São conhecidos os candidatos a Reitor da Universidade do Minho e os respectivos programas de acção. Neste momento importante na vida da Universidade, importa saber o que cada um dos candidatos propõe.
A leitura atenta dos programas permite, desde logo, identificar duas posturas claramente distintas face ao presente acto eleitoral. Enquanto o Professor António Cunha nos propõe um programa de acção baseado em estratégias e vectores de actuação bem definidos e cobrindo as áreas mais relevantes na Universidade, o Professor Artur Águas propõe-nos uma abordagem aberta, a construir ao longo do tempo, face ao conhecimento da UM e em interacção com o Conselho Geral e outros orgãos. Não é nada que nos surpreenda, face aos curricula dos dois candidatos, um com grande conhecimento da instituição, o outro com ideias gerais potencialmente interessantes, mas muito menos conhecedor da casa.
Os programas carecem, contudo, e na minha opinião, do esclarecimento de alguns aspectos porventura muito importantes para o futuro próximo. Desde logo:
1. Financiamento
Nos dois últimos mandatos reitorais, foram recorrentes as referências públicas às graves dificuldades que a Universidade viveria, colocando-se mesmo a possibilidade de a instituição não ter recursos para pagar a totalidade dos salários aos seus colaboradores. Hoje sabe-se, pelo conhecimento preciso das contas e da situação financeira actual da Universidade [http://www.uminho.pt/uploads/Mapas_Prestacao_Contas_UM2008.pdf], que não haveria razão para esse alarmismo, e que tal terá servido principalmente para justificar medidas de gestão que poderão ser questionáveis.
Todavia, há que reconhecer que a situação financeira e as perspectivas económicas da UM não são, como para o resto das universidades portuguesas, tão boas quanto o eram em 2002. Pelo que, importará ver o que os candidatos dizem a esse respeito.
O Professor Artur Águas parece não atender a esta problemática, pois não lhe dedica nenhuma ênfase no seu programa.
O Professor António Cunha manifesta estar atento ao problema, dedicando-lhe um dos vectores de actuação (V6 – Garantir o equilíbrio financeiro). Contudo, para além de medidas de reorganização administrativa na área contabilística que reconhecidamente urgem, pouco se antevê sobre a forma como pensa conseguir a sustentabilidade financeira da instituição, pelo menos durante os 4 anos do mandato. Aumentar número de estudantes não se faz só por se querer, implica medidas, que faltam, a meu ver, explicitar. Racionalizar o portefólio de unidades curriculares é algo de essencial, que vai permitir optimizar recursos humanos, nomeadamente de docentes, libertando-os mais para actividades de investigação e ligação à comunidade. Será positivo, mas haverá ideias concretas de como o fazer? Ou apenas princípios gerais que todos comungarão, mas poucos se sentirão capazes de implementar? Nada refere, por outro lado, o
Professor António Cunha em relação à forma de incrementar a captação de receitas próprias. Depois de em 2006 a Reitoria ter retido os saldos dos centros de custo mais produtivos, gerando um profundo desconforto na instituição e uma desmotivação para a captação continuada de receitas próprias, que pretende o Professor António Cunha fazer para inverter esta situação e aumentar o grau de empenho dos docentes nesta tarefa tão importante de angariar recursos adicionais?
2. Investigação
Os candidatos dedicam parte importante dos seus programas a esta área. Enquanto o Professor António Cunha exibe a ambição de tornar a UM uma universidade centralizada na investigação, o Professor Artur Águas manifesta uma postura mais prudente, não lhe dando esse pendor, mas reconhecendo-lhe a sua importância vital.
Há vários sectores e ideias em que assentam os dois programas, nesta área. Importaria contudo saber como consolidar a investigação: com que meios financeiros e com que meios humanos? Com que nível de preocupação para que a investigação sirva os interesses da comunidade, sendo útil? São aspectos que estão longe de ser claros nos programas, e que, no período pré-eleitoral, deveriam ser melhor explicados.
O Professor Artur Águas dá forte importância ao apoio aos investigadores, dedicando-lhe o ponto 10. do seu programa. Porventura desconhecerá que a UM já possui um GAP (Gabinete de Apoio a Projectos). Todavia, comunga do sentir da generalidade dos investigadores da UM, quanto à escassez de verdadeiros apoios, apesar de os recursos humanos e financeiros dedicados à componente administrativa da UM terem significativamente crescido nos últimos anos. Importa saber, mais em pormenor, o que os candidatos se propõem fazer nesta matéria tão importante.
3. Avaliação
Enquanto o programa do Professor Artur Águas é praticamente omisso nesta matéria, o Professor António Cunha manifesta reconhecer-lhe a importância devida, certamente porque atento às implicações decorrentes do novo ECDU.
