que se avizinham.»
Cátia Miriam Costa - Investigadora do Centro de Estudos Internacionais, ISCTE – IUL
(reprodução da artigo de opinião HOJE Digital, de 18/03/2016)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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