Nesta matéria, intimamente ligada ao sistema de gestão interno da qualidade, é fundamental saber-se o que pensam os candidatos, nomeadamente na forma como entendem dever conduzir o inerente processo de implementação. Uma questão crucial é saber-se qual o nível de participação que vai ser requerido aos agentes, nomeadamente docentes e demais colaboradores, por forma a tornar eficaz e bem assumidas as decisões que vierem a ser tomadas. Espera-se que, em matéria tão relevante, os candidatos não aceitem como eficazes actuações do tipo top-down, bem características, de resto, da forma de gerir a UM nos últimos anos, na minha opinião, nem sempre com os melhores resultados.
4. Vida nos campii
Também nesta vertente, apenas o Professor António Cunha avança com algumas ideias, muitas das quais me parecem genericamente válidas.
Seria contudo desejável conhecer-se, com maior pormenor, medidas concretas que os candidatos entendam oportunas e passíveis de ser realmente implementadas durante o mandato.
Parecem flagrantes os constrangimentos ao nível de estacionamento de viaturas, graves erros de acessibilidade aos campii para os peões, bem como deficiências importantes ao nível dos arranjos exteriores e da qualidade interna dos edifícios, que urge colmatar rapidamente.
Seria importante saber o que os candidatos propõem, em concreto, nesta matéria.
5. Informação
A informação é fundamental para permitir e mesmo garantir a eficácia da participação activa de todos agentes nas instituições de cariz democrático, como são as universidades.
Parecem-me ainda grandes as dificuldades que a este nível se sentem, apesar de algumas melhorias introduzidas nos últimos anos. Pouco é dito pelos candidatos a este respeito. Convinha, todavia, saber que medidas estão no seu pensamento, para incrementar o nível de informação interno na UM e, desta forma, estimular a participação de todos na vivência plural que se exige.
Julgo que estas, e outras questões, deverão ser respondidas à Academica pelos candidatos, pela forma que entenderem mais adequada. As eleições para Reitor da Universidade do Minho serão decididas por 23 eleitores, membros do Conselho Geral.
Não se devem, contudo, resumir ao âmbito restrito daquele orgão de governo. Se tal contecer, será o próprio acto eleitoral que ficará, a meu ver, diminuído de valor, enfraquecendo, de alguma forma, o Reitor que vier a ser eleito e inevitavelmente a Universidade como um todo.
Guimarães, 21 de Setembro de 2009
A leitura atenta dos programas permite, desde logo, identificar duas posturas claramente distintas face ao presente acto eleitoral. Enquanto o Professor António Cunha nos propõe um programa de acção baseado em estratégias e vectores de actuação bem definidos e cobrindo as áreas mais relevantes na Universidade, o Professor Artur Águas propõe-nos uma abordagem aberta, a construir ao longo do tempo, face ao conhecimento da UM e em interacção com o Conselho Geral e outros orgãos. Não é nada que nos surpreenda, face aos curricula dos dois candidatos, um com grande conhecimento da instituição, o outro com ideias gerais potencialmente interessantes, mas muito menos conhecedor da casa.
Os programas carecem, contudo, e na minha opinião, do esclarecimento de alguns aspectos porventura muito importantes para o futuro próximo. Desde logo:
1. Financiamento
Nos dois últimos mandatos reitorais, foram recorrentes as referências públicas às graves dificuldades que a Universidade viveria, colocando-se mesmo a possibilidade de a instituição não ter recursos para pagar a totalidade dos salários aos seus colaboradores. Hoje sabe-se, pelo conhecimento preciso das contas e da situação financeira actual da Universidade [http://www.uminho.pt/uploads/Mapas_Prestacao_Contas_UM2008.pdf], que não haveria razão para esse alarmismo, e que tal terá servido principalmente para justificar medidas de gestão que poderão ser questionáveis.
Todavia, há que reconhecer que a situação financeira e as perspectivas económicas da UM não são, como para o resto das universidades portuguesas, tão boas quanto o eram em 2002. Pelo que, importará ver o que os candidatos dizem a esse respeito.
O Professor Artur Águas parece não atender a esta problemática, pois não lhe dedica nenhuma ênfase no seu programa.
O Professor António Cunha manifesta estar atento ao problema, dedicando-lhe um dos vectores de actuação (V6 – Garantir o equilíbrio financeiro). Contudo, para além de medidas de reorganização administrativa na área contabilística que reconhecidamente urgem, pouco se antevê sobre a forma como pensa conseguir a sustentabilidade financeira da instituição, pelo menos durante os 4 anos do mandato. Aumentar número de estudantes não se faz só por se querer, implica medidas, que faltam, a meu ver, explicitar. Racionalizar o portefólio de unidades curriculares é algo de essencial, que vai permitir optimizar recursos humanos, nomeadamente de docentes, libertando-os mais para actividades de investigação e ligação à comunidade. Será positivo, mas haverá ideias concretas de como o fazer? Ou apenas princípios gerais que todos comungarão, mas poucos se sentirão capazes de implementar? Nada refere, por outro lado, o
Professor António Cunha em relação à forma de incrementar a captação de receitas próprias. Depois de em 2006 a Reitoria ter retido os saldos dos centros de custo mais produtivos, gerando um profundo desconforto na instituição e uma desmotivação para a captação continuada de receitas próprias, que pretende o Professor António Cunha fazer para inverter esta situação e aumentar o grau de empenho dos docentes nesta tarefa tão importante de angariar recursos adicionais?
2. Investigação
Os candidatos dedicam parte importante dos seus programas a esta área. Enquanto o Professor António Cunha exibe a ambição de tornar a UM uma universidade centralizada na investigação, o Professor Artur Águas manifesta uma postura mais prudente, não lhe dando esse pendor, mas reconhecendo-lhe a sua importância vital.
Há vários sectores e ideias em que assentam os dois programas, nesta área. Importaria contudo saber como consolidar a investigação: com que meios financeiros e com que meios humanos? Com que nível de preocupação para que a investigação sirva os interesses da comunidade, sendo útil? São aspectos que estão longe de ser claros nos programas, e que, no período pré-eleitoral, deveriam ser melhor explicados.
O Professor Artur Águas dá forte importância ao apoio aos investigadores, dedicando-lhe o ponto 10. do seu programa. Porventura desconhecerá que a UM já possui um GAP (Gabinete de Apoio a Projectos). Todavia, comunga do sentir da generalidade dos investigadores da UM, quanto à escassez de verdadeiros apoios, apesar de os recursos humanos e financeiros dedicados à componente administrativa da UM terem significativamente crescido nos últimos anos. Importa saber, mais em pormenor, o que os candidatos se propõem fazer nesta matéria tão importante.
3. Avaliação
Enquanto o programa do Professor Artur Águas é praticamente omisso nesta matéria, o Professor António Cunha manifesta reconhecer-lhe a importância devida, certamente porque atento às implicações decorrentes do novo ECDU.
Nesta matéria, intimamente ligada ao sistema de gestão interno da qualidade, é fundamental saber-se o que pensam os candidatos, nomeadamente na forma como entendem dever conduzir o inerente processo de implementação. Uma questão crucial é saber-se qual o nível de participação que vai ser requerido aos agentes, nomeadamente docentes e demais colaboradores, por forma a tornar eficaz e bem assumidas as decisões que vierem a ser tomadas. Espera-se que, em matéria tão relevante, os candidatos não aceitem como eficazes actuações do tipo top-down, bem características, de resto, da forma de gerir a UM nos últimos anos, na minha opinião, nem sempre com os melhores resultados.
4. Vida nos campii
Também nesta vertente, apenas o Professor António Cunha avança com algumas ideias, muitas das quais me parecem genericamente válidas.
Seria contudo desejável conhecer-se, com maior pormenor, medidas concretas que os candidatos entendam oportunas e passíveis de ser realmente implementadas durante o mandato.
Parecem flagrantes os constrangimentos ao nível de estacionamento de viaturas, graves erros de acessibilidade aos campii para os peões, bem como deficiências importantes ao nível dos arranjos exteriores e da qualidade interna dos edifícios, que urge colmatar rapidamente.
Seria importante saber o que os candidatos propõem, em concreto, nesta matéria.
5. Informação
A informação é fundamental para permitir e mesmo garantir a eficácia da participação activa de todos agentes nas instituições de cariz democrático, como são as universidades.
Parecem-me ainda grandes as dificuldades que a este nível se sentem, apesar de algumas melhorias introduzidas nos últimos anos. Pouco é dito pelos candidatos a este respeito. Convinha, todavia, saber que medidas estão no seu pensamento, para incrementar o nível de informação interno na UM e, desta forma, estimular a participação de todos na vivência plural que se exige.
Julgo que estas, e outras questões, deverão ser respondidas à Academica pelos candidatos, pela forma que entenderem mais adequada. As eleições para Reitor da Universidade do Minho serão decididas por 23 eleitores, membros do Conselho Geral.
Não se devem, contudo, resumir ao âmbito restrito daquele orgão de governo. Se tal contecer, será o próprio acto eleitoral que ficará, a meu ver, diminuído de valor, enfraquecendo, de alguma forma, o Reitor que vier a ser eleito e inevitavelmente a Universidade como um todo.
Guimarães, 21 de Setembro de 2009
Fernando Castro
Departamento de Engenharia Mecânica
Membro eleito do Senado Académico, aguardando posse
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(reprodução integral de mensagem ontem distribuida universalmente na rede electrónica da UMinho)
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